A boa disponibilidade hídrica é essencial para a obtenção de boas produtividades de soja. Embora o requerimento hídrico da cultura possa variar de acordo com cultivar, ciclo de cultivo entre outros parâmetros, normalmente são necessários de 450mm a 800mm bem distribuídos durante o ciclo da soja para que a necessidade hídrica da cultura possa ser suprida. Além disso, a cultura possui diferentes níveis de exigência hídrica durante seu desenvolvimento, sendo que o maior requerimento hídrico da soja coincide com o período reprodutivo da cultura, onde é possível observar valores de evapotranspiração variando entre 7 a 8 mm.dia-1 (PAS Campo, 2005).

A não disponibilidade hídrica configurando períodos de déficit hídrico pode resultar em significativa redução da produtividade da soja, que conforme destacado por Taiz et al. (2017), assim como as demais plantas, tem como principais impulsos em resposta a períodos de déficit hídrico o fechamento estomático, interrupção da fotossíntese e a interrupção do crescimento (expansão celular), podendo assim, resultar em significativa redução da produtividade da cultura.

A redução da produtividade da soja em consequência a ocorrência de períodos de déficit hídrico foi observada por Barbosa et al. (2015), onde os autores avaliaram a influência do déficit hídrico em parâmetros agronômicos de duas cultivares de soja em condições de campo. Conforme resultados obtidos pelos autores, a ocorrência do déficit hídrico na soja tanto na fase vegetativa quanto reprodutiva da cultura reduziu significativamente a produtividade, independentemente da cultiva. Entretanto, cabe destacar que a maior redução da produtividade da soja foi observada quando as cultivares foram submetidas ao déficit hídrico durante o período reprodutivo do seu desenvolvimento.

Figura 1. Rendimento (kg.ha-1) em plantas das cultivares de soja BR 16 e Embrapa 48 submetidas a diferentes regimes hídricos. EV: estresse hídrico no período vegetativo; ER: estresse hídrico no período reprodutivo; NIRR: não-irrigado; IRR: irrigado.

Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas entre condições hídricas e minúsculas entre cultivares não diferem entre si pelo teste Tukey (p≤0,05). Fonte: Barbosa et al. (2015)

Tendo em vista a importância da boa disponibilidade hídrica para a cultura da soja, fica evidente a necessidade em buscar alternativas que estejam a nosso alcance para minimizar os danos ocasionados por eventuais e/ou futuros períodos de déficit hídrico. Além da adoção da irrigação, uma prática que pode resultar em significativos ganhos especialmente para culturas de sequeiro é investir na formação do sistema radicular das plantas.

Ainda que já tradicionalmente se realize a aplicação de produtos fitossanitários, fertilizantes, bioestimulantes, entre outros via foliar, as raízes são os órgãos da planta cuja principal finalidade além de sustentação e fixação, é a absorção de água e nutrientes do solo. Além do contato entre raízes e solo, o qual é de suma importância para uma adequada absorção de água e nutrientes pelas plantas, cabe destacar que os pelos radiculares são as principais estruturas responsáveis pela absorção de água e nutrientes do solo pelo sistema radicular da planta.

Pelos das raízes são projeções filamentosas das células da epiderme que aumentam significativamente a área de superfície das raízes, proporcionando, assim, maior capacidade para a absorção de íons e água do solo. O exame de indivíduos de trigo de três meses de idade mostrou que os pelos constituíam mais de 60% da área de superfície das raízes (Taiz et al., 2017).

Além disso, os autores destacam que analisando o sistema radicular de uma planta, a maior absorção de água se dá nos tecidos mais jovens, ou seja, raízes em crescimento. Isso porque, a deposição de suberina causa certa impermeabilização das raízes mais antigas, dificultando a absorção de água. Em outras palavras, raízes mais jovens, assim como pelos radiculares absorvem maior quantidade de água.

Figura 2. Taxa de absorção de água para segmentos curtos (3-5 mm) em várias posições ao longo de uma raiz intacta de abóbora (Cucurbita pepo) (A). Diagrama da absorção de água no qual a superfície total da raiz é igualmente permeável (B) ou é impermeável nas regiões mais velhas devido à deposição de suberina, um polímero hidrofóbico (C).

Fonte: Taiz et al. (2017)

Quando as superfícies da raiz são igualmente permeáveis, a maior parte da água entra próximo ao topo do sistema de raízes, com as regiões mais distais sendo hidraulicamente isoladas à medida que a sucção no xilema é atenuada devido ao influxo de água. A diminuição da permeabilidade das regiões mais velhas da raiz permite que as tensões no xilema se estendam além no sistema de raízes, possibilitando a absorção de água por suas regiões distais (Taiz et al., 2017). Embora a espécie em questão ao qual se dirige o diagrama acima (figura 2) seja a Cucurbita pepo, o mesmo é valido para a cultura da soja.

Manejo

Nem sempre é possível elevar a disponibilidade hídrica para uma cultura, com exceção aos casos em que há irrigação. Com isso em vista, deve-se abordar outras estratégias para possibilitar que a planta consiga maior acesso a água. Uma das principais estratégias é promover o melhor crescimento e desenvolvimento do sistema radicular da soja, conforme observado anteriormente, ele é o principal responsável pela absorção de água a nutrientes da solução do solo.

Para promover um bom crescimento e desenvolvimento do sistema radicular da soja, é fundamental que não haja restrição/impedimento físico para o crescimento dessas raízes, também conhecido popularmente como compactação do solo. A compactação do solo, além de restringir o crescimento e desenvolvimento do sistema radicular, limita o volume de solo explorado e com isso a absorção de água a nutrientes.

É conhecido que a água é armazenada nos microporos do solo e que grande parte da água da sua superfície é perdida por evaporação, logo, a grande maioria da água disponível no solo está armazenada nas camadas mais profundas. Com isso em vista, proporcionar condições para que o sistema racial das plantas alcance essas camadas é essencial para mitigar os efeitos ocasionados por períodos de déficit.

Medidas como o uso de plantas de cobertura, o tráfego controlado de máquinas e a descompactação mecânica com a utilização de escarificadores ou subsoladores podem ser tomadas em casos de necessidade evidente de descompactação do solo. Além disso, deve-se atentar para o posicionamento da cultura frente a área de cultivo, uma vez que em áreas com histórico de baixa disponibilidade hídrica durante o período de desenvolvimento da soja, deve-se evitar o cultivo em solos rasos. Cabe destacar que visando reduzir os riscos do cultivo, deve-se sempre seguir as recomendações técnicas para a cultura o os critérios estabelecidos pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático estabelecido pelo MAPA.

Veja mais: Compactação do solo e sua relação com a produtividade da soja

Referências:

BARBOSA, D. A. et al. INFLUÊNCIA DO DÉFICIT HÍDRICO SOBRE PARÂMETROS AGRONÔMICOS DAS CULTIVARES DE SOJA EMBRAPA 48 E BR 16 EM CONDIÇÕES DE CAMPO. VII Congresso Brasileiro de Soja, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/126063/1/R.-142-INFLUENCIA-DO-DEFICIT-HIDRICO-SOBRE-PARAMETROS.PDF >, acesso em: 03/08/2021.

PAS CAMPO. MANUAL DE SEGURANÇA E QUALIDADE PARA A CULTURA DA SOJA. Embrapa, Transferência de Tecnologia, 2005. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/25249/1/MANUALSEGURANCAQUALIDADEParaaculturadesoja.pdf >, acesso em: 03/08/2021.

TAIZ, L. et al. FISIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO VEGETAL. Porto Alegre, ed. 6, 2017.

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