Na safra 2019/20 os produtores têm sofrido com a má distribuição de chuvas, principalmente no sul do país, onde as chuvas foram muito intensas no período de semeadura, prejudicando a prática de cultivo, e atualmente, a falta de chuvas tem sido o principal gargalo, sendo que muitas lavouras já apresentam sintomas característicos do déficit hídrico nessa temporada.

De acordo com a Emater/RS, a produção de soja do RS na safra 2010/2011 teve uma redução de 50% em relação à safra anterior, devido ao déficit hídrico. Já na safra 2018/2019, o estado do Paraná, sofreu com a baixa disponibilidade de água, o que representou 15% da perda total da produção. Com isso, podemos perceber a influência de uma boa distribuição das chuvas ao longo do cultivo da soja.

A exigência diária de água, pela soja, varia conforme o ciclo de desenvolvimento da seguinte maneira:

  • Da semeadura à emergência: 2,2 mm;
  • Da emergência à floração (R1): 5,1 mm;
  • Da floração (R1) ao início da formação de legumes/vagens (R3): 7,4 mm;
  • Da formação de legumes (R3) até à maturação fisiológica (R7): 6,6 mm;
  • Da maturação fisiológica até à colheita (R8): 3,7 mm.

Considerando os diferentes ciclos dos cultivares, isso representa uma necessidade total de água entre 550 a 650 mm por ciclo.

Porém, ao considerarmos todo o período do ciclo da cultura, o maior efeito negativo do estresse hídrico na soja é no estádio R3 a R4, fase de formação de legumes/vagens, cujo período médio é de 15 dias.


Veja também: Soja: Relação Déficit Hídrico e Aminoácidos


De uma maneira geral, a produtividade da soja pode ser afetada por estresses (distúrbios fisiológicos) nas plantas, como desordens nutritivas e hormonais, que reduzem o desenvolvimento e a produção de grãos. Esses estresses, em plantas, são causados por dois tipos de fatores:

Fatores biológicos (bióticos):

  • Ataque de fungos;
  • Bactérias;
  • Vírus;
  • Nematoides;
  • Pragas.

Fatores não biológicos (abióticos)

  • Estiagem;
  • Excesso de chuva (reduz a insolação e o oxigênio no solo);
  • Temperaturas (excessivamente altas ou excessivamente baixas);
  • Deficiência de nutrientes;
  • Salinidade;
  • Acidez do solo;
  • Presença de metais pesados ou tóxicos no solo;
  • Gases poluentes;
  • Radiação ultravioleta;
  • Fitotoxidez por agroquímicos, entre outros fatores.

No Sul do Brasil, a causa de estresse mais frequente na cultura da soja, são as estiagens. E, infelizmente, os fatores climáticos não estão sob controle do produtor. Anualmente, as estiagens causam perdas financeiras significativas em diferentes regiões e por diferentes períodos. Mas, seus efeitos podem ser atenuados mediante a utilização adequada de tecnologias de manejo hoje disponíveis.

 Os principais efeitos do estresse hídrico em soja são os seguintes:

  • Redução da fotossíntese;
  • Redução da fixação biológica de nitrogênio;
  • Distúrbios nutricionais (sem água não há nutrição das plantas;
  • Distúrbios hormonais (menor síntese de hormônios promotores, giberelinas, auxina e citocininas e maior síntese de hormônios inibidores, etileno e ácido abscísico);
  • Antecipação e desuniformidade da floração;
  • Abortamento de flores e legumes/vagens;
  • Retenção foliar/caule verde;
  • Menor formação de sementes no legume/vagem;
  • Senescência antecipada de folhas.

Saiba mais: Déficit hídrico na cultura da soja


Em trabalho realizado por Barbosa et al, 2014, onde avaliou-se o desempenho de duas cultivares de soja, com relação a alguns parâmetros agronômicos em resposta a quatro condições de disponibilidade hídrica a campo, concluiu-se que ambas as cultivares apresentaram redução no rendimento quando submetidas ao estresse.

Veja, nas figuras abaixo, os resultados obtidos pelos autores.

Figura 1. Número de vagens com semente por planta das cultivares de soja BR16 e Embrapa 48 submetidas a diferentes regimes hídricos. EV: estresse hídrico no período vegetativo; ER: estresse hídrico no período reprodutivo; NIRR: não-irrigado; IRR: irrigado. n= 4 ± erro padrão. Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas entre condições hídricas e minúsculas entre cultivares não diferem entre si pelo teste Tukey (p≤0,05).
Figura 2. Rendimento (kg ha-1) em plantas das cultivares de soja BR 16 e Embrapa 48 submetidas a diferentes regimes hídricos. EV: estresse hídrico no período vegetativo; ER: estresse hídrico no período reprodutivo; NIRR: não-irrigado; IRR: irrigado. n= 4 ± erro padrão. Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas entre condições hídricas e minúsculas entre cultivares não diferem entre si pelo teste Tukey (p≤0,05).

Para acessar o trabalho completo, clique aqui.

Já a equipe Field Crops, da UFSM, avaliando resultados de diferentes experimentos, nos alerta que não somente a quantidade, mas também a distribuição das precipitações durante a estação de crescimento pode explicar diferenças na produtividade de grãos de soja, conforme a Figura 3, pois a precipitação + irrigação acumulada no período da semeadura até R7 foi maior que 800 mm em muitos experimentos, porém um número significativo de valores de produtividade ficou longe da função limite, indicando assim que a irregularidade da precipitação foi um fator determinante para as baixas produtividades.

Figura 3. Relação entre produtividade de grãos (Mg ha-1) e suprimento de água da semeadura até a maturidade fisiológica (mm) em sistemas de cultivo de soja irrigada (azul) e de sequeiro (amarelo) no Rio Grande do Sul, Brasil. Acesse o trabalho completo clicando aqui.

Com isso, o que se recomenda para que os estresses causados pela planta sejam amenizados são as boas práticas agrícolas, que podem melhorar a qualidade de água do ambiente e auxiliar na manutenção da água na lavoura.

Entre essas práticas, destaca-se o plantio direto, com correções de solo e rotação de culturas, estabelecendo uma qualidade de solo e cobertura vegetal que aumentem a retenção de água na lavoura e possibilitem o crescimento em profundidade das raízes da cultura, práticas de conservação dos solos, terraceamento quando necessário, para aumentar a infiltração de água na lavoura, a escolha da data de semeadura que evite períodos críticos e efetue o manejo adequado da água que favoreça a sua melhor absorção por parte das raízes, práticas agrícolas que evitem a perda de solo auxiliando e melhorando a qualidade nutricional do ambiente produtivo, além de uma boa qualidade nutricional são alguns fatores que podem auxiliar a planta de soja amenizando os efeitos de estresse hídrico na cultura.



Elaboração: Engenheira Agrônoma Andréia Procedi – Equipe Mais Soja.

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