Desde a emergência das plantas até a fase de maturação, a cultura da soja está submetida ao ataque de diferentes espécies de lagartas que consomem suas folhas e reduzem a área fotossinteticamente ativa, além de realizar o corte de plântulas e atacar órgãos reprodutivos. As diferentes características morfológicas, biológicas e comportamentais dessas espécies determinam o seu potencial de dano à cultura, bem como as suas respostas às práticas de manejo empregadas.
Fatores como a contínua expansão da área cultivada com soja no Brasil e América do Sul, introdução de cultivares com ciclo mais curto e menor Índice de Área Foliar (IAF), ampliação do período reprodutivo da cultura e calendarização das aplicações de inseticidas têm criado condições favoráveis ao desenvolvimento e intercâmbio de pragas, modificando a proporção de espécie predominantes na fauna de lagartas da soja. Assim, impera a necessidade de compreender-se a bioecologia e o potencial de dano atrelado a cada espécie-praga, possibilitando uma tomada de decisão mais assertiva.
Segundo Guedes et al. (2015), o ciclo completo (ovo a adulto) das lagartas associadas à cultura da soja varia de 21 a 68 dias, dependendo da espécie em questão. Considerando-se apenas a fase larval, que é a responsável por causar danos econômicos à cultura, observam-se intervalos de duração desde nove até 35 dias. A capacidade de oviposição também se altera entre as espécies, variando de 165 a 2.000 ovos por fêmea (Figura 1).
Figura 1. Espécies de lagartas da soja, duração das fases, longevidade, consumo foliar e número de ovos por fêmea.
Fonte: Guedes et al., 2015.
De forma geral, os lepidópteros dotados de ciclo curto e alta capacidade reprodutiva podem colonizar mais rapidamente uma lavoura e tendem a apresentar maior relevância como pragas da soja, embora fatores ambientais e de manejo também interfiram no potencial biótico das mesmas. Por outro lado, esses dois aspectos nem sempre estão associados à mesma espécie. A lagarta Helicoverpa armigera, por exemplo, apresenta uma capacidade de oviposição altíssima; entretanto, seu ciclo de ovo a adulto é mais longo quando comparado à lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) e à falsa-medideira (Chrysodeixis includens).
As lagartas desfolhadoras causam danos diretos às plantas de soja por meio do consumo de folhas, nervuras, pecíolos e, em alguns casos, até ramos laterais. Dependendo da espécie em questão, cada lagarta pode consumir entre 90 e 181 cm² de área foliar durante seu desenvolvimento larval. Nesse sentido, as lagartas do gênero Spodoptera apresentam uma capacidade média de desfolhamento superior às demais espécies, e semelhante à Helicoverpa armigera. Adicionalmente, essas espécies atacam também as estruturas reprodutivas, como flores e legumes, ampliando seu potencial de dano.
Portanto, os diferentes aspectos bioecológicos associados a cada espécie de lagarta modulam o seu potencial de dano à soja. Essas respostas levam também a uma variação espacial de ocorrência nas lavouras, além de uma variação temporal ao longo do ciclo da cultura. Para saber mais sobre a relação entre as espécies de lagartas e a fenologia da soja, clique aqui: https://maissoja.com.br/qual-a-relacao-entre-as-lagartas-da-soja-e-a-fenologia-da-cultura/
Revisão: Prof. Jonas Arnemann, PhD. e coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
Referências:
GUEDES, J. V. C. et al. Lagartas da soja: das lições do passado ao manejo do futuro. Revista Plantio Direto, v. 144, p. 6–18, 2015.
NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; ZUCCHI, R. A. Entomologia econômica. Piracicaba: Ceres, 1981. 314 p.
ZUCCHI, R. A.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S. Guia de identificação de pragas-agrícolas. Piracicaba: FEALQ, 1993. 139 p.