Existem três espécies de Spodoptera extremamente importantes na agricultura: S. frugiperda, S. cosmioides e S. eridania.
Características como:
- Alto potencial reprodutivo,
- Ciclo de vida curto;
- Facilidade de encontrar plantas hospedeiras.
Têm possibilitado o avanço dessa praga nas lavouras, gerando diversos prejuízos e dificuldades de controle.
S. cosmioides e S. eridania possuem maior preferência pela cultura da soja, atacando as plantas principalmente na fase reprodutiva (SOSA-GÓMEZ et al., 1993). Enquanto S. frugiperda está mais presente na cultura do milho.
A ponte verde é uma forma de permanência das lagartas nas lavouras, atacando as culturas seguintes. Relatou-se presença de S. eridania e S. cosmioides em plantas hospedeiras como corda-de-viola (Ipomoea grandifolia) e caruru-de-espinho (Amaranthus spinosus) (SANTOS et al., 2005). Além de plantas como milho, girassol, amendoim, batata, aveia, buva, canola, picão-preto, eucalipto, pimentão, tomate, trigo, mamona, fumo, arroz, café, macieiras entre outras culturas agrícolas (BAVARESCO et al., 2004).
Identificação e Características
- Spodoptera frugiperda
Características: coloração escura, “Y” invertido na cabeça, listras claras no dorso e pontuações escuras em todo o corpo, incluindo 4 pontos pretos no abdome (região posterior a cabeça). Ciclo em torno de 30 dias;
No milho, é conhecida como lagarta-do-cartucho e as perdas podem chegar a 60%. Em decorrência dos danos, os furos são porta de entrada para microrganismos que reduzem a qualidade dos grãos. Raspam as folhas, promovem furos e causam destruição total do cartucho. Além disso, atacam as espigas, reduzindo a potencialidade de produção dos grãos.
- Spodoptera eridania
Características: possuem coloração escura com faixas cor de creme. Para diferenciá-la, uma das listras é interrompida por uma mancha escura no tórax, assim a faixa não chega até a cabeça. Ciclo de vida em torno de 28-35 dias (SANTOS et al. 2005).
É comum em regiões de soja e algodão. Em milho os ataques são esporádicos.
Na leguminosa, acarretam em desfolha e danos nas vagens. No algodoeiro, as lagartas no início do desenvolvimento atacam as folhas e posteriormente podem danificar os botões florais, flores e maçãs do algodão.
No final do ciclo da soja, as lagartas migram para outras plantas hospedeiras, como a corda-de-viola. SANTOS et al. (2005), relata que a disponibilidade de hospedeiros facilita a ocorrência da praga.
- Spodoptera cosmioides
Características: listras amarelas em todo o dorso, chegando até a cabeça. Apresentam pontuações brancas e triângulos pretos. O ciclo de vida varia entre 40-46 dias.
Na soja, perfuram as folhas e as vagens. No algodão, perfuram os botões florais e maçãs macias. Na cultura do milho não é frequente.
A sobrevivência de S. cosmioides é maior em soja e algodão (76,7 e 78,3%, respectivamente). Em milho, é de apenas 1,7%. Entretanto, essa praga já está presente em cultivos de milho transgênico Bt, como relatado nas regiões de Carira – SE e Paripiranga – BA, na safra 2013 (TEODORO, et al. 2013).
Figura 1. Identificação do Complexo Spodoptera
DANOS
São pragas de importância econômica devido a sua voracidade. S. cosmioides consome quase o dobro de área foliar que as demais lagartas (MOSCARDI et al. 2013)
Figura 2. Consumo foliar (cm2) de diferentes lagartas na cultura da soja.

Lagartas grandes (>1,5cm) atacam as plantas quando estão recém-emergidas, cortando-a rente ao solo, reduzindo o estande. No início do desenvolvimento da soja, a espécie mais presente é S. frugiperda (SOSA-GÓMEZ et al., 1993).
São pragas desfolhadoras que ainda atacam as vagens da oleaginosa, causando perdas de produtividade na fase reprodutiva, por perfurarem folhas e vagens. Para a cultura da soja, a tecnologia Bt não é eficiente no controle da lagarta, assim o inseto é um potencial causador de danos.
Figura 3. Lagarta-das-vagens perfurando a planta.
O consumo da área foliar de S. eridania pode ser o dobro em soja e corda-de-viola que no algodão. Comprova-se que a corda-de-viola é um hospedeiro que permite seu desenvolvimento e reprodução, além de que a taxa de sobrevivência é de no mínimo 98% nesta planta (SANTOS, et al. 2005).
Figura 4. Médias de área foliar consumida por S. eridania no 6º instar.

Na cultura do algodão, a sobrevivência de S. eridania e S. cosmioides foi de 80%.
- cosmioides penetra nas maçãs, alimenta-se das sementes e promove a perda total da maçã. Nota-se que esta lagarta possui maior potencial de desfolha e destruição de estruturas reprodutivas (DOS SANTOS, et al. 2010)
Figura 5. Área raspada (%) de estruturas frutíferas de algodoeiro causada por S. eridania e S. cosmioides.

Monitoramento e Nível de Ação
- SOJA:
Pano-de-batida vertical. Realiza-se em uma fileira de plantas, perfazendo dois panos-de-batida (1m2). Pode-se fazer análise visual de nível de desfolha.
- eridania e S. cosmioides preferem o período mais fresco do dia para se movimentar, por isso o pano-de-batida deve ser realizado nesse momento.
O nível de controle deve ser realizado quando for encontrado:
- Fase vegetativa: 20 lagartas.m-1 ou 30% de desfolha;
- Fase reprodutiva: 10 lagartas.m-1 ou 15% de desfolha;
- Presença das vagens: 10% de vagens atacadas.
- MILHO: Análise Visual
O controle deve ser realizado quando 20% das plantas atacadas apresentarem nota igual ou superior a 3 (Escala de Davis).
Os danos encontrados para controle nas folhas do cartucho são:
- 1-5 lesões circulares pequenas (até 1,5 cm)
- 1-3 lesões alongadas (>1,5 cm e <3cm)
- Pequenos furos circulares (até 0,5 cm)
Figura 6. Folhas do cartucho com nota ≥3 segundo Escala de Davis.

Veja também: Prioridades – Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) em milho.
- ALGODÃO
O monitoramento é realizado em um ponto a cada dois hectares. O ponto deve ser representado por dez plantas (PEREIRA, L. 2005).
Controle ocorre com 6 a 8% de plantas infestadas com lagartas maiores que 3mm
Figura 7. Spodoptera atacando a maçã do algodão.

Confira também: Algodão Bt – a tecnologia que controla pragas e beneficia o produtor
Controle químico em Soja
Como estão presentes também na fase reprodutiva, o efeito “guarda-chuva” das plantas dificulta alcançar o alvo para controle.
FORTI & SOSA-GÓMEZ (2014), relataram em “Suscetibilidade relativa de Spodoptera frugiperda, S. eridania, S. albula, S. cosmiodes e Anticarsia gemmatalis aos inseticidas chlorantraniliprole e flubendiamida” o índice de mortalidade dessas lagartas.
Nota-se na Tabela 1, que o controle com Clorantraniprole possui eficiência >80% em todas as espécies. Flubendiamida possui controle significativo em S. cosmioides e S. frugiperda em todas as doses. Esses dados são importantes para definir quais diamidas possuem maior controle em Spodopteras.
Tabela 1. Mortalidade média de Spodoptera com aplicações de Clorantraniliprole e Flubendiamida em diversas doses na cultura da soja.

TIBOLA (2011), em seu trabalho intitulado “Criação, bioecologia e controle químico de Spodoptera eridania (cramer)(lepidoptera: noctuidae) em soja”, relatou eficiência de inseticidas para controle de S. eridania.
Na Tabela 2, observamos controle eficiente de diversos inseticidas. Destaca-se Clorpirifós e Metomil devido ao seu controle imediato após aplicação. Diversos outros inseticidas possuem eficiência de 100% aos 6 dias.Os piretroides não possuem eficácia de controle.
Tabela 2. Eficiência de controle em S. eridania.

Considerações finais
As lagartas do complexo Spodoptera mais importantes na agricultura são S. frugiperda, S. eridania e S. cosmioides. É importante sabermos identificar qual espécie de lagarta está presente na lavoura, pois alguns controles se sobressaem a outros.
O monitoramento nas culturas de soja, milho e algodão deve ser feito desde a fase vegetativa, pois a praga já pode causar desfolha. Outras ferramentas do MIP devem ser realizadas, como aplicações no nível de dano econômico, rotação de ingredientes ativos e controle de plantas hospedeiras, especialmente corda-de-viola.
A identificação de S. eridania e S. cosmioides se torna equivocada decorrente de suas similaridades. A seguir, uma imagem com ambas lagartas.
Figura 8. S. eridania e S. cosmioides.

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Referências
BAVARESCO, A.; GARCIA, M.S.; GRÜTZMACHER, A.D.; FORESTI, J.; RINGENBERG, R. Adequação de uma dieta artificial para a criação de Spodoptera cosmioides (Walk.) (Lepidoptera: Noctuidae) em laboratório. Neotropical Entomology, v. 3, p. 155-161, 2004.
DOS SANTOS, Karen B. et al. Caracterização dos danos de Spodoptera eridania (Cramer) e Spodoptera cosmioides (Walker)(Lepidoptera: Noctuidae) a estruturas de algodoeiro. Neotropical Entomology, v. 39, n. 4, p. 626-631, 2010.
FORTI, L. A.; SOSA-GÓMEZ, D. R. Suscetibilidade relativa de Spodoptera frugiperda, S. eridania, S. albula, S. cosmiodes e Anticarsia gemmatalis aos inseticidas chlorantraniliprole e flubendiamida. In: Embrapa Soja-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: JORNADA ACADÊMICA DA EMBRAPA SOJA, 9., 2014, Londrina. Resumos expandidos… Londrina: Embrapa Soja, 2014., 2014.
MOSCARDI et al. ARTRÓPODES QUE ATACAM AS FOLHAS DA SOJA. In: Embrapa Soja – Manejo Integrado de Insetos e outros Artrópodes-Praga, cap 4, 2013
PANIZZI, et al. INSETOS QUE ATACAM VAGENS E GRÃOS. In: Embrapa Soja – Manejo Integrado de Insetos e outros Artrópodes-Praga, cap 5, 2013
PEREIRA, Luciano de Carvalho. Monitoramento e manejo integrado das pragas do algodoeiro (Gossypium spp.) em cultivo no cerrado. 2005.
SANTOS, K.B.; MENEGUIN, A.M.; NEVES, P.M.O.J. Biologia de Spodoptera eridania (Cramer) (Lepdoptera: Noctuidae) em diferentes hospedeiros. Neotropical Entomology, v. 34, p. 903-910, 2005.
SOSA-GÓMEZ, D.R.; GAZZONI, D.L.; CORRÊA-FERREIRA, B.S.; MOSCARDI, F. Pragas da soja e seu controle. In: ARANTES, N.P.; SOUZA, P.I.M. (Ed.). Cultura da soja nos cerrados. Piracicaba: Potafos, 1993. p. 299-331.
TEODORO, A. V. et al. Spodoptera cosmioides (Walker) e Spodoptera eridania (Cramer)(Lepidoptera: Noctuidae): novas pragas de cultivos da Região Nordeste. Embrapa Soja-Comunicado Técnico (INFOTECA-E), 2013.
TIBOLA, Cristiane Maria et al. Criação, bioecologia e controle químico de Spodoptera eridania (cramer)(lepidoptera: noctuidae) em soja. 2011.
Redação: Equipe Mais Soja.