A incidência de doenças em cereais representa um fator limitante na expressão plena do potencial produtivo destas culturas no Brasil. Na cultura do trigo, o termo “manchas-foliares” tradicionalmente refere-se a quatro diferentes doenças fúngicas: Mancha-amarela (Drechslera tritici-repentis), Mancha marrom (Bipolaris sorokiniana), Mancha das glumas (Stagonospora nodorum) e Mancha salpicada (Septoria tritici) (Costamilan et al., 2021).
O complexo de manchas foliares, de acordo com Simmi et al. (2020) destaca-se como uma das principais doenças que afetam a parte aérea da planta, podendo resultar em uma redução de até 80% na produção. Não apenas comprometendo a quantidade de grãos colhidos, mas também afetando negativamente a qualidade fisiológica das sementes. Uma vez que a produtividade e a qualidade fisiológica das sementes de trigo estão relacionadas à área foliar verde ou sadia durante o enchimento de grãos.
Condições favoráveis ao desenvolvimento das manchas foliares
A faixa de temperatura mais propícia para o desenvolvimento da mancha amarela situa-se entre 18° e 28 °C. Para que ocorra a infecção, é necessário um período de molhamento de pelo menos 30 horas. Esta doença é mais comum no Rio Grande do Sul, devido às condições climáticas favoráveis, especialmente em lavouras sem rotação de culturas (Costamilan et al., 2021).
Costamilan et al. (2021) destacam que para o estabelecimento da mancha marrom, a temperatura deve ser igual ou superior a 18 °C, com um período de molhamento de pelo menos 15 horas. No entanto, temperaturas entre 20 e 28 °C são mais favoráveis ao desenvolvimento da doença. Ela ocorre com mais frequência em lavouras do Paraná e é mais comum em sementes em comparação com D. tritici-repentis.
Já para a mancha gluma, os autores destacam que a faixa de temperatura mais favorável ao desenvolvimento doença situa-se entre 20 e 25 °C, com um período de molhamento de 48 a 72 horas. De modo geral, esta doença tem sido menos frequente no Brasil.
Temperaturas entre 15 e 20 °C, juntamente com um período de molhamento de mais de 72 horas, são as condições mais propícias para a Mancha Salpicada. Esta doença é considerada de pouca expressão no Brasil. Atualmente, a Septoria tritici é um fungo de maior importância nos países da Europa (Costamilan et al., 2021).
Principais características
Segundo Bacaltchuk et al. (2006), a mancha marrom se caracteriza por lesões de coloração pardo-escura no centro, com bordas arredondadas e tamanho indefinido. Já a mancha amarela compartilha características semelhantes à mancha marrom, mas com a distinção de apresentar um halo amarelo ao redor das lesões.
Por sua vez, a mancha das glumas é mais comumente encontrada nas brácteas florais e nos nós das plantas, ocasionalmente acompanhada pela presença de picnídios (pontos pretos) nas lesões. Enquanto isso, a mancha salpicada inicialmente se manifesta como pontos amarelos entre as nervuras das folhas, os quais gradualmente adquirem uma coloração pardo-claro com pequenas pontuações pretas, correspondentes aos picnídios (Bacaltchuk et al., 2006).
Danos e manejo
Conforme observado por Cunha et al. (2023), a rotação de culturas contribui de maneira significativa a reduzir o potencial de inoculo de organismos causadores de manchas foliares. Além disso, a semeadura anual de culturas como o trigo na mesma área, é a principal causa da ocorrência dessas doenças. Culturas como aveia-preta, aveia-branca, nabo-forrageiro, canola e leguminosas, em geral, são consideradas as melhores opções para a constituição de modelos de produção que visam ao controle dessas doenças.
Os danos à cultura, conforme destacado por Ferreira et al. (2023), podem ser mais severos durante anos chuvosos, pois essas condições favorecem o desenvolvimento das doenças e dificultam o controle químico na lavoura. Além disso, em cultivares suscetíveis à doença e expostas a condições climáticas favoráveis, os sintomas evoluem com a expansão das lesões.
Sem a aplicação de fungicidas, novas lesões surgirão e se fundirão até causar a necrose total da folha, resultando em reduções na produtividade da cultura. A intensidade de manchas foliares também é agravada em plantas de trigo que apresentam deficiência nutricional, principalmente com relação ao nitrogênio (Cunha et al., 2023).
O uso de sementes sadias e a rotação de culturas são estratégias essenciais no manejo integrado de manchas foliares. Cunha et al. (2023) ressaltam que o monitoramento nas lavouras deve ser realizado em um intervalo de cinco dias.
A metodologia para o monitoramento de doenças foliares consiste em coletar aleatoriamente entre 40 e 50 colmos principais. Destacar as folhas, eliminando aquelas com mais de 50% da área foliar morta por causa não parasitária, e as que estiverem em crescimento, determinando a incidência individual das doenças. Durante o estádio de afilhamento é intensa a produção de novas folhas, por isso pode haver decréscimo na incidência das doenças. Recomenda-se, portanto, que o monitoramento tenha início no final do afilhamento (Cunha et al., 2023).
Figura 1. Escala de severidade de sintomas de manchas foliares em trigo. Os números indicados abaixo das imagens correspondem às notas e a percentagem de severidade correspondente.

Com relação ao controle químico, Cunha et al. (2023) destacam que a primeira aplicação de fungicida deve ser realizada quando a doença alvo do controle atingir o limiar de ação. Sendo que o intervalo para reaplicação deve respeitar o período de persistência dos ingredientes ativos utilizados. Além disso, a última aplicação de fungicidas não deve ultrapassar o estádio fenológico de grão leitoso.
Veja mais: Trigo: implantação da lavoura é momento decisivo para boas produtividades
Referências:
BACALTCHUK, B. et al. CARACTERÍSTICAS E CUIDADOS COM ALGUMAS DOENÇAS DE TRIGO. Embrapa, documentos, 64, 2006. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do64.pdf >, acesso em: 02/04/2024.
COSTAMILAN, L. M. et al. TRIGO: MANCHAS FOLIARES. Embrapa, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/trigo/producao/doencas/manchas-foliares >, acesso em: 02/04/2024.
CUNHA, G. R. et al. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA TRIGO E TRITICALE SAFRA 2023. Embrapa Trigo, 15° Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale. Brasília – DF, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1153536/1/InformacoesTecnicasTrigoTriticale-Safra2023.pdf >, acesso em: 02/04/2024.
FERREIRA, A. et al. EFICIENCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DE MANCHAS FOLIARES DO TRIGO: RESULTAFOS DA REDE DE ENSAIOS COOPERATIVOS DO TRIGO – SAFRA 2022. Embrapa, circular técnica, 82. Passo Fundo – RS, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1155430/1/Circular-Tecnica-82.pdf > acesso em: 02/04/2024.
PONOMARENKO, A. et al. MANCHA SALPICADA DA FOLHA (Septoriose, pt) DO TRIGO. Traduzido por Mathioni & Alves. Plant Health Instructor, Translated 2013. Disponível em: < https://www.apsnet.org/edcenter/disandpath/fungalasco/pdlessons/Pages/SeptoriaPort.aspx >, acesso em: 02/04/2024.
SANTANA, F. M. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA CONTROLE DE MANCHAS FOLIARES D-O TRIGO: RESULTADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS – SAFRA 2018-2019. Embrapa, circular técnica, 64. Passo Fundo – RS, 2021. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/224433/1/CircTec-64-o.pdf >, acesso em: 02/04/2024.
SIMMI, F. Z. et al. COMO CONTROLAR MANCHAS FOLIARES EM TRIGO. Revista Cultivar, Grandes Culturas, ed. 204, 2020. Disponível em: < https://revistacultivar.com.br/artigos/como-controlar-manchas-foliares-em-trigo#:~:text=Entre%20as%20principais%20doen%C3%A7as%20f%C3%BAngicas,%C3%A0%20qualidade%20fisiol%C3%B3gica%20das%20sementes. >, acesso em: 02/04/2024.
Foto de capa: Flávio Santana
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