O mercado brasileiro de trigo manteve por mais uma vez um ritmo lento de negociações ao longo da semana. Os comerciantes avaliaram a oferta restrita, o clima adverso nas lavouras e a crescente dependência externa.
Segundo o analista de Safras & Mercado, Elcio Bento, apesar das intempéries climáticas enfrentadas durante o plantio e o desenvolvimento, as lavouras do Paraná e do Rio Grande do Sul (responsáveis por cerca de 90% da produção nacional) continuam, em geral, em boas condições.
No Rio Grande do Sul, os preços giraram entre R$ 1.300 e R$ 1.350 por tonelada (CIF moinhos), dependendo da localidade. No interior do estado, o trigo pão tipo 1 foi negociado a R$ 1.300/tonelada (FOB), com lotes de qualidade inferior (falling number mais baixo) entre R$ 1.210 e R$ 1.220/tonelada.
No Paraná, os moinhos sinalizaram interesse de compra a R$ 1.450/tonelada para o trigo da safra velha, enquanto para a nova safra as ofertas variaram de R$ 1.350 a R$ 1.400/tonelada (CIF). Os vendedores, no entanto, buscavam até R$ 1.500/tonelada.
O comportamento dos moinhos foi de cautela, com compras pontuais e foco no consumo imediato. “O atual cenário não oferece margem para elevações significativas nas cotações até a entrada da próxima safra”, avaliou Bento. Do lado da produção, os agricultores seguem focados nos tratos culturais e demonstram pouco interesse em comercializar.
As condições climáticas continuam no centro das atenções. No Paraná, cerca de 35% das lavouras estão em estágios sensíveis ao frio, com 82% das áreas ainda em boas condições, segundo o Deral. No RS, a Emater destacou recuperação das lavouras após o excesso de chuvas no fim de junho.
A estimativa é de que, mesmo sem perdas severas, a necessidade de importações poderá atingir níveis recordes nesta temporada. Segundo levantamento de Safras & Mercado, o Brasil já importou 5,837 milhões de toneladas na safra 2024/25, um aumento de 682 mil toneladas frente ao mesmo período do ciclo anterior. São Paulo lidera os desembarques, seguido por Ceará, Bahia, Pernambuco e Paraná.
Bento destaca que o mercado segue atento ao câmbio e ao cenário internacional. A possível aplicação de tarifa de 50% pelos EUA sobre produtos brasileiros ainda não teve avanço nas negociações, o que aumenta a cautela entre os agentes. “Uma eventual desvalorização do real frente ao dólar poderia sustentar os preços internos, que seguem ancorados à paridade de importação”, concluiu.
Fonte: Ritiele Rodrigues – Safras News