Várias espécies de plantas de cobertura de solo são utilizadas em sistemas de rotação e sucessão de culturas. Essas espécies são estrategicamente escolhidas como plantas de cobertura do solo de primavera/verão e outono/inverno, proporcionando uma série de vantagens ao solo através da ciclagem de nutrientes. Os resíduos culturais deixados pelas plantas de cobertura no solo, desempenham um papel importante promovendo a recuperação, manutenção e melhoria das propriedades do solo (Tiecher, 2016).

As plantas de cobertura representam uma alternativa para diversificar os sistemas de cultivo em várias regiões do Brasil. Elas podem ser cultivadas de diversas maneiras, tanto individualmente, com o uso de uma única espécie, quanto em consórcio ou mix, envolvendo duas ou mais espécies. Além disso, o cultivo de plantas de cobertura apresenta a possibilidade de cultivo em diferentes épocas do ano de acordo com a espécie. A seguir podemos observar as principais espécies de plantas de cobertura de solo utilizadas na Região Sul do Brasil.

Figura 1. Principais espécies de plantas de cobertura de solo de primavera/verão e outono/inverno utilizadas em sistemas de culturas na Região Sul do Brasil. Nome comum Nome científico.

Fonte: Tiecher (2016).

Uma das alternativas dentre as espécies de plantas de cobertura de primavera/verão é o milheto (Pennisetum glaucum), o qual apresenta um enorme potencial de cobertura do solo. Originário de regiões semidesérticas na África e Índia, o milheto pertence à família Poaceae e se destaca por ser uma gramínea com metabolismo fotossintético do tipo C4. As áreas de onde se originou são caracterizadas por apresentarem baixa disponibilidade hídrica, altas temperaturas e baixa fertilidade do solo, para sobreviver e se perpetuar nessas condições adversas, o milheto desenvolveu uma estratégia balanceando a granação da panícula, a manutenção e o crescimento da planta, tudo dentro de um ciclo fenológico relativamente curto (Embrapa Milho e Sorgo, 2016).



O milheto tem sido utilizado de diversas formas, como planta forrageira e área de pastoreio para o gado, especialmente na região Sul. Além disso, é cultivado para a produção de sementes destinadas à fabricação de rações, além de ser empregado como uma planta de cobertura do solo no sistema de plantio direto. A sua adaptabilidade a condições adversas, incluindo a capacidade de tolerar longos períodos de déficit hídrico, torna-o uma escolha excepcional para as regiões com recursos hídricos limitados. Além disso, sua capacidade de se adaptar em solos pouco férteis é atribuída ao seu sistema radicular profundo, que permite uma extração eficiente de nutrientes, contribuindo para a melhoria das condições do solo (Pereira Filho et al., 2003).

O milheto é uma planta cespitosa, de crescimento ereto e apresenta uma alta produção de perfilhos, mostrando rápida rebrota após corte ou pastejo. Podendo atingir uma altura de até 3 metros, chegando 1,5 metros em apenas 50 a 55 dias após a emergência, suas folhas são largas, e sua inflorescência é em forma de panícula longa. As exigências em condições de temperaturas noturnas médias são entre 15 e 28°C e requer pelo menos 30mm de água para germinação (Pereira Filho, 2015). A rusticidade do milheto e sua impressionante capacidade de produzir uma grande quantidade de massa seca o tornam uma escolha atraente para os agricultores. Além disso, o cultivo de milheto beneficia a estrutura do solo e oferece vantagens no controle de nematoides, contribuindo para a melhoria das condições do solo e da produtividade agrícola (Carvalho et al., 2022).

Figura 2. Lavoura de milheto.

Foto: Sandra Brito (2016).

De acordo com Carvalho et al. (2022), o milheto se destaca por sua elevada produção de massa seca, atingindo aproximadamente 8 toneladas ha-1. Além disso, sua raiz vigorosa e profunda desempenha um papel fundamental na ciclagem de nutrientes, especialmente aqueles presentes nas camadas mais profundas do solo. As raízes atuam na criação de canais no solo, permitindo que outras raízes se desenvolvam e explorem um maior volume de solo em profundidade. Isso resulta em uma maior disponibilidade de nutrientes e água para as plantas, o que é fundamental para enfrentar condições de estiagem e manter rendimentos agrícolas mais elevados e estáveis.

Em termos de contribuição para o solo, o milheto disponibiliza para o solo em média, 113 Kg ha-1 de nitrogênio (N), 13,9 Kg ha-1 de fósforo (P), 93 Kg ha-1 de potássio (K), 32 Kg ha-1 de cálcio (Ca) e 16 Kg ha-1 de magnésio (Mg). Essas quantidades em nutrientes adicionados ao solo pelo milheto o torna um aliado valioso na promoção da fertilidade do solo e no suprimento de nutrientes essenciais para o crescimento das culturas subsequentes.

Figura 3. Raízes de culturas produtoras de grãos e de cobertura, da esquerda para a direita são raízes de milheto, sorgo, milho, braquiária, soja, centeio e trigo.

Fonte: Embrapa Trigo (2014) apud. Tiecher (2016).

O milheto, de acordo com Tiecher (2016), demonstra uma notável capacidade de reduzir a reprodução de nematóides fitopatogênicos que afetam o cultivo da soja quando cultivado sobre seus resíduos culturais. Isso o tornou uma escolha amplamente adotada em sistemas de rotação de culturas, sucessão de culturas e integração lavoura-pecuária. O autor destaca ainda, que resultados preliminares de pesquisa indicam que o milheto pode reduzir a população de nematóides fitopatogênicos em até 80%. Reduzindo a população de nematóides como o Meloidogyne incógnita, javanica, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis.

A instalação da cultura no campo é fácil e requer poucos insumos, sendo cultivado e adaptado a praticamente todas as regiões agrícolas do Brasil. A época de semeadura é bastante ampla variando em função da finalidade do uso, se estendendo de agosto a maio, podendo ser semeado a lanço ou em sulco de semeadura (Embrapa Milho e Sorgo, 2016).


Veja mais: Quais os benefícios do uso da Crotalaria como cobertura do solo?


Referências:

CARVALHO, M. L. et al. GUIA PRÁTICO DE PLANTAS DE COBERTURA: ASPECTOS FILOTÉCNICOS E IMPACTOS SOBRE A SAÚDE DO SOLO. organização de Maurício Roberto Cherubin, 126 p. Piracicaba ESALQ USP, 2022. Disponível em: < https://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/view/782/696/2581 >, acesso em: 05/10/2023.

EMBRAPA MILHO E SORGO. CULTIVO DO MILHETO. Dados Sistema de Produção, ed. 5. Embrapa, 2016. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/993985/1/Sistema-de-Producao-Cultivo-do-Milheto.pdf >, acesso em: 05/10/2023.

PEREIRA FILHO, I. A. CULTIVO DO MMILHETO. Revista Cultivar, Pecuária – Bovinos de corte, 2015. Disponível em: < https://revistacultivar.com.br/artigos/cultivo-do-milheto >, acesso em: 05/10/2023.

PEREIRA FILHO, I. A. et al. MANEJO DA CULTURA DO MILHETO. Embrapa, Circular técnica 29. Sete Lagoas – MG, 2003. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/487545/1/Circ29.pdf >, acesso em: 05/10/2023.

TIECHER, T. MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO SUL DO BRASIL: PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE MANEJO VISANDO A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA. cap. 1, UFRGS, Porto Alegre – RS, 2016. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/149123/001005239.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 05/10/2023.

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