Diversas espécies de plantas de cobertura de solo se mostram viáveis para uso de adubação verde em cultivo solteiro ou em sistemas de consórcios com outras plantas de cobertura de solo. De acordo com Lamas (2017), as plantas de cobertura além de contrubuírem para a melhoria dos atributos quimicos, físicos e biológicos do solo, as espécies vegetais desempenham um papel essencial no controle de plantas invasoras, doenças, nematóides e pragas, refletindo diretamente na cultura sucessora.

A seguir, podemos observar as principais espécies com potencial de uso em sistemas agrícolas na Região Sul do Brasil, Tiecher (2016), destaca que a rusticidade é uma característica comum em todas as espécies, especialmente quanto a tolerância ao déficit hídrico. Geralmente, são plantas pouco exigentes quanto à fertilidade do solo e aos tratos culturais, além de apresentarem adaptações às diferentes condições edafoclimáticas da região.

Tabela 1. Principais espécies de plantas de cobertura de solo de primavera/verão e outono/inverno utilizadas em sistemas de culturas na Região Sul do Brasil.

Fonte: Tiecher (2016).

As crotalárias pertencentes à família Fabaceae, conforme Tiecher (2016), na região Sul do Brasil são difundidas e utilizadas basicamente duas espécias crotalárias, a Crotalaria junceae e Crotalaria spectabilis. Leal et al. (2012), destacam que a crotalária apresenta rápido crescimento, sobretudo em condições de temperaturas elevadas, sendo uma excelente cultura para adubação verde. Destaca-se por aumentar a qualidade do solo, por sua habilidade em adicionar rapidamente Nitrogenio e matéria orgânica no solo.

A Crotalaria juncea, de acordo com Ferreira et al. (2016), é uma leguminosa anual ereta e porte elevado, com potencial para atingir até 3 metros de altura, variando conforme fatores como solo, clima e época de plantio. Seu crescimento inicial é rápido, resultando em uma boa produção de fitomassa. Além dessas características, a espécie se destaca por seu vigoroso crescimento radicular, boa tolerância à períodos de seca, capacidade elevada de produzir massa seca e oferecer uma cobertura eficiente do solo.

Conforme a Embrapa (2017), a Crotalaria juncea é uma espécie originária da Índia e Ásia Tropical, muito utilizada na produção de biomassa vegetal para adubação verde, podendo ser incorporada no solo ou disposta em coberturas, de forma a proteger o solo, sendo indicada pra incrementar a produtividadede culturas em sucessão e/ou rotação. Conforme Calegari (2016), a C. juncea apresenta sistema radicular pivotante-profundo, caracterizada por um ciclo de desenvolvimento de 170 a 180 dias. Durante esse período é capaz de produzir de 35 a 60 toneladas de massa verde por hectare, que, ao final, se transforma em cerca de 10 a 15 toneladas por hectare de massa seca.

Figura 1. Características de resistência a nematoides e reciclagem de nutrientes. FR (Fator de Reprodução); FR < 1 população inicial de nematoides é reduzida.

Fonte: Adaptado Calegari (2016).

A Crotalaria spectabilis, de acordo com a Embrapa (2017), é uma espécie originária do continente americano, utilizada na produção de biomassa vegetal para adubação verde. Seu crescimento é rápido e cobre toda a área, se adaptando em uma ampla faixa de condições, desde solos argilosos a arenosos, mesmo quando cultivada em solos de baixa fertilidade, é considerada “melhoradora” e “recuperadora” de solos. Calegari (2016), destaca que o ciclo de desenvolvimento da C. spectabilis tem duração de 170 a 180 dias, a capacidade de produção de massa verde é em torno de 20 a 30 toneladas por hectare, sendo que a massa seca é de cerca de 4 a 6 toneladas por hectare.

Figura 2. Características de resistência a nematoides e reciclagem de nutrientes. FR (Fator de Reprodução); FR < 1 população inicial de nematoides é reduzida.

Fonte: Adaptado Calegari (2016).

Conforme Calegari (2016), a Crotalaria juncea possui período ideal de semeadura entre os meses de setembro a março. Em contrapartida, a Crotalaria spectabilis é mais indicada para o plantio durante o intervalo de outubro a fevereiro. Tiecher (2016) afirma que as duas espécies de crotalária apresentam grande potencial quando utilizadas como plantas armadilha em solos que estão infestados com nematoides fitopatogenicos formadores de galhas nas raízes. Consequentemente, elas assumem um papel importante agricultura de base ecológica, uma vez que, desempenham uma função relevante no controle biológico de pragas, contribuindo para a promoção de práticas agrícolas sustentáveis.



Conforme Calegari (2016), o cultivo da Crotalaria juncea traz consigo uma série de vantagens, a alta capacidade de fixação de nitrogênio, sendo uma ótima recuperadora e melhoradora do solo, além disso, apresenta efeito alelopático em diversas plantas invasoras. Quanto a Crotalaria spectabilis, seu diferencial está na habilidade de reduzir drasticamente a população de nematoides.

Pesquisas realizadas por Silveira & Rava (2004), observaram o efeito da palhada de Crotalaria spectabilis na redução do número de nematoides, especialmente do gênero Pratylenchus.

Tabela 2. Nematóides dos gêneros Pratylenchus e Pseudhalenchus por grama de raiz de plantas de feijoeiro da cultivar Pérola, em solo com e sem adição de palhada de Crotalaria spectabilis.

Fonte: Silveira & Rava (2004).

Com os resultados da pesquisa, os autores recomendam a adição da palhada de C. spectrabilis no solo, cerca de 60 dias antes do plantio do feijoeiro comum, como uma estratégia de controle de nematoides dos gêneros Pratylenchus e Pseudhalenchus.

Franke & Marinho (2020), na condução de um estudo observaram que a incorporação da Crotalaria juncea como adubo verde no cultivo do milho e na pastagem, dentro de um sistema de integração lavoura-pecuária, resultou em um significativo aumento de 26,4% na produção do milho. Os pesquisadores destacam que a adubação verde utilizando a C. juncea antes do cultivo do milho não apenas melhorou a fertilidade do solo, mas também melhorou atributos do solo, essa prática influenciou positivamente na produtividade do milho, e também teve impacto direto na produção de forragem, destinada para a criação de gado.

A crotalária se destaca como uma planta de cobertura com valor notório dentro dos sistemas de produção agrícola, com destaque especial para áreas infestadas por nematoides fitopatogênicos, reduzindo significativamente a população de nematoides. Além disso, os resíduos resultantes de seu cultivo desempenham função essencial ao fornecer uma cobertura de solo de alta qualidade.


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Referências:

CALEGARI, A. PLANTAS DE COBERTURA. Manual Técnico, Projeto Solovivo, 2016. Disponível em: < http://www.ecoagri.com.br/web/wp-content/uploads/Plantas-de-Cobertura-%E2%80%93-Manual-T%C3%A9cnico.pdf >, acesso em: 22/08/2023

EMBRAPA. CROTALÁRIA ESPECTÁBILIS. Embrapa Agrobiologia. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1355054/19774764/INT_2017_CATALOGO+INOCULACAO_CROTALARIA+SPECTABILIS_LAMINA+A5.pdf/e12e03c6-cedb-149c-7119-ac29721d2866 >, acesso em: 22/08/2023.

EMBRAPA. CROTALÁRIA JÚNCEA. Embrapa Agrobiologia. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1355054/19774764/INT_2017_CATALOGO+INOCULACAO_CROTALARIA+JUNCEA_LAMINA+A5.pdf/8ed1bf65-2810-b979-82c6-051a0a1666ee >, acesso em: 22/08/2023.

FERREIRA, A. C. B. et al. SISTEMAS DE CULTIVO DE PLANTAS DE COBERTURA PARA A SEMEADURA DIRETA DO ALGODOEIRO. Comunicado técnico 377. Embrapa, Campina Grande – PB, 2016. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1066067/1/Sistemasdecultivodeplantasdecobertura.pdf >, acesso em: 22/08/2023.

FRANKE, I. L.; MARINHO, J. T. S. ADUBAÇÃO VERDE COM Crotalaria juncea NO CULTIVO DO MILHO E PASTAGEM EM SISTEMA DE INTEGRAÇÃO LAVOURA PECUÁRIA NA AGRICULTURA FAMILIAR NO ACRE. Embrapa Acre, Cadernos Agroecologia, Anais do XI Congresso Brasileiro de Agroecologia v. 15, n. 2. São Cristóvão – SE, 2020. Disponível em: < http://cadernos.aba-agroecologia.org.br/cadernos/article/view/4384/4296 >, acesso em: 22/08/2023.

LAMAS, F. M. PLANTAS DE COBERTURA: O QUE É ISTO? Research, Development and Innovation, Embrapa, 2017. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/28512796/artigo—plantas-de-cobertura-o-que-e-isto#:~:text=Al%C3%A9m%20de%20contribu%C3%ADrem%20para%20a,beneficiando%20diretamente%20as%20culturas%20sucessoras. >, acesso em: 22/08/2023.

LEAL, M. A. A. et al. DESEMPENHO DE CROTALÁRIA CULTIVADA EM DIFERENTES ÉPOCAS DE SEMEADURA E DE CORTE. Revista Ceres, v. 59, n. 3, p. 386-391. Viçosa – MG, 2012. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rceres/a/6ZRXbZGgV8Sq4NmDXpD7FFG/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 22/08/2023.

SILVEIRA, P. M.; RAVA, C. A. UTILIZAÇÃO DE CROTALÁRIA NO CONTROLE DE NEMATÓIDES DA RAIZ DO FEIJOEIRO. Comunicado técnico 74, Embrapa, Goiás – GO, 2004. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPAF/22189/1/comt_74.pdf >, acesso em: 22/08/2023.

TIECHER, T. MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO SUL DO BRASIL. Práticas alternativas de manejo visando a conservação do solo e da água. UFRGS, Porto Alegre – RS, 2016. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/149123/001005239.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 22/08/2023.

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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

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