Cada vez mais comum em solos agrícolas, os nematoides fitopatogênicos são pragas de solo de difícil controle, que podem causar drásticas reduções na produtividade de culturas agrícolas como soja, milho, algodão, entre outras. Os danos e sintomas podem variar em função da espécie de fitonematoide e cultura atacada, mas geralmente são observados em reboreiras, compreendendo na maioria dos casos lesões no sistema radicular das plantas, redução de porte (altura de planta), redução da produtividade, entre outros sintomas.
No Brasil, a espécie Pratylenchus brachyurus tem sido o nematoide fitopatogênico mais frequente em áreas de produção de soja e algodão do Cerrado, onde populações elevadas, principalmente em raízes de soja, são frequentes e, em algumas situações, causam reduções de produtividade em soja de até 30% (Asmus; Inomoto; Borges, 2016).
Por se tratar de uma praga de solo, o controle químico com a aplicação de nematicidas apresenta baixa eficiência em função da dificuldade em atingir o alvo. Logo, práticas alternativas de manejo necessitam ser adotadas em áreas infestadas por nematoides, visando não só o controle da praga, como também a redução do impacto dela em culturas comerciais.
Além do controle biológico, uma das estratégias de manejo que tem demonstrado bons resultados é a rotação de cultura, com espécies não hospedeiras da praga, a exemplo do milheto, que apresenta aptidão para o cultivo na entressafra da soja, em muitas regiões produtoras. Embora não controle efetivamente o nematoide, o cultivo de plantas de cobertura não hospedeiras da praga reduz sua multiplicação, reduzindo consequentemente a população de nematoides no solo.
Conforme observado por Debiasi et al. (2013), analisando o potencial de diferentes opções de manejo do solo na entressafra para a redução da população e dos danos de P. brachyurus na soja, o impacto da planta de cobertura e/ou cultura sobre a população do nematoide P. brachyurus, varia em função da espécie da planta. Quando comparadas as demais culturas avaliadas pelos autores, resultados intermediários no controle de populações de nematoides foram observados com o cultivo do milheto, demonstrando ser uma interessante ferramenta para integrar o manejo dos nematoides em soja.
Figura 1. Número de nematoides (Pratylenchus brachyurus) por planta de soja (linhagem ‘PI 595099’) no bioensaio, em função dos diferentes manejos aplicados na entressafra.

A ação de redução populacional dos nematoides pelo milheto ainda é aumentada quando a cultura é associada à Crotalaria spectabilis (T6). Debiasi et al. (2013) destacam ainda que a população de P. brachyurus nas raízes de soja coletadas no experimento aos 60 dias após a semeadura (DAS) foi menor nos tratamentos C. spectabilis, alqueive mecânico, C. ochroleuca, C. juncea, e C. spectabilis + milheto ‘ADR 300’ em relação aos demais manejos, os quais não diferiram entre si.
Embora quando cultivado de forma isolada, o milheto não tenha demonstrado a maior capacidade de redução da população do nematoide, proporcionou maior cobertura do solo em relação às crotalárias, o que, associado à sua grande capacidade de ciclagem de potássio, beneficiou o desenvolvimento da soja e impactando positivamente a produtividade da cultura (Debiasi et al., 2013).
Figura 2. Produtividade da soja (cultivar M-Soy 9144RR) na safra 2012/2013, em função de diferentes manejos aplicados na entressafra.

Levando em consideração sua capacidade em atuar na redução populacional do nematoide Pratylenchus brachyurus e sua elevada capacidade em ciclar nutrientes do solo, pode-se dizer que o cultivo do milheiro em áreas infestadas por esse nematoide é uma interessante alternativa de manejo, especialmente quando associado a espécies de crotalária. Além disso, cabe destacar que assim como o milheto e a crotalária, diversas espécies vegetais podem atuar na redução populacional de nematoides fitopatogênicos, contribuindo significativamente para o manejo e controle dessas pragas, especialmente quando associadas a outros métodos de controle como o controle biológico e estratégias de manejo como o uso de cultivares com maior tolerância.
Tabela 1. Culturas para formação de palhada no Sistema Plantio Direto e efeitos sobre os fitonematoides.

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Referências:
ASMUS, G. L.; INOMOTO, M. M.; BORGES, E. P. MANEJO DE Pratylenchus brachyurus COM CROTALÁRIA OU MILHETO EM ÁREA DE PRODUÇÃO DE SOJA. Embrapa, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, n. 73, 2016. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/148831/1/BP732016.pdf >, acesso em: 20/03/2023.
DEBIASI, H. et al. MANEJO DO SOLO DURANTE A ENTRESSAFRA PARA REDUÇÃO DA POPULAÇÃO E DANOS DO NEMATOIDE DAS LESÕES RADICULARES EM SOJA. XXXIV Congresso brasileiro de Ciência do Solo, 2013. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/102408/1/Manejo-do-solo-durante-a-entressafra-para-reducao-da-populacao-e-danos-do-nematoide-das-lesoes-radiculares-em-soja.pdf >, acesso em: 20/03/2023.
INOMOTO, M. M.; ASMUS, G. L. CULTURAS DE COBERTURA E DE ROTAÇÃO DEVEM SER PLANTAS NÃO HOSPEDEIRAS DE NEMATOIDES. Visão Agrícola, n. 9, 2009. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/VA9-Protecao04.pdf >, acesso em: 20/03/2023.
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