Através das pesquisas já realizadas pela Embrapa, por instituições de ensino e outras instituições de pesquisa, não resta mais dúvida que a diversificação é melhor que a especialização dos sistemas de produção agropecuários. Isso é verdade, tanto sob o ponto de vista econômico, quanto ambiental. Durante muito anos, era frequente numa mesma propriedade o cultivo de uma única espécie, na maioria das vezes sem rotação de culturas. Esse modelo, com o tempo, mostrou-se não ser o mais adequado, principalmente por proporcionar rentabilidade abaixo daquela considerada como mínima, em função das baixas produtividades e do constante aumento do custo de produção.

Atualmente, graças aos avanços tecnológicos, está ficando bem frequente, especialmente na região central do Brasil, numa mesma unidade de produção, o cultivo de diferentes espécies vegetais em um mesmo período agrícola, seja na primavera – verão ou no outono-inverno. Assim, é possível encontrar propriedades onde se tem o cultivo de soja, de milho, de algodão e de pastagem no período primavera-verão.  É perceptível a tendência de diversificação e intensificação dos modelos de produção. Por meio da diversificação do sistema de produção e da integração de atividades, tem-se a maximização do uso do solo e dos diferentes fatores de produção, viabilizando também a diversificação das fontes de renda. Quando se lida com sistemas de produção e não com a ótica tradicionalista de olhar para o cultivo, mudam-se as práticas de manejo de adubação, de plantas daninhas, de pragas e de doenças. Em sistemas diversificados não se têm pragas da soja, por exemplo, e sim pragas do sistema. Quando numa mesma unidade de produção tem-se o cultivo de mais de uma espécie vegetal, é necessário que se tenha uma visão do sistema que seja sensível a interrelação que existe entre cada espécie, mesmo quando cultivadas de forma isolada.

A pesquisa agropecuária evidenciou que, fazendo-se o cultivo de diferentes espécies em consórcio, verifica-se no solo alterações de ordem biológica, diferentes e melhores do que aquelas verificadas quando cada espécie é cultivada de forma isolada. O cultivo de milho consorciado com braquiária é um exemplo de intensificação dos sistemas de produção (https://bit.ly/3qAik40). Além disso, os resultados de pesquisa também mostram que a alternância de espécies, em numa determinada área, proporciona redução na diversidade, na quantidade e na incidência e severidade de doenças. A diversificação de espécies vegetais numa determinada área contribui para aumentar o volume de solo explorado pelas raízes, bem como são observadas melhorias nos atributos físicos e químicos do solo.

Em sistemas intensivos, a adubação não deve ser analisada para uma espécie vegetal, mas sim para o sistema de produção.  O novo modelo de agricultura exige, de todos os envolvidos com a produção agropecuária, a mudança de conceitos, pois não há mais espaço para visões que hoje são tidas como reducionistas devido à sua simplicidade diante de algo tão complexo. Hoje se faz necessária uma abordagem muito mais holística, o que requer o desenvolvimento de novas habilidades.

Por exemplo, sabemos que o cultivo de uma determinada espécie vegetal pode favorecer o estabelecimento de um determinado agente biológico capaz de causar dano econômico a outra espécie. Esse é o caso da Crotalaria spectabilis, que ao ser cultivada em regiões favoráveis à ocorrência de mofo branco, especialmente em semeaduras tardias, pode predispor a cultura sucessora a danos causados pela referida doença.

Por outro lado, o cultivo da mesma Crotalaria spectabilis é estratégico para o manejo de nematoides. Sendo assim, percebendo-se a complexidade que envolve os sistemas de produção, a tomada de decisão é fator chave para o sucesso do empreendimento e, logo, cada vez mais, faz-se necessário que o tomador da decisão entenda a complexidade envolvida e possa decidir o melhor para a sua realidade.

As espécies antecessoras podem interferir na resposta da cultura sucessora à adubação química. A presença de determinadas espécies de plantas daninhas proporciona condições para alimentação de insetos polífagos como a Spodoptera frugiperda. Sistemas de produção intensivos exigem estratégias diferentes para o manejo de pragas, doenças e plantas daninhas, daquelas utilizadas em sistemas com pouca diversidade.

Fica, portanto, evidente a necessidade de mudanças e, por conseguinte, de quebras de paradigmas por parte dos engenheiros agrônomos e produtores rurais para trabalhar como sistemas de produção agropecuários. Por mais diversificado que seja o sistema de produção, com o tempo este naturalmente tenderá a um equilíbrio, tornando-se assim mais resiliente aos efeitos de fatores externos, sejam eles bióticos ou abióticos, mas que possam interferir negativamente na produtividade das espécies cultivadas.

Sistemas de produção em que tem-se espécies de ciclo mais longo, como são as forrageiras, podem ser considerados de média complexidade. No entanto, em sistemas que há espécies arbóreas entre os componentes, a complexidade aumenta significativamente e, por conseguinte, exigem muito mais atenção quando do seu planejamento. Sendo adequadamente planejado esses sistemas são extremamente interessantes, principalmente por proporcionarem diversificação de renda e, do ponto de vista ambiental, apresentam elevada capacidade de mitigar gases de efeito estufa contribuindo em favor do combate às mudanças climáticas.

Sob o ponto de vista nutricional, torna-se necessário conhecer a quantidade de nutrientes que são exportados pelos grãos, pela fibra, pelo colmo quando se tratar de cana-de-açúcar ou pela a planta inteira quando se tratar por exemplo de milho para a silagem. A partir do conhecimento daquilo que é exportado, mais aquilo que existe no solo, é possível se estabelecer um balanço e a partir daí, com base na estimativa de produção, fazer a adubação.

Os sistemas de produção devem ser manejados, considerando a diversidade deles. Sistemas mais diversificados são sustentáveis, no entanto, devem ser tratados de forma integrada.

Fonte: Embrapa

Foto de capa: Créditos Tadário Kamel de Oliveira – Divulgação Embrapa Agropecuária Oeste

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