• Cultivar é resistente ao nematoide-das-galhas, praga que parasita as raízes e reduz a produtividade das plumas em até 40%.
  • Principal doença do algodoeiro no Brasil, a mancha de ramulária é provocada por um fungo e demanda em torno de oito pulverizações de fungicida por safra. Cada aplicação custa mais de R$100 por hectare.
  • Por ser resistente à doença, o novo algodão poupa recursos financeiros e reduz impactos ambientais.
  • BRS 500 B2RF é indicada para o Cerrado, bioma afetado pela mancha de ramulária, além de regiões que sofrem com o nematoide-das-galhas.
  • Produtividade média registrada é de 5,7 t de algodão com caroço por hectare, enquanto média brasileira no Cerrado foi de 4,3 t/ha, segundo a Abrapa.
  • Fibra produzida é média (30,4 mm) e considerada de qualidade para a indústria têxtil.
  • Nova tecnologia também é resistente à doença azul típica e à mancha angular.

A mais nova cultivar de algodoeiro transgênico desenvolvida pela Embrapa – BRS 500 B2RF – alia alta produtividade à resistência às principais doenças, com destaque para a mancha de ramulária e o nematoide-das-galhas, dois sérios problemas enfrentados hoje pelos cotonicultores.

A mancha de ramulária, causada pelo fungo Mycosphaerella areola, atualmente é considerada a principal doença do algodoeiro no País, demandando em torno de oito pulverizações de fungicidas por safra em cultivares mais suscetíveis ao patógeno. Já o nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita) é uma doença de difícil controle. A praga parasita as raízes de diversas culturas e no algodoeiro compromete a produtividade da pluma em até 40%. O melhor método de controle dos nematoides é o uso de culturas e cultivares resistentes ou tolerantes.

Uma alternativa para o manejo desses problemas, a BRS 500 B2RF, é indicada para cultivo na região do Cerrado, onde a ocorrência da mancha de ramulária é prevalente, ou em áreas com incidência de nematoide-das-galhas. Levantamentos recentes realizados nos dois principais estados produtores de algodão detectaram infestação com esse nematoide em 25 % das áreas amostradas no Mato Grosso e em 37 % na Bahia. Os dados são do Instituto Matogrossense do Algodão (IMAmt), Embrapa AlgodãoFundação Bahia, Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) e Instituto Brasileiro do Algodão (IBA).

“Em 27 ensaios conduzidos em ambiente do Cerrado nas safras 2017/2018 e 2018/2019 a cultivar BRS 500 B2RF teve severidade mínima de mancha de ramulária, demonstrando estabilidade dessa característica”, conta o pesquisador responsável pela obtenção da cultivar, Nelson Suassuna.

Ele explica que o fato de não demandar aplicações de fungicidas para o controle da mancha de ramulária implica redução dos custos de produção e representa um ganho ambiental. “Não raro, são realizadas oito aplicações de fungicidas por safra para controle da doença em cultivares suscetíveis, com um custo superior a R$ 100,00 por aplicação por hectare. Considerando a área nacional cultivada com algodoeiro, a adoção dessa tecnologia pode trazer ganhos substanciais”, afirma. “A resistência parcial ao nematoide-das-galhas também dá segurança ao produtor em áreas infestadas, evitando perdas associadas a esse patógeno”, acrescenta.

Além da alta resistência à mancha de ramulária e resistência parcial ao nematoide-das-galhas, a cultivar BRS 500 B2RF também é resistente à principal virose da cultura no Brasil, conhecida como doença azul típica, e à mancha angular.

Associada à resistência múltipla a doenças, a cultivar ainda apresenta bom desempenho agronômico. A produtividade média obtida em 27 locais foi de 5.667 quilos por hectare de algodão em caroço e de 2.579 quilos por hectare de fibra. Na última safra, a produtividade média do algodão em caroço no Cerrado foi de 4.287 kg/ha e de 1.802,11 kg/ha de fibra, de acordo com dados da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). A BRS 500 B2RF possui ainda qualidade de fibra desejável para a indústria têxtil, com valores médios de comprimento da fibra de 30,4 mm (fibra média); índice micronaire de 4,6 e resistência da fibra de 30,8 gf.tex-1.

A nova cultivar conta com a tecnologia Bollgard II Roundup Ready Flex (B2RF, da Bayer), que confere resistência a algumas pragas lepidópteras (lagartas) e tolerância ao herbicida glifosato em todas as fases de desenvolvimento da cultura.

A pesquisa

Foi necessária mais de uma década de pesquisas para combinar todas essas características em um único material. O pesquisador Camilo Morello, líder da equipe de melhoramento do algodoeiro da Embrapa, lembra que em 2004 tiveram início os estudos de identificação das fontes de resistência à mancha de ramulária e a nematoides. A partir dessas fontes, foi obtida a cultivar convencional resistente BRS 372, em 2014, doadora de resistência completa à mancha de ramulária e resistência parcial ao nematoide-das-galhas para a cultivar BRS 500 B2RF.

“Foram anos intensos de pesquisa para encontrar fontes de resistência, entender a herança da resistência e desenvolver marcadores moleculares para auxiliar no processo de seleção. Por fim, foram introduzidas as tecnologias transgênicas [FRdC1] para auxiliar no manejo de plantas invasoras e insetos-praga, Roundup Ready Flex(RF) e Bollgard II (B2), respectivamente, com a geração de populações, seleção de plantas e progênies, teste de linhagens em diferentes ambientes, até chegarmos à cultivar”, relata Morello.

O mercado

A BRS 500 B2RF estará disponível aos produtores na próxima safra, de acordo com o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Algodão, João Henrique Zonta. A empresa licenciada para comercialização das sementes é a IST Cotton Brasil Ltda., que está realizando ações de divulgação da cultivar. “Este ano devemos colher cerca de nove toneladas de sementes genéticas, o que viabilizará a produção de sementes básicas para atendimento ao mercado a partir da próxima safra”, afirma.

Fonte: Embrapa Algodão

Foto de capa: BRS 500 B2RF – Divulgação Embrapa – Créditos: Nelson Suassuna 

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