O objetivo deste trabalho foi avaliar a porcentagem de ramificações em diferentes genótipos de soja, em seis épocas de semeadura.
Autores: Vladison Fogliato Pereira1, Nereu Augusto Streck1 ,Michel Rocha da Silva1, Alexandre Ferigolo Alves1, Bruna San Martin Rolim Ribeiro1, Giovani Antonello Barcellos1, Felipe Andrade Tardetti1, Josias Moreira Borges1, Amanda Thirza Lima Santos1, Rômulo Pulcinelli Benedetti1, Ioran Guedes Rossato1, Isabeli Wolski Brendler1

A Soja é a principal leguminosa de grãos produzida no mundo, sendo o Brasil um grande produtor e exportador desse grão. No ano agrícola 2017/2018 foram semeados mais de 35 milhões de hectares, com produção superior a 118 milhões de toneladas (CONAB, 2018), configurando a importância dessa cultura para economia do País. Entretanto, existe a necessidade de ampliar os estudos com foco em maximizar a produtividade de soja, principalmente devido as cultivares modernas que apresentam características ecofisiológicas distintas e maior potencial produtivo em relação as cultivares de soja antigas.
Dentre as características ecofisiológicas marcantes em cultivares de soja moderna, destacam-se a precocidade e o hábito de crescimento semideterminado e indeterminado. Essas características possibilitaram a intensificação, o aumento do potencial e da estabilidade produtiva, mesmo em regiões com precipitações irregulares (Zanon et al., 2016b). Também, a padronização do ciclo das cultivares de soja através dos grupos de maturidade relativa (GMR), aumentou a eficiência no posicionamento das cultivares de soja em diferentes regiões (latitudes) do País, de acordo com a resposta da planta ao fotoperíodo (Alliprandini et al.,2009). Entretanto, ainda não é clara a resposta das características morfológicas, como o número de ramificações, em cultivares modernas de soja.
A caracterização do número de ramificações é muito importante, pois a variação nesse caractere morfológico afeta diretamente o índice de área foliar (IAF) e, consequentemente, na resposta do manejo sobre a produtividade. Por exemplo, as ramificações contribuem em média com 16 % do IAF, variando de 3% a 46% de acordo com a cultivar, densidade de plantas e época de semeadura. ( Zanon et al., 2018). Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a porcentagem de ramificações em diferentes genótipos de soja, em seis épocas de semeadura.
O experimento foi conduzido durante o ano agrícola de 2017/2018, no Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria. Seis épocas de semeadura foram utilizadas nos meses de agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro e janeiro, compreendendo semeaduras antes, durante e após o zoneamento de risco climático, com a utilização de 3 cultivares: NS 4823 RR, TMG 7062 e TEC 7849 IPRO, com GMR 4.8, 6.2, e 7.8, respectivamente. O delineamento empregado foi de blocos ao acaso com 4 repetições, espaçamento entre linhas de 0,45 m e densidade de semeadura de 14 plantas m-1. A recomendação de adubação e manejo fitossanitário foram realizadas para a obtenção de produtividade acima de 6 Mg ha-1 e auxilio de irrigação para evitar o déficit hídrico.
Plantas foram identificadas aleatoriamente, com arame colorido, para realizar avaliações de área foliar. Durante a colheita se quantificou o número final de ramificações na haste principal das plantas.
Na figura 1 se observa que ocorre variação no número de ramificações de acordo com a época de semeadura e GMR das cultivares. Na semeadura de agosto, por exemplo, as ramificações apresentaram os menores valores, entre 1 e 2 ramificações em média. Já na semeadura de outubro houve maior número de ramificações, variando de 2 a 5, entre os GMRs. Na semeadura mais tardia de janeiro, o número de ramificações não foi diferente entre os GMRs.
Nesse sentido, a medida que a época de semeadura se aproxima do período recomendo pelo zoneamento de risco climático, aumenta o número de ramificações. Além disso, as cultivares respondem de maneira distinta, em semeaduras mais precoces, as plantas serão expostas a dias longos, elevando sua capacidade na emissão de ramificações (Zanon et al., 2015b). Nas semeaduras mais tardias, o número de ramificações é menor, pois ocorre a redução do fotoperíodo e consequentemente o menor período vegetativo ( Sinclair et., 2005 ).
De acordo com estes resultados, a escolha do grupo de maturidade relativa é importante no ponto de vista prático, porque podemos maximizar ou reduzir a emissão de ramificações. De acordo com o GMR e a época de semeadura, a duração do ciclo de desenvolvimento é alterada, podendo ampliar ou reduzir a capacidade de emissão de ramificações, semeando no período preferencial ou com atraso, respectivamente.
Figura 1 – Número de ramificações, em semeaduras de agosto a janeiro, com GMRs curto, médio e longo, representados pelas cores de preenchimentos dos círculos. A linha tracejada, pontilhada e contínua, representam o GMR 7.8, 6.2 e 4.8, respectivamente. Durante seis épocas de semeadura.
Na figura 2 se verifica que a altura média das plantas apresenta uma influencia sobre o número de ramificações. Observando as semeaduras de agosto, outubro e janeiro, a altura das plantas ficaram em média de 30,144 e 83 cm, respectivamente. E as ramificações aumentaram de acordo com o aumento da estatura das plantas, variando de 1 a 5, em média. Na semeadura de agosto, as plantas com GMR 4.8 apresentaram menor número de ramificações. As maiores alturas e número de ramificações aconteceram na época de outubro, em média. A cultivar com GMR 7.8 teve o maior número de ramificações e altura de plantas, isso se deve a juvenilidade diferentes nos grupos de maturidade, onde o período vegetativo foi maior, refletindo na altura de plantas e ramificações (Hartwing & Kiil, 1979) . Nesse sentido, para semeadura no período recomendado se deve ter atenção com GMR longo, por apresentar maior estatura, podendo ocorrer acamamentos.
Figura 2 – Relação do número de ramificações com a altura de plantas, submetidas a seis épocas de semeadura. Os GMRs são representados pela diferença de cores nas barras, durante as semeaduras de agosto a janeiro. No eixo x são os valores das alturas médias das plantas, conforme as épocas de semeadura.
Confira nossa galeria de cursos TOTALMENTE ONLINE! Agregue conhecimento, faça já!
Na tabela 1 é possível observar que o número de ramificações, pode influenciar na produtividade das cultivares. No entanto a cultivar de GMR 4.8 nas épocas de outubro e janeiro, apresentaram três ramificações, em média, diferente das demais épocas que obtiveram entre 1 e 2. Também ocorreu a redução no número de ramificações na cultivar de GMR 7.8 nas épocas de agosto e setembro. Desta forma o maior número de ramificações resultou em maiores produtividades. Isso se obteve devido a época de semeadura adequada e também pela resposta da planta a duração da fase vegetativa( juvenilidade ). Com isso o produtor que semear nas épocas de outubro a novembro, independente do GMR, o número de ramificações será pouco afetado e o potencial produtividade se manterá alto.
Tabela 1 – Produtividade dos três grupos de maturidade relativa, em seis épocas de semeadura, conforme o número de ramificações.
Conclui-se que com 2 a 4 ramificações é possível obter produtividades de 4 a 6 Mg/ha-1. Semeadura na época recomendada de outubro e novembro, independente do GMR, resultará em maiores produtividades e em maior número de ramificações.
Referências
ALLIPRANDINI, L. F. et al. Understanding soybean maturity groups in brazil: environment, cultivar classification and stability. Crop Science, v.49, p.801808, 2009.
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento de Safra Brasileira Grãos, Brasília, v.5 , Safra 2017/18, n. 9, nono levantamento, junho 2018.
HARTWIG, E. E; KIIHL, R. A. S. Identification and utilization of a delayed flowering character in soybean for short-day conditions. Field Crops Research, v.2, p.145-151, 1979.
SETIYONO, T. D., Bastidas, A. M., Cassman, K. G., Weiss, A., Dobermann, A., & Specht, J. E. (2011). Nodal leaf area distribution in soybean plants grown in high yield environments. Agronomy Journal, 103, 1198-1205. http://dx.doi.org/10.2134/agronj2011.0051.
SINCLAIR, T. R. et al. Comparison of vegetative development in soybean cultivars for low-latitude environment. Field Crops Research, v.92, p-53-59, 2005.
ZANON, A. J. et al. Contribuição das ramificações e a evolução do índice de área foliar em cultivares modernas de soja. Bragantia, v.74, p.279-290, 2015a.
ZANON, A. J. et al. Desenvolvimento de cultivares de soja em função do grupo de maturação e tipo de crescimento em terras altas e baixas. Bragantia, v.74, p.400-411, 2015b.
ZANON, A. J. et al. Efeito do tipo de crescimento no desenvolvimento de cultivares modernas de soja após o início do florescimento no Rio Grande do Sul. Bragantia, v.75, p.445-458, 2016b.
ZANON, A.J. et al. Ecofisiologia da soja: Visando altas produtividades. Santa Maria, 2018.
Informações dos autores:
1Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Avenida Roraima número 1000, CEP 97105-900 Santa Maria – RS, Brasil.
Disponível em: Anais da 42ª Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul, Três de Maio – RS, Brasil, 2018.