Em sistemas de produção agrícola, especialmente se tratando do cultivo de culturas anuais, o controle de plantas daninhas é essencial para reduzir as perdas em função da matocompetição, bem como para o manejo integrado de pragas e doenças, eliminando plantas hospedeiras. Visando o manejo integrado de plantas daninhas, a cobertura do solo é uma das principais e mais importantes ferramentas de manejo no sistema plantio direto.
Além de reduzir a emergência de plantas daninhas fotoblásticas positivas, reduzindo os fluxos de emergência das sementes contidas no banco de sementes do solo, a boa cobertura do solo com palhada residual, é essencial para a conservação do solo, reduzindo o impacto da gota da chuva, e consequentemente as erosões superficiais, além de contribuir também para reduzir a amplitude térmica do solo e estimular o desenvolvimento da sua fauna edáfica.
Entretanto, conhecer a cultura a ser utilizada como cobertura do solo, tanto na rotação de culturas quando no período entressafra, é essencial para evitar prejuízos no estabelecimento da cultura agrícola no campo. Da mesma forma que algumas espécies podem atuar inibindo a germinação de sementes de plantas daninhas, essas espécies também podem prejudicar o estabelecimento de culturas agrícolas no campo em função da alelopatia de algumas plantas.
O que é alelopatia?
A alelopatia refere-se aos efeitos biológicos negativos das plantas de uma espécie vegetal sobre o desenvolvimento e o crescimento de plantas de outra espécie, por meio da liberação de substâncias químicas orgânicas no ambiente comum (Pereira & Melo, 2008). Através da liberação de compostos alelopáticos, tais como substâncias tóxicas ou inibidoras do crescimento vegetal, pela exsudação pelas raízes e/ou lixiviação da matéria orgânica produzida, algumas espécies exercem influência sobre o desenvolvimento de outras.
Uma das espécies mais comuns a apresentar a alelopatia é o azevém (Lolium multiflorum), espécie comumente encontrada no Sul do Brasil, especialmente nos períodos entressafra, sucedendo a cultura da soja, que apresenta aptidão tanto para o pastejo, quando para a cobertura do solo.
Demonstrando o efeito alelopático do azevém, Paulino et al. (2017) avaliando o potencial alelopático de extratos de ervilhaca, aveia-preta e azevém, na germinação de sementes e crescimento inicial de plântulas de milho, observaram que os compostos alelopáticos presentes nessas culturas de cobertura alteram o percentual de plântulas normais e a velocidade de germinação de sementes de milho, fato também relacionado com a dose do composto alelopático.
Avaliando o “manejo de plantas de cobertura no controle de plantas daninhas na cultura do milho”, Moraes et al. (2009) observaram que dentre as plantas de cobertura avaliadas (azevém, nabo-forrageiro e trevo-vesiculoso) o azevém se destacou, proporcionando maior redução do número de plantas daninhas emergidas, tanto aos 15 dias após a emergência (DAE) da cultura do milho, quando aos 45 DAE.
Quadro 1. Número de plantas daninhas emergidas (m2), em função das coberturas de solo aos 15 e 45 dias após emergência da cultura do milho. CAP/UFPel, Capão do Leão-RS, 2006/07 (Moraes et al., 2009).

Cabe destacar que embora a alelopatia possa exercer efeito sob culturas cultivadas, ela também pode ser vista como ferramenta de manejo, exercendo influência sobre a germinação de plantas daninhas. Sendo assim, deve-se conhecer a cultura utilizada como planta de cobertura, atentando para seu efeito alelopático, manejando-a com antecedência no caso da implantação sucessora de culturas agrícolas.
Referências:
MORAES, P. V. D. et al. MANEJO DE PLANTAS DE COBERTURA NO CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO MILHO. Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 27, n. 2, p. 289-296, 2009. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/WsMgddGjSFXHwy6GwyyXhsh/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 25/04/2023.
PAULINO, R. A. et al. POTENCIAL ALELOPÁTICO DE EXTRATOS DE ERVILHACA (Vicia villosa) AVEIA PRETA (Avena strigosa) E AZEVÉM (Lolium multiflorum) NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES E CRESCIMENTO INICIAL DE PLÂNTULAS DE MILHO. Revista Thema, v. 14, n. 4, 2014. Disponível em: < http://periodicos.ifsul.edu.br/index.php/thema/article/view/739 >, acesso em: 25/04/2023.
PEREIRA, W.; MELO, W. F. MANEJO DE PLANTAS ESPONTÂNEAS NO SISTEMA DE PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS. Embrapa, Circular Técnica, n. 62, 2008. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPH-2009/34841/1/ct_62.pdf >, acesso em: 25/04/2023.
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