Em condições de campo, inúmeros fatores podem interferir na produtividade e sanidade de uma cultura, variando desde condições ambientais até práticas de manejo. Conhecido no meio agrícola por ser um meio trifásico composto por partes de ar, água e sólidos, o solo é o principal substrato para a produção agrícola. Dentre os componentes desse meio, tanto a falta de água quando a falta de material sólido impossibilitam o crescimento e desenvolvimento das plantas a campo, sem prestar sustentação a elas e nem suprir suas necessidades hídricas e nutricionais.
Foto de capa: Luiz Gustavo Denardin.
Mas será que a ausência de oxigênio prejudica o crescimento e desenvolvimento de uma planta?
A hipóxia, como é conhecida a baixa concentração de oxigênio, pode prejudicar o crescimento e desenvolvimento de plantas além de afetar a fauna edáfica do solo, especialmente se tratando de plantas leguminosas como a soja. A baixa concentração de oxigênio é muito comum em áreas de várzea em que grande parte do tempo o solo permanece alagado. Nas regiões Sul do Brasil a soja é cada vez mais cultivada nos ambientes de várzea como forma de rotação de culturas com o cultivo do arroz irrigado, facilitando o controle de certas pragas e doenças e também servindo como alternativa no controle de plantas daninhas do arroz irrigado.
Segundo BADINELLI (2008), os efeitos do estresse por saturação dos solos das áreas, que resultam na baixa concentração de oxigênio variam muito da cultura, estádio de desenvolvimento, cultivar e tempo de exposição ao estresse. No entanto, o autor destaca que principalmente em leguminosas, efeitos como a redução do crescimento de raízes e parte aérea além da diminuição do número de nódulos de fixação biológica de nitrogênio são comumente observados.
A baixa concentração de oxigênio no solo além de prejudicar a simbiose entre as bactérias fixadoras de nitrogênio e a planta, também pode interferir na absorção de alguns nutrientes pelas plantas, fato que leva a um desequilíbrio nutricional na planta, podendo causar deficiência do nutriente menos absorvido e comprometer a produtividade da cultura. Em alguns casos, BADINALLI (2008) destaca que efeitos de clorose da parte aérea das plantas podem ser observadas.
Figura 1. Soja sob condições de excesso hídrico.

FELDMANN et. al, (2014), avaliando a resposta de duas cultivares de soja submetidas a diferentes períodos de alagamento encontraram reduções de massa seca de parte aérea e raízes (tabela 1), fato que demonstra a redução do crescimento e desenvolvimento de cultivares não tolerantes a ambientes alagados, o que pode resultar em considerável redução da produtividade da cultura.
Tabela 1. Massa seca da parte aérea e das raízes de plantas de soja, submetidas a diferentes períodos de alagamento (período em dias).

Entretanto, cultivares mais tolerantes ao excesso hídrico apresentam melhor crescimento e desenvolvimento nesse ambientes, sendo alternativas para cultivo de soja em áreas com propensão ao excesso hídrico. FANTES et. al, (2010) avaliaram a resposta fisiológica de cultivares de soja submetidas ao alagamento em diferentes estádios e encontraram resultados que demonstram a tolerância de algumas cultivares a ambientes alagados. Dentre as cultivares analisadas pelos autores, a cultivar BRS 213 se destacou apresentado maior tolerância. Na figura 2 é possível avaliar o comportamento das cultivares BRS 267, BRS 257 e BRS 213 frente ao acúmulo de matéria seca nos grãos e número de grãos por planta.
Figura 2. Matéria seca e número de grãos de cultivares de soja submetidas ao alagamento em diferentes estádios do seu desenvolvimento.

Cabe destacar que assim como a fração de água e material sólido do solo, a fração de ar (oxigênio) desempenha papel fundamental no desenvolvimento das plantas, em especial no cultivo da soja. Entretanto, com o avanço do melhoramento genético e pesquisas relacionadas ao tema, algumas cultivares modernas apresentam tolerância a ambientes com excesso hídrico, contudo o período de estresse e o estádio de desenvolvimento da cultura podem interferir no crescimento e desenvolvimento da cultura, sendo assim, é fundamental o planejamento das práticas de manejo e implantação da cultura nessas áreas.
Veja também: Adubação nitrogenada em soja após estresse por hipóxia em terras baixas
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Referências:
BADINELLI, P. G. RESPOSTAS BIOQUÍMICAS E FISIOLÓGICAS DE PLANTAS NODULADAS DE SOJA SUBMETIDAS À HIPOXIA. Universidade Federal de Pelotas, 2008.
FANTE, C. A. et. al. RESPOSTAS FISIOLÓGICAS EM CULTIVARES DE SOJA SUBMETIDAS AO ALAGAMENTO EM DIFERENTES ESTÁDIOS. Bragantia, Campinas, v.69, n.2, p.253-261, 2010.
FELDMANN, N. A. et. al. RESPOSTA DE DUAS CULTIVARES DE SOJA SUBMETIDAS A DIFERENTES PERÍODOS DE ALAGAMENTO. 1° Simpósio de Agronomia e Tecnologia em Alimentos, FAI, 2014.
[…] de substâncias: os poros das raízes são responsáveis pela absorção de oxigênio, água e nutrientes do solo, permitindo que eles se movam através da planta até os caules, folhas […]