O milho é uma das principais culturas de verão em rotação de culturas com a soja, em diversas propriedades agrícolas. Além de trazer benefícios ao sistema plantio direto, contribuindo para a boa cobertura do solo e sustentabilidade da produção, o milho também desempenha função econômica, sendo altamente responsivo a adubação, especialmente se tratando dos macronutrientes Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K).
Levando em consideração que o milho deve ser uma cultura economicamente atrativa ao sistema de produção, elevar a produtividade das lavouras é um objetivo em comum de muitos produtores, principalmente quando o incremento da produtividade é resultado de estratégias de baixo custo.
Uma dessas estratégias é o cultivo do milho em sucessão a plantas de cobertura, cultivadas no período outono/inverno. Embora as condições climáticas possam variar em função da região do Brasil, se tratando da região Sul do país, espécies como a aveia-preta, a ervilhaca e o nabo-forrageiro são as prediletas para compor o cultivo de outono/inverno, cultivadas muitas vezes na forma de consórcio até mesmo de forma isolada (solteira).
O cultivo de “mix” (associações) de espécies de plantas de cobertura visa obter os melhores benefícios proporcionados por cada espécie. Espécies pertencentes á família (Poaceae), popularmente conhecidas como gramíneas são conhecidas por apresentar rápido crescimento e desenvolvimento, além de normalmente, apresentarem relação C/N (Carbono/Nitrogênio) alta em comparação a plantas pertencentes a família (Fabacea), conhecidas como leguminosas.
Essa característica confere às gramíneas maior tempo de permanência dos seus resíduos culturas sobre a superfície do solo. Em contrapartida, esses resíduos apresentam alto teor de carbono e baixo de nitrogênio, nutriente mais requerido pela cultura do milho. Já as leguminosas por sua vez, embora tenham sua palhada rapidamente degradada no solo, normalmente apresentam maior teor de Nitrogênio em sua composição. Após a decomposição de mineralização dos resíduos culturais, o Nitrogênio e outros nutrientes presentes nos resíduos culturais, passam a ficar disponíveis para a cultura sucessora, contribuindo para o aumento da produtividade.
Analisando o efeito de diferentes plantas de cobertura de inverno na fertilidade do solo e produtividade da cultura do milho, Michelon et al. (2019) observaram efeitos positivos no rendimento do milho cultivado em sucessão a plantas da família Fabacea, mesmo havendo baixas produtividades em uma safra analisada (2013/2014) em função da ocorrência de déficits hídricos.
Nas safras 2012/2013 (Figura 1 B) e 2013/2014 (Figura 1C), os tratamentos com cultivo isolado ou em consórcio de espécies Fabaceae apresentaram os maiores rendimentos de grãos de milho, comparativamente ao cultivo isolado das espécies Poaceae e Brassicaseae, destacando o consórcioaveia + ervilhaca + nabo e o cultivo isolado de tremoço, com valores atingindo 9.000 kg ha-1na safra 2012/2013 (Figura 1B) (Mechelon et al., 2019).
Figura 1. Rendimento de grãos de milho nas safras 2011/2012 (A), 2012/2013 (B), 2013/2014 (C), em função de diferentes tratamentos com plantas de cobertura do solo. Júlio de Castilhos, 2018.

Além de possibilitar o incremento de produtividade em comparação ao cultivo do milho sobre pousio, Michelon et al (2019) observaram que o cultivo de plantas de cobertura, em especial da ervilhaca e do consórcio aveia preta + ervilhaca + nabo forrageiro elevaram o teor de matéria orgânica e a disponibilidade de fósforo e potássio do solo.
Outro fato relevante, é que em algumas situações, dependendo do nível tecnológico e equipamentos da propriedade, é possível executar a semeadura do milho “no verde”, realizando o manejo da cobertura antes ou após a semeadura do milho. Além de possibilitar a redução da amplitude térmica do solo, trazendo melhores condições para o estabelecimento do milho no campo e contribuindo para a manutenção da umidade do solo, essa estratégia permite maximizar o uso dos nutrientes liberados pela palhada das plantas pela cultura do milho.
No caso da ervilhaca comum por exemplo, cerca de 46 kg de N são acumulados por tonelada de massa seca de parte aérea da planta, e a contribuição média de N dessa espécie é de 120 kg ha-1, variando de 50 kg ha-1 a 200 kg ha-1, entretanto, cabe destacar que 60% do N da fitomassa da ervilhaca são liberados durante os primeiros 30 dias após seu manejo. Em função disso, recomenda-se que a semeadura de milho ocorra num período de tempo não superior a uma semana após o manejo dessa espécie (Embrapa, 2017).
Figura 2. Milho semeado em sucessão à ervilhaca ainda em desenvolvimento.

Referências:
EICHOLZ, E. D. et al. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA O CULTIVO DO MILHO E SORGO NA REGIÃO SUBTROPICAL DO BRASIL: SAFRAS 2019/20 E 2020/21. Associação Brasileira de Milho e Sorgo, Sete Lagoas- MG, 2020. Disponível em: < https://www.agricultura.rs.gov.br/upload/arquivos/202011/23092828-informacoes-tecnicas-para-o-cultivo-do-milho-e-sorgo-na-regiao-subtropical-do-brasil-safras-2019-20-e-2020-21.pdf >, acesso em: 24/03/2023.
EMBRAPA. INDICAÇÕES TÉCNICAS PARA O CULTIVO DE MILHO E DE SORGO NO RIO GRANDE DO SUL SAFRAS 2017/2018 E 2018/2019. Embrapa, 2017. Disponível em: < https://www.agricultura.rs.gov.br/upload/arquivos/202003/12103455-livro-indicacoes-tecnicas-milho-sorgo-2017-18-e-18-2019.pdf >, acesso em: 24/03/2023.
MICHELON, C. J. et al. ATRIBUTOS DO SOLO E PRODUTIVIDADE DO MILHO CULTIVADO EM SUCESSÃO A PLANTAS DE COBERTURA DE INVERNO. Rev. Ciênc. Agrovet., Lages, SC, Brasil, 2019. Disponível em: < https://www.revistas.udesc.br/index.php/agroveterinaria/article/view/9872 >, acesso em: 24/03/2023.