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Plantas de cobertura: Custo ou investimento?

O uso de plantas de cobertura durante o período entressafra das culturas agrícolas é uma realidade de muitas propriedades agrícolas voltadas a sustentabilidade e rentabilidade do sistema de produção. Além dos conhecidos benefícios indiretos ao sistema de produção, contribuindo para a melhoria de atributos do solo, é comum relacionar as plantas de cobertura ao aumento da produtividade da cultura em sucessão.

Entretanto, em algumas situações, o cultivo de plantas de cobertura é considerado um custo desnecessário por alguns agricultores, visto que na mesma área onde se cultiva plantas de cobertura, poderia-se cultivar cereais de inverno a exemplo do trigo. Contudo, conforme apresentado por Myers (2023), o cultivo de plantas de cobertura traz sim benefícios ao sistema de produção, não só do ponto de vista do aumento da produtividade da cultura sucessora, como também da rentabilidade e lucratividade da atividade agrícola.

Segundo Myers (2023), um estudo desenvolvido pelo Soil Health Institute, avaliando 100 agricultores, constatou que 85% deles relataram um aumento na receita líquida para o milho e 88% dos agricultores observaram aumento na receita líquida da soja, em função do uso de práticas sustentáveis como o cultivo de plantas de cobertura. Além do relatório desenvolvido pelo Soil Health Institute resumindo 100 casos, outro grande estudo foi desenvolvido pelo USDA-SARE Cover Crop Economic (2019) incorporando dados de rendimento de 500 fazendas, ambos avaliando a economia e saúde do solo.

Embora avaliar o retorno econômico sobre o cultivo de plantas de cobertura seja uma tarefa complexa em função do grande número de variáveis envolvidas, a primeira consideração é o custo da semeadura da cultura de cobertura e o impacto nos rendimentos. Conforme dados observados no relatório SARE, para o fator de rendimento, (assumindo dados de 500 propriedades), é possível observar que os rendimentos melhoraram ao longo do tempo, conforme destacado na Tabela 1.

Tabela 1. Com base na análise de regressão dos dados de rendimento de aproximadamente 500 agricultores que forneceu dados de rendimento em 2015 e 2016 para campos com e sem culturas de cobertura, mas de outra forma solos e gestão comparáveis. O impacto do rendimento mostrado durante um, três e cinco anos são todos estatisticamente significativos.

Adaptado: Myers (2023)

Já com relação ao lucro líquido da atividade agrícola, embora no primeiro ano de cultivo das plantas de cobertura não se tenha observado ganho líquido, aos três e cinco anos de cultivo já foi possível observar lucratividade em função do cultivo de plantas de cobertura (Tabela 2).

Tabela 2. Lucro líquido por acre para milho e soja após um, três, e cinco anos de cultivo de plantas de cobertura, com base em dados de rendimento efetivo das explorações (2015-16) e outros dados da SARE/CTIC Inquérito Nacional às Culturas de Cobertura.

Os números acima assumem condições meteorológicas médias e condições de gestão típicas Adaptado: Myers (2023).

Cabe destacar que além do efeito direto sobre a produtividade e lucratividade da atividade agrícola, o cultivo de plantas de cobertura também contribui efetivamente para a manutenção da sustentabilidade das culturas anuais, bem como manejo de plantas daninhas e redução do uso de herbicidas.

O relatório SARE mostrou um benefício econômico médio esperado de US$ 27 por acre quando as culturas de cobertura, como o centeio de cereais, são usadas para auxiliar no manejo de plantas daninhas resistentes a herbicidas. Além disso, mostrou um benefício de US$ 15 por acre com o uso de culturas de cobertura, com base na pesquisa da Ohio State University comparando o uso de culturas de cobertura versus subsolagem profunda em solos compactados e custos médios de maquinário para subsolagem, demonstrando ser uma interessante ferramenta para uso em solos compactados (Myers, 2023).

Conforme destacado por Myers (2021), em 2021, o Soil Health Institute (SHI), uma organização sem fins lucrativos conhecida internacionalmente com sede na Carolina do Norte, divulgou resultados de 100 estudos de caso detalhados de agricultores de commodities de 9 estados representativos no Cinturão do Milho (IA, IL, IN, MI , MN, NE, OH, SD e TN).

Dos 100 agricultores, 85% relataram um aumento na receita líquida de milho pelo uso de práticas de saúde do solo (cultivo de plantas de cobertura). Para todos os agricultores, o benefício líquido médio para o milho com o uso de práticas de saúde do solo foi de US$ 51,60 por acre. Da mesma forma, 88% dos agricultores relataram um aumento na receita líquida para a soja e, em todas as fazendas, o benefício econômico líquido médio para a soja com o uso de práticas de saúde do solo foi de US$ 44,89 por acre (figura 1), (Myers, 2023).

Figura 1. Mudança na renda agrícola líquida de milho e soja para 100 fazendas após a adoção de um sistema de manejo de saúde do solo em comparação com um sistema convencional. Figura cortesia do Soil Health Institute do relatório de 2021 “Economics of Soil Health Systems on 100 Farms”.

Adaptado: Myers (2023)

Além disso, o autor explica que os custos de produção de milho foram $ 24,00 por acre a menos com o uso de plantas de cobertura, enquanto os custos de produção de soja foram $ 16,57 a menos por acre. Em resumo, além de serem mais produtivas e sustentáveis, as propriedades que aderem ao cultivo de plantas de cobertura são mais lucrativas e rentáveis, demonstrando assim, que o cultivo de plantas de cobertura não é custo, e sim investimento.

Confira o material completo clicando aqui!



Referências:

MYERS, R. How Conservation Practices Influence Agricultural Economic Returns: Implications For the Farm Finance Community. Agree: Transforming food & ag policy; foodandagpolicy.org, 2023. Disponível em: < https://foodandagpolicy.org/wp-content/uploads/sites/17/2023/03/How_Conservation_Practices_Influence_Agricultural_Economic_Returns-1.pdf >, acesso em: 29/03/2023.

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Equipe Mais Soja
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