A utilização de plantas de cobertura do solo representa uma estratégia importante para preservar a produtividade das áreas agrícolas. Essas plantas desempenham o papel de proteger e integrar o manejo de rotação de culturas no sistema de cultivo. Os benefícios das plantas de cobertura vão além da simples cobertura, proporcionando melhorias significativas na saúde e qualidade do solo.

Em termos de propriedades físicas, químicas e biológicas, as plantas de cobertura contribuem para o equilíbrio e funcionamento do solo como um ecossistema. Na superfície do solo, elas desempenham um papel fundamental no controle da erosão, reduzindo o impacto das gotas de chuva e aumentando a sua resistência à degradação. Além disso, auxiliam na regulação térmica do solo, na redução da evapotranspiração e no controle de plantas daninhas, seja competindo por recursos essenciais, como água, luz e nutrientes, através de efeitos alelopáticos, ou mesmo atuando como uma barreira física contra a emergência das plantas daninhas (Carvalho et al., 2022).

Figura 1. Benefícios ao funcionamento do solo fornecidos pela utilização de plantas de cobertura.
Fonte: Carvalho et al. (2022).

Geralmente, as plantas de cobertura mais eficientes no manejo e construção do perfil do solo, apresentam sistemas radiculares mais vigorosos e profundos, que tem a capacidade de romper as camadas compactadas e aprimorar a estrutura do solo. Algumas espécies se destacam pelo seu potencial em aumentar a matéria orgânica e enriquecer o solo com nutrientes.

Outras características, como o potencial de produção de fitomassa vegetal e a capacidade de absorver e acumular nutrientes, também merecem atenção, pois estão diretamente ligadas à ciclagem de nutrientes, o que pode contribuir para melhorar a eficiência na utilização de fertilizantes. Porém, ao escolher as culturas de cobertura para melhorar as propriedades do solo, é essencial levar em conta as condições do solo, as características do sistema de produção, o clima da região e a época de semeadura.

De acordo com Redin et al. (2016), é comum a utilização de plantas de cobertura do solo em consórcio com outras espécies. Os resíduos deixados pelas plantas de cobertura, juntamente com os das culturas comerciais em sucessão ou rotação, desempenham um papel fundamental na recuperação, manutenção e/ou melhoria das propriedades químicas, físicas e, especialmente, biológicas do solo. Essa prática favorece a criação de um ambiente propício para o crescimento e desenvolvimento das plantas.

Além disso, o autor destaca que as plantas de cobertura do solo, auxiliam no controle natural de pragas e doenças, como os nematoides fitopatogênicos, que têm menor incidência em solos com maiores teores de matéria orgânica. Os resíduos das plantas de cobertura são importantes, pois representam as principais formas de entrada e acúmulo do carbono (C) orgânico no solo, fornecem nitrogênio (N) devido à capacidade de fixação biológica das espécies de Fabaceae e contribuem para o incremento de outros nutrientes para as culturas em sucessão.

Nutrientes para o solo

O nitrogênio é um nutriente essencial para o crescimento e desenvolvimento das culturas agrícolas, e durante o processo de decomposição dos resíduos vegetais das plantas de cobertura, ocorre a liberação gradual de nutrientes para o solo e para as culturas subsequentes. Esse processo proporciona um suprimento contínuo de nutrientes para as culturas estabelecidas em sucessão. Especialmente em culturas com uma alta demanda por nitrogênio, as plantas de cobertura podem desempenhar um papel importante como aliadas, fornecendo uma fonte adicional desse nutriente essencial.

Segundo Ziech et al. (2016), ao longo de um período de 90 dias, o uso de leguminosas proporcionou à cultura sucessora, proveniente da fixação biológica de nitrogênio (FBN), até 72 Kg ha-1 de nitrogênio. O tremoço branco e a ervilhaca comum foram as leguminosas que mais liberaram nitrogênio durante o processo de decomposição, representando, respectivamente, 60% e 76% da quantidade total desse nutriente presente na palhada.

Por outro lado, as gramíneas demonstraram uma menor taxa de liberação de nitrogênio para a cultura sucessora. Ao final do período avaliado, a liberação foi de aproximadamente 49% do total de nitrogênio presente em sua constituição. Essa liberação foi cerca de três vezes menor em comparação com a ervilhaca comum.

Figura 2. Liberação de Nitrogênio (N) pelas plantas de cobertura de inverno em sistema de cultivo antecedendo a cultura do milho. A+E+N= Aveia+Ervilhaca+Nabo; A+E= Aveia+Nabo.
Fonte: Ziech et al. (2014).

As plantas de cobertura são essenciais na melhoria da qualidade do solo e na sustentabilidade dos sistemas agrícolas. Com a presença de sistemas radiculares vigorosos, capacidade de incrementar a matéria orgânica e ciclagem de nutrientes, essas culturas oferecem benefícios significativos para a saúde do solo e a produtividade das lavouras.

Ao selecionar e manejar adequadamente as plantas de cobertura, é possível não apenas melhorar as características do solo, mas também reduzir a erosão, suprimir plantas daninhas e promover a biodiversidade, resultando em sistemas agrícolas sustentáveis a longo prazo.

Cuidados ao selecionar a espécie:

Para que as plantas de cobertura sejam benéficas para o sistema, Passos et al. (2013) destacam que diversos cuidados devem ser tomados. Nesse sentido, no momento de selecionar a espécie, é importante responder às seguintes perguntas:

  • Há necessidade de inserir ao sistema plantas para geração de cobertura viva ou morta?
  • Há conhecimento suficiente sobre a espécie escolhida e sobre formas de manejo da mesma (herbicidas ou outros controles disponíveis)?
  • Quanto de biomassa seca a planta fornece nas suas condições? Acima de 5 toneladas de matéria seca por hectare?
  • A espécie é uma planta fixadora de nitrogênio?
  • A espécie é hospedeira alternativa de pragas insetos ou doenças?
  • A espécie produz semente que se colhida, poderá ser utilizada na próxima safra ou tem sementes de baixo custo?
  • Existem informações sobre efeitos alelopáticos negativos da planta sobre as culturas de sucessão e rotação?

Veja mais: Ervilhaca (Vicia sativa): uma alternativa interessante como cobertura de solo



Referências:

CARVALHO, M. L. et al. GUIA PRÁTICO DE PLANTAS DE COBERTURA: ASPECTOS FITOTÉCNICOS E IMPACTOS SOBRE A SAÚDE DO SOLO. ESALQ, 2022. Disponível em: < https://www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/view/782/696/2581 >, acesso em: 12/03/2024.

PASSOS, A. M. A. et al. SISTEMA PLANTIO DIRETO: PLANTAS DE COBERTURA. Embrapa Rondônia. Porto Velho – RO, 2013. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/126122/1/folder-plantiodireto.pdf >, acesso em: 12/03/2024.

REDIN, M. et al. PLANTAS DE COBERTURA DE SOLO E AGRICULTURA SUSTENTÁVEL: ESPÉCIES, MATÉRIA SECA E CICLAGEM DE CARBONO E NITROGÊNIO. Manejo e Conservação do Solo e da Água em Pequenas Propriedades Rurais do Sul do Brasil: Práticas alternativas de manejo visando a conservação do solo e da água, cap. 1. UFRGS, Porto Alegre – RS, 2016. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/149123/001005239.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 12/03/2024.

ZIECH, A. R. D. et al. PLANTAS DE COBERTURA DO SOLO NA MELHORIA DO SISTEMA PLANTIO DIRETO. Revista Plantio Direto, Rotação de Culturas, 2014. Disponível em: < https://www.plantiodireto.com.br/storage/files/141/7.pdf >, acesso em: 12/03/2024.

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