O advento do sistema plantio direto (SPD) foi um marco para a agricultura brasileira, trazendo benefícios diretos e indiretos para os sistemas de produção agrícola. Além de possibilitar a redução das erosões superficiais, e a perda de solo, o sistema plantio direto traz benefícios como a melhoria de atributos físicos, biológicos e químicos do solo, a otimização do uso de fertilizantes, favorece a absorção de água e nutrientes, e muito mais.

O Sistema plantio direto baseia-se em três premissas básicas, sendo elas: Revolvimento mínimo do solo (não revolvimento do solo), cobertura permanente do solo e a rotação de culturas. Sendo assim, para um SPD eficiente, além da  formação de uma boa camada de palha, é fundamental realizar a rotação de culturas.

A rotação de culturas permite a quebra do ciclo de determinadas pragas e patógenos, além de possibilitar a rotação de ingredientes ativos de inseticidas, fungicidas e herbicida, contribuindo para o manejo da resistência de pragas, doenças e plantas daninhas aos defensivos agrícolas. Além disso, a rotação de culturas, por meio do emprego de plantas de cobertura, traz significativas contribuições para a sustentabilidade e rentabilidade das culturas agrícolas.

Contudo, nem sempre definir as culturas em rotação é uma tarefa fácil, além de ajustar a época de semeadura das culturas de interesse econômico, quando trabalhamos com plantas de cobertura, é preciso pensar na época de semeadura, produção de matéria seca, persistência da palhada, família da espécie a capacidade em ciclar e/ou fixar nutrientes.

Plantas pertencentes a família Fabaceae, popularmente conhecidas como leguminosas, apresentam a capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico por meio da simbiose e/ou associação com bactérias fixadoras de Nitrogênio. Essas bactérias fixam o Nitrogênio do ar, transformando-o em formas assimiláveis pela planta, que absorve esse nitrogênio e acumula em sua biomassa. Algumas espécies de Fabaceas possui a capacidade de fixar mais de 200 kg ha-1 de Nitrogênio durante um ciclo (tabela 1).

Após decomposição dos resíduos culturais, esse nitrogênio passa a ficar disponível no solo, onde é mineralizado para formar assimiláveis pelas plantas (formas inorgânicas), contribuindo para o crescimento e desenvolvimento da cultura em sucessão. No entanto, vale destacar que normalmente, leguminosas apresentam uma baixa relação C/N, o que resulta na fácil degradação da palhada sobre o solo, conferindo baixo tempo de cobertura residual ao solo. Como alternativa para mitigar esse efeito, pode-se utilizar associações entre plantas de cobertura, consorciando leguminosas com gramíneas para proporcionar o bom efeito residual de cobertura do solo, com a fixação de Nitrogênio pelas leguminosas.



Tabela 1. Características de espécies mais utilizadas como adubos verdes e plantas de cobertura, particularmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

(1)Fixação não simbiótica por organismos de vida livre (Azospirillum); (2)Fabaceae; (3)Asteraceae; (4)Poaceae.
Fonte: Lima Filho et al. (2023)

Tabela 1 (continuação). Características de espécies mais utilizadas como adubos verdes e plantas de cobertura, particularmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

(5)Brassicaceae
Fonte: Lima Filho et al. (2023)

Sobretudo, vale destacar que o posicionamento de plantas de cobertura do sistema de produção deve ser pensado de forma consciente. Isso porque, embora normalmente os benefícios sejam maiores que os prejuízos, algumas plantas de cobertura a exemplo do nabo-forrageiro podem atuar como hospedeiras de patógenos, contribuindo para a disseminação de doenças em áreas agrícolas, com ocorre no caso no mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum).

Em sistemas de produção que comtemplem culturas de inverno como o trigo, a inserção de espécies como o azevém e/ou a aveia como plantas de cobertura pode resultar na ressemeadura naturas dessas espécies, dificultando o manejo em meio ao trigo. Logo, definir uma cultura de cobertura na rotação de culturas deve levar em conta o sistema de produção como um todo, visando atrelar os benefícios proporcionados pelas plantas de cobertura ao objetivo do sistema de produção.


Veja mais:  Nabo-forrageiro na entressafra – Atenção com sementes contendo escleródios do mofo-branco



Referências:

LIMA FILHO, O. F. et al. ADUBAÇÃO VERDE E PLANTAS DE COBERTURA: FUNDAMENTOS E PRÁTICA. Embrapa, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/249436/1/ADUBACAO-VERDE-VOL-01-ed02-2023.pdf >, acesso em: 01/03/2024.

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