Uma das premissas básicas do sistema plantio direto (SPD) consiste na cobertura permanente do solo. Para tanto, em algumas situações, o cultivo de plantas de cobertura durante os períodos entressafra das principais culturas agrícolas torna-se necessário para a manutenção do SPD. Diversas espécies de plantas de coberturas podem ser utilizadas com o intuito de cobrir o solo e realizar a rotação de culturas, desde que, suas aptidões e exigências climáticas sejam respeitadas. Nas Regiões Sul do Brasil, uma das espécies mais comuns cultivadas durante o período entressafra no outono/inverno é o nabo-forrageiro (Raphanus sativus L.).
A espécie é adaptada as condições climáticas do outono/inverno no Sul, sendo considerada uma das principais espécies a compor associações de plantas de cobertura ou cultivada de forma solteira (isolada). Além de ser encontrada com facilidade, o nabo-forrageiro é conhecido por possibilitar a boa cobertura do solo, além de possuir um característico sistema radicular pivotante, que permite a ele, atuar como promotor da descompactação do solo, além de reciclar os nutrientes das camadas mais profundas do solo.
Figura 1. Raiz de nabo-forrageiro.

Embora diversos benefícios sejam proporcionados pelo cultivo do nabo-forrageiro, incluindo até mesmo o aumento da produtividade de culturas cultivadas em sucessão como observado por Kochhann et al. (2003), alguns cuidados necessitam ser adotados na implantação do nabo-forrageiro, para que impactos indesejados não sejam observados.
Um dos principais pontos a se observar é a qualidade das sementes de nabo, especialmente com relação a pureza das sementes. Recomenda-se o uso de sementes livres de outras sementes e/ou materiais inertes. Por ser considerada uma espécie hospedeira e sensível ao desenvolvimento do mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), é comum observar o desenvolvimento das estruturas reprodutivas (escleródios) do fungo causador do mofo-branco nos resíduos culturais do nabo-forrageiro.
Figura 2. Escleródios de mofo-branco em resíduos (palhada) de nabo-forrageiro.

Os escleródios do mofo-branco são estruturas reprodutivas do fungo, que podem permanecer viáveis por longos períodos, até que condições ambientais adequadas desencadeiem a germinação dessas estruturas, dando origem aos apotécios e a um novo ciclo infeccioso da doença. Em virtude dessas estruturas permanecerem nos resíduos culturas do nabo-forrageiro, é comum que em lavouras destinadas a produção de sementes de nabo, os escleródios do mofo-branco sejam colhidos juntamente com as sementes, em casos de falhas no manejo fitossanitário da cultura.
Sendo assim, pode-se dizer que em áreas isentas de mofo-branco, os escleródios do fungo são a principal porta de entrada da doença na lavoura (figura 3). Uma vez inserido em áreas agrícolas, dificilmente o mofo-branco é erradicado, resultando em significativas perdas produtivas sob condições de inadequado manejo fitossanitário da soja.
Figura 3. Escleródios de mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum) misturados com sementes de nabo-forrageiro.

Os danos em função da ocorrência do mofo-branco em soja podem variar em dependendo da suscetibilidade da cultivar, período de ocorrência da doença e severidade dela, entretanto, reduções médias de produtividade variando de 20% a 30% são relatadas na literatura, podendo chegar a 70% em casos mais severos (Meyer et al., 2021).
Tendo em vista os danos ocasionados pelo mofo-branco em soja e a dificuldade em erradicar a doença, evitar a entrada do patógeno em áreas de cultivo constitui uma das principais e mais importantes estratégias de manejo do mofo-branco. Levando em consideração que o nabo-forrageiro é uma das principais plantas hospedeiras do fungo, e que, é comum observar sementes infectadas com escleródios, o uso de sementes de nabo-forrageiro de procedência, livres da presença de escleródios é essencial para reduzir a disseminação da doença.
Além disso, em áreas com histórico de ocorrência do mofo-branco deve-se evitar o cultivo de espécies hospedeiras do fungo durante o período entressafra das culturas de verão, dando preferência por espécies não hospedeiras, reduzindo assim a disseminação do patógeno e a incidência da doença.
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Referências:
KOCHHANN, R. A. et al. RENDIMENTO DE GRÃOS DE TRIGO CULTIVADO EM SEQUÊNCIA AO ADUBO VERDE NABO FORRAGEIRO. Embrapa, Circular Técnica, n. 116, 2003. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/co/p_co116.pdf >, acesso em: 03/03/2022.
MEYER, M. C. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA CONTROLE DE MOFO-BRANCO (Sclerotinia sclerotiorum) EM SOJA, NA SAFRA 2020/2021: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS EXPERIMENTOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 173, 2021. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/224971/1/CT-173.pdf >, acesso em: 24/04/2023.
REIS, E. M. et al. CICLO DO MOFO-BRANCO. Plantio Direto, 2011. Disponível em: < https://www.plantiodireto.com.br/storage/files/122/5.pdf >, acesso em: 24/04/2023.
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