Um lote de grãos armazenados é um material sujeito às transformações, deteriorações e perdas devido a diversos fatores, como por exemplo, interações entre os fenômenos físicos, químicos e biológicos. Exercem grande influência nesse ambiente a temperatura, umidade, disponibilidade de oxigênio, microrganismos, insetos, roedores e pássaros (SANTOS, 2006).

Infestações por insetos-praga durante a fase de armazenagem afetam, principalmente, a qualidade dos grãos de milho. Estas pragas podem causar deteriorações e perdas, e consequente enquadramento do produto comercializado em tipos de menor qualidade, o que afeta os preços de comercialização e reduz a lucratividade do produtor. Além disso, a massa dos grãos pode ter seu volume reduzido em mais de 18% devido ao ataque de pragas, em apenas 70 dias de armazenamento (PIMENTEL et al., 2019).

No Brasil, as principais espécies que atacam os grãos de milho na fase de armazenagem são o caruncho-do-milho (Sitophilus zeamais e Sitophilus oryzae), o besourinho-broqueador (Rhyzopertha dominica), e outros coleópteros (Cryptolestes ferrugineus, Oryzaephilus surinamensis e Tribolium castaneum) (PIMENTEL et al., 2020).

Figura 1. Caruncho-do-milho, também conhecido como gorgulho-do-milho.

Fonte: manejebem.com.br

Em relação às traças e mariposas, destacam-se as espécies Sitotroga cerealella, Ephestia sp. e Plodia interpunctella, que são algumas das pragas mais comuns nos armazéns de grãos.

Figura 2. Sitotroga cerealella em grão de milho armazenados.

Fonte: Entomolog

O desenvolvimento dos insetos é afetado pela temperatura ambiente, sendo a faixa de temperatura ideal em torno de 28 a 32 °C, as quais são predominantes no clima tropical. Portanto, reduzir a temperatura da massa de grãos pode ser um fator importante para a criação de um ambiente desfavorável ao desenvolvimento de insetos, podendo ser realizada através do resfriamento artificial ou pela aeração (MANTOVANI; PIMENTEL, 2017).

O uso de inseticidas na proteção de grãos de milho durante o período de armazenagem, principalmente com tabletes liberadores de gás fosfina, é uma das formas de controle de insetos-pragas mais utilizadas no Brasil. Somado a isto, as diferentes táticas e estratégias do Manejo Integrado de Pragas (MIP) em grãos armazenados também auxiliam no controle dessas pragas (LORINI, 2018). É importante que os usuários estejam atentos às indicações técnicas para aplicação e sempre consultar um profissional para as recomendações de uso.



Ademais, alguns inseticidas protetores também podem ser utilizados como uma medida complementar (tratamento preventivo), através de aplicações estruturais como nas instalações e estruturas de armazenagem, na superfície da massa de grãos em silos, armazéns graneleiros e em blocos de sacaria, tanto em armazéns convencionais quanto sementeiros.

Figura 3. Inseticidas protetores utilizados para sanitização de instalações de armazenagem de grãos.

Fonte: Pimentel et al., 2020.

A aplicação de inseticidas na massa de grãos deve ser realizada após as etapas de pré-processamento, ou seja, após a recepção e classificação, pré-limpeza, secagem e limpeza, imediatamente antes do acondicionamento dos grãos nas estruturas de armazenagem (WHITE; LEESCH, 1996; LORINI, 2018).

Algumas pragas de grãos armazenados infestam a cultura antes mesmo da colheita, ou seja, os grãos já são trazidos contaminados até o local de armazenagem. Portanto, as medidas preventivas para se evitar a presença de insetos na massa de grãos podem ser adotadas desde o planejamento da cultura, incluindo semeadura em época preferencial, escolha de cultivares menos suscetíveis ao ataque de insetos, e colheita dos grãos com umidade adequada.

Vale ressaltar que a limpeza e sanitização dos silos e armazéns, depósitos, máquinas, equipamentos, passarelas, poços dos elevadores e demais estruturas nas unidades armazenadoras são absolutamente essenciais, e representam um altíssimo percentual no sucesso de um perfeito controle de insetos e fungos (MULLEN; PEDERSON, 2000).

Revisão: Henrique Pozebon, Doutorando PPGAgro – UFSM  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM 

REFERÊNCIAS:

LORINI, I. Manejo integrado de pragas de grãos armazenados. In: LORINI, I.; MIIKE, L. H.; SCUSSEL, V. M.; FARONI, L. R. D. (Ed.). Armazenagem de grãos. Jundiaí: IBG, 2018. p. 659-692.

MANTOVANI, E. C.; PIMENTEL, M. A. G. Colheita e armazenamento. In: GALVÃO, J. C. C.; BORÉM, A.; PIMENTEL, M. A. G. Milho: do plantio à colheita. 2. ed. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2017. p. 328-356

MULLEN, M. A.; PEDERSON, J. R. Sanitation and exclusion. In: SUBRAMANYAM, B.; HAGSTRUM, D. W. (Ed.). Alternatives to pesticides in stored products IPM. Norwell: Kluwer Academic Publishers, 2000. p. 29-50.

PIMENTEL, MAG et al. Inseticidas recomendados, limites de resíduos e indicações técnicas para aplicação no controle de pragas durante o armazenamento de grãos de milho. Embrapa Milho e Sorgo-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2020.

PIMENTEL, MAG et al. Eficiência de inseticidas alternativos para controle do caruncho-do-milho. Embrapa Milho e Sorgo-Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento (INFOTECA-E), 2019.

SANTOS, J. P. Controle de pragas durante o armazenamento de milho. Embrapa Milho e Sorgo-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2006.

SANTOS, J. P.; GUEDES, R. N. C.; LORINI, I. Manejo integrado de pragas em grãos armazenados. In: CRUZ, J. C.; MAGALHÃES, P. C.; PEREIRA FILHO, I. A.; MOREIRA, J. A. A. (Ed.). Milho: o produtor pergunta a Embrapa responde. Brasília, DF: Embrapa, 2011. p. 217-226.

WHITE, N. D. G. et al. Integrated management of insects in stored products. 1995.

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