O percevejo barriga-verde (Dichelops spp.) é o principal sugador do milho. Desde a emergência da cultura pode causar reduções de produtividade.

O momento mais crítico para intensificar as injúrias é na fase vegetativa. No entanto, algumas técnicas de controle utilizadas isoladamente podem não fornecer a eficiência desejada.

Neste texto vamos conferir os momentos mais sensíveis à infestação do percevejo e algumas recomendações de manejo.

Figura 1. Ataque do percevejo barriga-verde no milho.

pragas percevejos milho
pragas percevejos milho.

Silva (2019), em sua pesquisa intitulada “SUSCETIBILIDADE DO MILHO AO PERCEVEJO BARRIGA VERDE, TOMADA DE DECISÃO E CONTROLE QUÍMICO”, estudou os estágios do milho em que o potencial de danos foi mais agressivo.

Na Figura 2, podemos observar que toda a fase vegetativa sofre de ataques severos da praga na Escala de Danos de 0-8 (quanto mais próximo de 8, maiores são os prejuízos). Contudo, quanto mais cedo a cultura sofrer infestação, maiores serão as injúrias no milho.

Figura 2. Escalas de danos de Dichelops melacanthus no milho infestado em diferentes estádios vegetativos.

Fonte: Silva (2019).

Mesmo quando há controle químico, os danos são significativos. Na Figura 3, notamos que mesmo com aplicação de inseticidas no tratamento de sementes (que possui a função de proteger a planta em seus estágios iniciais de desenvolvimento), a cultura se torna suscetível ao ataque. De V1-V7 os danos são mais severos, considerado o período crítico de infestação.



Figura 3. Escalas de danos de Dichelops melacanthus no milho infestado em diferentes estádios vegetativos com tratamento de sementes.

Fonte: Silva (2019).

Neste momento mais crítico de ataque, a redução do rendimento de grãos é significativa. Note na Figura 4, que a concentração da população de percevejos nos estágios iniciais da cultura do milho pode reduzir em aproximadamente 80% da produção quando não houver nenhuma forma de controle.

Mesmo com o tratamento de sementes, indivíduos ainda permanecem na área de cultivo. Caso não sejam controlados, a produtividade será drasticamente reduzida.

Figura 4. Porcentagens de redução de rendimento grãos de milho de plantas infestadas com Dichelops melacanthus sem diferentes estádios vegetativos.

Fonte: Silva (2019).

Se não houver ferramentas de controle, as populações irão sobreviver, reincidindo novas gerações de percevejos na cultura do milho, ocasionando novos ciclos de ataques.

Como visualizamos na Figura 5, o tratamento de sementes pode não ser suficiente quando as populações da praga se encontram acima do nível de controle.

Estamos tratando de um percevejo cada vez mais comum no final do ciclo da soja. No entanto, no milho a população cresce de forma a causar grandes prejuízos.

Figura 5. Flutuação populacional de Dichelops melacanthus, na sucessão cultural soja-milho, submetida a diferentes inseticidas via tratamento de sementes.

Fonte: Chiesa et al. (2016).

Após observarmos a imagem anterior (Figura 5), nota-se a importância do monitoramento desde a cultura da soja (anterior ao milho). O percevejo barriga-verde é uma das principais pragas da gramínea, contudo o manejo deve iniciar na cultura anterior.

A fim de verificar os motivos das falhas do tratamento de sementes, Silva (2019) testou alguns inseticidas do grupo químico dos neonicotinoides.

Como visualizamos na tabela 1, em V2 (duas folhas) a capacidade residual dos produtos  demonstrou controle ineficiente.

Tabela 1. Residual dos ingredientes ativos (mg/kg) dos inseticidas utilizados para o tratamento de sementes de milho contra Dichelops melacanthus. 

Fonte: Silva (2019).

Como o percevejo injeta toxinas, as plântulas de milho (até 21 dias) são comprometidas, podendo afetar o estande de plantas (algumas não conseguem se recuperar).

Segundo Fernandes et al. (2020), as ninfas de percevejos (fase anterior ao adulto) já podem causar danos similares aos adultos. Por isso, não subestime quando encontrar percevejo barriga-verde em tamanhos menores.

Figura 6. Média de danos da Escala de Torres (0-4, sendo este último nível o resultado de plantas totalmente destruídas ou mortas) em plantas de milho com infestação no estágio V1 (uma folha).

Fonte: Fernandes et al. (2020).

Lima et al. (2019), avaliaram os danos causados no milho em relação a sua altura (cm). Notamos na tabela 2, que as principais injúrias são ocasionadas em estágios V2 e V4 em 14 dias após a retirada dos percevejos (DARP).

Neste trabalho observamos que em estágios iniciais, a planta apresenta maior suscetibilidade ao ataque.

Tabela 2. Altura de plantas (cm) de milho submetidas ao ataque de Dichelops melacanthus em diferentes estádios fenológicos de desenvolvimento.

Fonte: Lima et al. (2019).

Como observado no trabalho anterior, os danos podem ser vistos com maior intensidade dias após observada a presença da praga. Nota-se que quanto mais cedo fizermos o controle deste inseto na lavoura, maiores são as chances de conseguirmos eliminá-lo de forma eficiente.

Bônus

Notamos que o tratamento de sementes utilizado de forma isolada pode comprometer a infestação das pragas e resultar em grandes perdas de produção.

CORRÊA-FERREIRA et al. (2018), verificou que o TS + 1 pulverização apresenta aproximadamente 500 kg.ha-1 a mais de rendimento que quando utilizado o TS de forma isolada, como mostra a Tabela 3.

Tabela 3. Produtividade do milho em lavoura comercial com e sem o uso de inseticidas para o controle de percevejos.

Fonte: CORRÊA-FERREIRA et al. (2018).

Em uma pesquisa Damasceno et al. (2018), testou híbridos de milho com diferentes suscetibilidades ao percevejo barriga-verde. Como é possível observar na tabela 4, AG8088 VTPRO apresenta as menores notas de injúrias realizadas pela praga no milho.

Tabela 4. Notas de injúrias causadas pela alimentação de Dichelops melacanthus em diferentes genótipos de milho em 12, 19 e 26 dias após infestação.

Fonte: Damasceno et al. (2018).

Considerações finais

O manejo do percevejo barriga-verde deve iniciar na cultura da soja. Mesmo não sendo a principal praga da leguminosa, causa grandes prejuízos na cultura seguinte da gramínea. Por isso, o monitoramento e o controle no cedo, podem reduzir as perdas pelo sugador.

Toda a fase vegetativa do milho apresenta vulnerabilidade ao ataque. Contudo, os estágios iniciais são os mais suscetíveis de infestação, mesmo realizando tratamento de sementes. O resultado direto da presença de percevejos é redução da produtividade.

Os instares ninfais da praga também acarretam em perdas de rendimento. Por isso, não subestime a presença de percevejos em tamanhos menores, pois apresentam o mesmo potencial de ataque que os adultos.

O tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos + aplicações aéreas podem apresentar resultados eficientes no manejo. Além disso, existe diferença na suscetibilidade de híbridos de milho ao percevejo, por isso atente para a escolha da cultivar.


Veja também: Controle do Percevejo-Barriga-Verde Dichelops melacanthus (Dallas, 1851) (Hemiptera: Pentatomidae) em plante-aplique no milho safrinha


 

Referências 

CHIESA, Ana Carolina Montenegro et al. Tratamento de sementes para manejo do percevejo-barriga-verde na cultura de soja e milho em sucessão. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 51, n. 4, p. 301-308, 2016.

CORRÊA-FERREIRA, B. S. et al. População de percevejos e danos causados às culturas de soja e milho em sucessão. In: Embrapa Soja-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOJA, 8., 2018, Goiânia. Inovação, tecnologias digitais e sustentabilidade da soja: anais. Brasília, DF: Embrapa, 2018., 2018.

DAMASCENO, Nathalia Cristine Ramos et al. Injúrias do percevejo-barriga-verde em diferentes híbridos de milho. In: Embrapa Milho e Sorgo-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PIBIC/CNPq, 13., 2018, Sete Lagoas.[Trabalhos apresentados]. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2018., 2018.

FERNANDES, Paulo Henrique Ramos et al. Danos do percevejo barriga-verde em milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 55, n. X, p. 01131, 2020.

LIMA, Renato Dias; DE OLIVEIRA, Nadia Cristina; OLIVA, Thaís Garcia. DANOS CAUSADOS POR PERCEVEJO Dichelops melacanthus EM DIFERENTES ESTÁDIOS FENOLÓGICOS DE PLANTAS DE MILHO. Campo Digital, v. 14, n. 1, 2019.

SILVA, Paulo Roberto da. Suscetibilidade do milho ao percevejo Barriga Verde, tomada de decisão e controle químico. 2019.

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Redação: Equipe Mais Soja.

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