A introdução de pragas não-nativas representa uma ameaça importante à produção de soja brasileira, resultando em reduções de produtividade e aumento no uso de inseticidas pelos produtores. As introduções e surtos populacionais de Bemisia tabaci MEAM1 (a partir de 1990), Tetranychus urticae (a partir de 2000) e Helicoverpa armigera no Brasil (a partir de 2010), por exemplo, contribuíram para que o uso de inseticidas na soja triplicasse de 1990 a 2016 (POZEBON et al., 2020).

O estudo de invasões passadas pode fornecer critérios que possibilitem avaliar o risco de invasões futuras e, consequentemente, evitar perdas econômicas. A identificação de espécies potencialmente invasivas baseia-se na premissa de que evitar a entrada de uma praga não-nativa no país é mais economicamente viável que tentar erradicá-la, contê-la ou manejá-la após seu estabelecimento (HARVEY; MAZZOTTI, 2014).

Certos fatores biológicos e ecológicos podem conferir elevada capacidade invasiva a determinadas espécies de artrópodes, facilitando sua introdução e estabelecimento em novos ambientes. De acordo com Pozebon et al. (2020), esses fatores podem ser resumidos em quatro critérios principais de avaliação: probabilidade de entrada no país, probabilidade de estabelecimento no país, características biológicas da espécie e disponibilidade de medidas de manejo (Figura 1).

Figura 1. Risco de invasão de uma praga não-nativa no país de acordo com quatro critérios de avaliação

Fonte: POZEBON et al. (2020). Confira a imagem original clicando aqui

Quando esses quatro fatores atuam simultaneamente em favor da praga, seu risco de invasão pode ser considerado alto. Como exemplo, uma praga presente em países geograficamente (ou comercialmente) próximos ao Brasil, adaptada às suas condições climáticas, dotada de altas taxas de reprodução e com alto nível de resistência a inseticidas satisfaz os quatro critérios e deve, portanto, ser cuidadosamente monitorada para evitar uma possível introdução.

As espécies Spodoptera litura (lagarta-desfolhadora) e Aphis glycines (pulgão-da-soja) são exemplos de pragas da soja, atualmente ausentes no Brasil, que atendem ao menos três dos quatro critérios elencados acima e, portanto, apresentam alto risco de invadirem o país nos próximos anos. Caso se concretize, tal cenário impactará severamente a produção de soja brasileira, a exemplo dos países onde essas duas espécies já se estabeleceram.

A lagarta S. litura (Figura 2) está atualmente disseminada pela maior parte da Ásia e Oceania, incluindo a China, importante parceiro comercial do Brasil. É altamente polífaga, adaptada às condições tropicais e capaz de voar por longas distâncias. Já o pulgão A. glycines (Figura 3) é atualmente a praga da soja mais importante nos EUA, causando perdas de produtividade de até 40% e tendo quadruplicado o uso de inseticidas pelos produtores após sua introdução.

Figura 2. Lagarta-desfolhadora da espécie S. litura

Fonte: Insecta Pro. Confira a imagem original clicando aqui

Figura 3. Pulgão-da-soja da espécie Aphis glycines

Fonte: Phys Org. Confira a imagem original clicando aqui

Outra praga invasiva de alta relevância para a sojicultura brasileira é a mosca-da-haste, Melanagromyza sojae (Figura 4). Diferentemente de S. litura e A. glycines, essa espécie já se encontra firmemente estabelecida no Brasil e países vizinhos (Argentina, Paraguai e Bolívia), com alto potencial para crescer em ocorrência nos próximos anos.

Inicialmente restrita aos cultivos de soja safrinha no noroeste gaúcho (devido ao ciclo mais curto da cultura), a praga tem se alastrado rapidamente para outras regiões e épocas de cultivo. Medidas de controle para M. sojae permanecem escassas e pouco exploradas; atualmente, o Brasil não dispõe de nenhum inseticida químico registrado para a praga (AGROFIT, 2020).



Figura 4. Adulto (esquerda) e larva (direita) de M. sojae atacando planta de soja

Fonte: VITORIO et al. (2018). Confira a imagem original clicando aqui

A grande extensão de área cultivada com soja no Brasil, aliada à ausência de inimigos naturais para pragas não-nativas, possibilita que tais espécies espalhem-se rapidamente pelo país após sua introdução. Assim, a prevenção de entrada (no caso de S. litura e A. glycines) e o desenvolvimento de estratégias de manejo (no caso de M. sojae) adquirem importância primordial.


Para saber mais sobre o impacto que as pragas invasivas causaram à sojicultura brasileira nas últimas décadas, acesse:

Pragas invasivas versus soja no Brasil


Elaboração: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro

Revisão: Prof. Jonas Arnemann, PhD. e coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

 REFERÊNCIAS: 

AGROFIT. Sistema de agrotóxicos fitossanitários. 2020. Disponível em: <http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>. Acesso em: 17 nov. 2020.

HARVEY, R. G.; MAZZOTTI, F. J. The invasion curve: a tool for understanding invasive species management in South Florida. 2014. Disponível em: <https://edis.ifas.ufl.edu/pdffles/UW/UW39200.pdf>. Acesso em: 18 mai. 2020.

POZEBON, H. et al. Arthropod invasions versus soybean production in Brazil: a review. Journal of Economic Entomology, v. 113, n. 4, p. 1591–1608, 2020.

VITORIO, L. et al. First record of the soybean stem fly Melanagromyza sojae (Diptera: Agromyzidae) in Bolivia. Genetics and Molecular Research, v. 18, gmr18222, 2019.

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