A lagarta-do-cartucho ou lagarta-militar é a praga de maior importância na cultura do milho. Quando jovem, ela apenas raspa as folhas. Contudo, em estágios mais avançados, perfura as folhas e causa prejuízos na espiga, reduzindo a produção final de grãos.

O seu controle é realizado principalmente com inseticidas químicos. A partir de 2007, adotou-se a tecnologia Bt no Brasil, hoje somando quase 90% da área total de milho transgênico cultivado (Céleres, 2017). No entanto, o manejo inadequado das lavouras Bt têm acarretado em evolução da resistência. Uma alternativa é a adoção de milho convencional com potencial de resistência, sendo o milho convencional também o recomendado para parte da área onde é feito o refugio.

Os prejuízos causados pelas pragas podem representar cerca de 60% da produção, ocasionando grandes prejuízos e perdas econômicas (Cruz et al., 2013).

Figura 1. Lagarta-do-cartucho e seus resíduos deixados na planta de milho.

Onde podemos adotar o milho convencional com caráter de resistência? (De Moraes et al., 2018). 

  • Em substituição às plantas transgênicas;
  • Nas áreas de refúgio;
  • Programas de melhoramento como fonte de resistência aos insetos-pragas.

O que são plantas convencionais com potencial de resistência?

São aquelas em que devido ao conjunto dos seus genes, apresentam menor suscetibilidade ao ataque das pragas. Uma das principais vantagens, é que os custos com este tipo de milho são inferiores aos demais manejos.

Além disso, as plantas desenvolvem mecanismos de defesa contra insetos no decorrer da sua evolução, permitindo apresentarem comportamento de resistência. Sugere-se que entendermos quais são estas cultivares, já que a lagarta-do-cartucho é a principal praga nas lavouras de milho do Brasil.

Quais as características que fazem uma cultivar ser mais atrativa para as pragas?

  • Espessura;
  • Dureza;
  • Textura da epiderme;
  • Presença de substâncias;
  • Compostos antibióticos elaborados pelas próprias plantas.

As substâncias impedem a alimentação e oviposição, evitando as injúrias e a permanência dessas pragas atacando as plantações.

De Moraes et al. (2018), em seu trabalho intitulado “Resistência de cultivares de milho convencional a lagarta do cartucho”, verificam as injúrias realizadas nas folhas de milho.

O teste sem chance de escolha se comporta de forma mais real com o que acontece no campo. As lagartas consomem o que oferece melhor qualidade para elas de forma individualizada, pois como apresentam comportamento canibal, não encontramos diversas lagartas de mesmo estágio em uma mesma planta.

Como visualizamos na tabela 1, a cultivar que apresentou menor porcentagem de injúrias, ou seja, maior resistência pelas pragas, foi AS 1581. Resultados similares foram encontrados para os genótipos TRUCK, AG 5055 e AS 1596.

Enquanto que a cultivar mais suscetível ao ataque e que apresenta preferência alimentar, foi a cultivar SHS 7780, apresentando 93,4% de injúria. As cultivares DKB 370, 20ª78 e AG 7088 apresentam resultados semelhantes em relação aos danos, não sendo recomendadas quando nos referimos à população da lagarta-do-cartucho e seu ataque.

Tabela 1. Porcentagem de injúrias nas cultivares convencionais de milho.

Fonte: De Moraes et al. (2018).

Moraes et al. (2015), em sua pesquisa “Resistência de híbridos de milho convencionais e isogênicos transgênicos a Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae)”, verificam as diferenças de rendimento quando se utiliza o híbrido convencional e seus isogênicos transgênicos.

Como visualizamos na Tabela 2, o potencial produtivo de algumas cultivares convencionais são semelhantes ao milho transgênico.



Maximus e Impacto apresentam pouca redução da produtividade quando atacados pela lagarta-do-cartucho. Estas cultivares são convencionais, como visualizamos na Tabela 2.

Até mesmo os genótipos que apresentam tecnologia Bt podem apresentar distintas respostas quando atacados pela praga. O híbrido convencional DKB390 e DAS2B710 apresentaram os piores rendimentos de grãos, com valores semelhantes as suas versões transgênicas.

Tabela 2. Média da produtividade de grãos, da massa de cem grãos e do rendimento de grãos na safra 2010/2011 e 2011/2012.

Fonte: Moraes et al. (2015).

Em outro trabalho de Nogueira (2015), denominado “CATEGORIAS E NÍVEIS DE RESISTÊNCIA DE GENÓTIPOS DE MILHO CRIOULO A Spodoptera frugiperda”, verificou-se a resistência de genótipos de milho contra a lagarta-do-cartucho. As cultivares moderadamente resistentes ao ataque foram: Pérola, Amarelão, SCS 154 – Fortuna, Maia, Palha Roxa; as cultivares suscetíveis, foram: Azteca, Aztequinha AM, Branco Antigo – FNP, Branco Gielinski, Caatingueiro, São Pedro;

Enquanto que o genótipo Aztecão foi considerado altamente suscetível, como visualizamos na Tabela 3. Esta cultivar apresentou a maior porcentagem de área consumida em todos os testes. Pérola foi classificada como a menos consumida, conferindo um menor número de gerações por ano.

Tabela 3. Número médio (±EP) de lagartas de 3° ínstar de Spodoptera frugiperda atraídas em genótipos de milho crioulo em intervalos de tempo e área foliar consumida – AFC (cm2), em testes com e sem chance de escolha.

Fonte: Nogueira (2015).

No entanto, não se esqueça que as sementes crioulas podem conter resíduos e impurezas, prejudicando a qualidade do desenvolvimento das plantas. Além disso, não são classificadas pelas empresas produtoras, acarretando em heterogeneidade nas lavouras.

Contudo, assim como as convencionais que são produzidas e classificadas comercialmente, podem apresentar certa resistências à lagarta-do-cartucho.

Quais são as vantagens na sua utilização?

  • Não requer tecnologia sofisticada;
  • Não causa impactos ambientais;
  • Mantém a população abaixo do nível de dano econômico (Nogueira, 2015);
  • Não tem custo para o produtor que produz a sua própria semente (sementes salvas/milho crioulo);
  • Pode ser utilizada simultaneamente com outros métodos de controle.

Como as plantas convencionais e crioulas podem apresentar características de controle natural sobre as lagartas, elas devem ser monitoradas de forma constante. As cultivares apresentam certa resistência e, consequentemente, certa suscetibilidade.

Por isso, não devemos esquecer do monitoramento em toda a área da lavoura. A lagarta-do-cartucho se abriga, principalmente, no interior do cartucho da planta, local onde devemos verificar com frequência. Além do mais, podemos detectar sua presença através do resíduo característico deixado pela praga.

No momento em que atingir o nível de controle, pode-se intervir com medidas protetivas. Segundo a Escala de Davis, quando 20% das plantas apresentarem danos ≥3, recomenda-se estratégias de controle para combater o lepidóptero.

O monitoramento é considerado a base para produzirmos com o mínimo de interferências possíveis, estratégia recomenda também para as plantas transgênicas que já apresentam toxinas no seu interior para combater as lagartas (Bt). Como as convencionais e as crioulas não conferem este mecanismo de defesa, redobre os cuidados.

Veja também: Estratégias biológicas e naturais no combate às lagartas do Complexo Spodoptera

Considerações finais

A escolha das cultivares definirá o desenvolvimento das culturas a campo. Alguns genótipos apresentam de forma natural, potencial de repelir o ataque de lagartas, como a Spodoptera frugiperda, a principal praga na cultura do milho no Brasil.

Exceto as plantas Bt, em que houve a adoção de genes de resistência às lagartas, as cultivares convencionais e crioulas apresentam naturalmente certa resistência às pragas. Da mesma forma, conferem certo grau de suscetibilidade.

O monitoramento é uma das peças-chaves para detectarmos as pragas no início do seu desenvolvimento. Lembre-se que combater lagartas em estágios iniciais é mais fácil que quando controlamos em estágios mais avançados, pois estão menos suscetíveis aos inseticidas.

Como vimos nos trabalhos anteriores, dentre as cultivares avaliadas, as cultivares mais resistentes aos ataques, são: AS 1581, TRUCK, AG 5055 e AS 1596. Maximus e Impacto apresentam pouca redução da produtividade quando atacados pela lagarta-do-cartucho. Além disso, variedades crioulas como Pérola também se destacaram como uma opção viável no combate à praga.

Referências

CÉLERES. 3º levantamento de adoção da biotecnologia agrícola no Brasil, safra 2016/17. Informativo Biotecnologia. 2017.

CRUZ, I; VALICENTE, F. H.; VIANA, P. A.; MENDES, S. M. Risco potencial das pragas de milho e de sorgo no Brasil. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, Documentos, n. 150, 2013. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/86753/1/doc-150.pdf >, acesso em: 11/11/2020.

DE MORAES, Renato Franco Oliveira et al. Resistência de cultivares de milho convencional a lagarta do cartucho. Agrarian, v. 11, n. 39, p. 22-31, 2018. Disponível em: < https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/agrarian/article/download/5290/4318 >, acesso em: 11/11/2020.

MORAES, Andrea Rocha Almeida de; LOURENÇÃO, André Luiz; PATERNIANI, Maria Elisa Ayres Guidetti Zagatto. Resistência de híbridos de milho convencionais e isogênicos transgênicos a Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae). Bragantia, v. 74, n. 1, p. 50-57, 2015. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/brag/v74n1/0006-8705-brag-74-1-50.pdf >, acesso em: 11/11/2020.

NOGUEIRA, Luciano. Categorias e níveis de resistência de genótipos de milho crioulo a Spodoptera frugiperda (JE Smith, 1797)(Lepidoptera: Noctuidae). UNESP, Dissertação de mestrado, 2015. Disponível em: < https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/123701/000829347.pdf;jsessionid=137A1C60BDA9E090B1A975B6938CD4E5?sequence=1 >, acesso em: 11/11/2020.

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Redação: Equipe Mais Soja.

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