Um dos principais problemas do trigo no RS (não o maior, nem o único) é a falta de capacidade de armazenagem de trigo em grão. Como há uma capacidade de armazém insuficiente no estado para guardar a produção, há que se dar prioridade, primeiro, para o milho (que já está sendo colhido, mas que será escoado rapidamente) e, depois, para a soja, cultura que dá mais lucro. Ao contrário de Minas Gerais e do Paraná, os moinhos gaúchos raramente guardam o trigo necessário para a sua moagem anual, preferindo estoques mensais.
O Rio Grande do Sul foi o estado onde o trigo teve a menor quebra e deverá colher ao redor de 2,2 MT, para um uso local ao redor de 1,3 MT. Então, o trigo gaúcho deverá ser grandemente demandado, não apenas pelos moinhos locais, mas pelos moinhos de SC e do PR e, eventualmente, de outros estados. A própria exportação para outros países desta temporada deverá ser a metade do que foi a do ano passado.
Do acima exposto se deduz que os atuais preços no Rio Grande do Sul, já consolidados em R$ 750,00/tonelada FOB, para trigo de panificação local, não devem cair no período sazonal de esvaziamento de armazéns, como sempre ocorre, mas, pelo menos se manter até o final de março, quando tem chance de subir, acompanhando as altas dos trigos importados, embora mantendo a devida distância pela qualidade.
Até o momento o RS já recebeu mais de 100 mil toneladas de trigo argentino depois de colher a sua safra 2018/19.
Paraná: O trigo no estado deve acabar ainda em janeiro, obrigando a um aumento das importações e de preços
Da produção estimada de 2,2 MT pelo Deral-PR, o mesmo órgão estima que já foram comercializados 80,9% ou seja, 1.78 MT, entre o que foi comprado pelos moinhos locais e de outros estados, restando, assim, pouco mais de 420 mil toneladas para atender a necessidade de consumo de mais 1,2MT até a entrada da próxima safra.
É verdade que parte do que foi comercializado foi comprado pelas Tradings que esperam revender a preços mais elevados aos moinhos a partir de março, mas, mesmo assim, terá que importar algo como 550 mil toneladas, das quais já tinha recebido 310 mil tons até o final de dezembro. Os preços internos deverão estar alinhados com os preços do trigo importado já a partir de fevereiro, ao redor de R$ 1.000,00, depois R$ 1.050,00/tonelada e assim por diante, como registramos abaixo.
Com a forte alta do dólar, as importações ficaram um pouco mais caras nesta sexta-feira
Os embarques de dezembro chegariam aos moinhos do Rio Grande do Sul e do Paraná, por via marítima (portos de Rio Grande e Paranaguá), ao redor de R$ 1.039,54 em Janeiro, R$ 1.047,16 em Fevereiro, R$ 1.072,62 em Março, R$ 1.070,16 em Abril, R$ 1.079,38 em maio, R$ 1.084,95/t em junho e R$ 1.096,78 em julho. Por via fluvial (desembarcadouro em Foz do Iguaçú) chegariam aos moinhos do Oeste do PR ao redor de R$ 1.000,00/tonelada em janeiro, R$ 1.008,64 em fevereiro e R$ 1.035,05 em março.
Para os moinhos de São Paulo, o trigo argentino chegaria via marítima a R$ 1.063,87/t, contra R$ 1.056,08, do dia anterior, mais baixo do que trigo americano com TEC, que chegaria a R$ 1.417,13, contra R$ 1.416,10/t do dia anterior. Em Salvador o trigo americano com TEC chegaria a R$1.356,30/t, o argentino a R$ 1.007,12/t e o trigo nacional chegaria a R$ 1030,00. Em Fortaleza o trigo americano hard com TEC chegaria a R$ 1.365,71/t, o trigo argentino a R$ 1.015,27/t e o trigo nacional ao redor de R$ 1.030,00/t.
O total das programações de navios para movimentar trigo no/para o Brasil fechou a semana em 484.575 toneladas, contra 513.075 tons da semana anterior e 665.646 tons da mesma semana no ano passado, segundo acompanhamento semanal da T&F Agroeconômica.
Os preços internacionais já subiram 9,55% nos últimos 45 dias de 2019, em dólares
O trigo finalizou 2019 com um grande rally de preços, como mostra o gráfico abaixo. Pode-se distinguir dois fatores principais que impulsionam os mercados mundiais: uma maior demanda prevista por parte da China e as complicações nas safras da região do Mar Negro, assim como na Austrália.
A provável demanda extra da China de até 9,6 milhões de toneladas
A China tinha estabelecido uma cota de importação com tarifas (Tariff-Rate Quotes) de 9,6 MT, em 2001, quando se uniu à Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas, para 2020, concordou em reduzir estas cotas, embora não especifique quais os países serão beneficiados. Isto significaria um salto enorme na demanda mundial, no caso de ser efetivada, no todo ou em parte. Os americanos acreditam que poderão vender aos chineses algo como 5,0 MT, dentro do cumprimento do acordo da Fase Um entre os dois países.
Há que se notar que a China nunca cumpriu com a cota e que, nos últimos 5 anos, as compras totais chinesas de trigo ficaram na média de 50% deste total. A China não compra volumes significativos de trigo americano desde outubro, mas, dada a competitividade que vem mostrando os preços do produto dos EUA nos mercados mundiais e que outros importantes importadores da Ásia, como Indonésia, Japão, Filipinas e Taiwan tem recorrido ao mercado americano para se abastecer, não seria de se estranhar que o trigo americano seja o grande ganhador do possível cumprimento destas cotas, fazendo as cotações de Chicago e os preços no Golfo subirem significativamente.
Clima adverso na Ucrânia e na Rússia poderá aumentar a demanda (e os preços) nos EUA
Por seu lado também o clima adverso que se espera na Ucrânia poderia danificar significativamente os cultivos de trigo de inverno neste país, especialmente os que foram plantados tardiamente. Um outono seco levou os agricultores locais a atrasar o plantio de inverno na esperança de um clima favorável no inverno, que permita que cresçam e se desenvolvam. Estes cultivos apresentam resistência reduzida às geadas e qualquer queda brusca de temperatura poderá danificar os grãos.
Por outro lado, as reservas de umidade nos solos da Rússia, maior exportador mundial, continuam sendo baixas para os cereais de inverno, segundo informou a consultoria SovEcon. A Rússia colheu uma safra menor de trigo em 2019, em relação às estimativas oficiais iniciais, segundo mostram os dados preliminares do Serviço Federal de Estatísticas (Rosstat) foram apenas 74,3 MT, quando o Ministério da Agricultura esperava uma produção mínima de 75 MT.
Fonte: T&F Argoeconômica