Em sistemas de produção agrícola, a rotação de culturas é uma prática muito trabalhada com foco na sustentabilidade das lavouras, principalmente pelos benefícios trazidos ao sistema de produção tais como a melhoria de atributos químicos, físicos e biológicos do solo, pela importante contribuição no manejo de pragas, doenças e plantas daninhas, e também pela otimização do uso da terra, entre outros benefícios.

Sabe-se que a rotação de culturas é imprescindível para o manejo fitossanitário de culturas anuais como a soja e milho, por proporcionar a quebra do ciclo de diversas pragas e patógenos, reduzindo a população de insetos e pressão de inóculo respectivamente. Além disso, a rotação de culturas possibilita a rotação de diferentes mecanismos de ação de herbicidas, inseticidas e fungicidas, contribuindo para o manejo da resistência de plantas daninhas, insetos e doenças a agrotóxicos. Conforme destacado por Franchini et al. (2011), pensando em sistemas de produção de grãos, com foco em culturas de verão como soja e milho, a rotação de culturas também favorece o uso de cultivares de soja com ciclos diferentes.

Para o cultivo de milho safrinha, normalmente se utiliza uma cultivar de soja de ciclo precoce ou super precoce , para permitir a semeadura do milho em meados de fevereiro. Isso reduz o risco de perdas de produtividade por seca e pela ocorrência de baixas temperaturas nas fases reprodutivas do milho. Quando se pretende semear o trigo no inverno, a implantação da soja pode ser realizada até meados de novembro com uma cultivar de ciclo semi-precoce, já que o trigo normalmente é semeado em meados de abril (Franchini et al., 2011).

Contudo, além da importante contribuição da rotação de culturas para a sustentabilidade das lavouras, é comprovado cientificamente que, quando bem estabelecida, a rotação de culturas contribui inclusive para o aumento da produtividade das culturas agrícolas. Resultados de pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, demonstram que a rotação de culturas, principalmente quando a soja é cultivada no verão subsequente ao cultivo do milho, proporciona respostas positivas de produtividade. Considerando a produtividade média da soja no sistema de rotação com milho em relação à observada na sucessão com trigo, o ganho acumulado na produtividade da oleaginosa corresponde a 17% (Franchini et al., 2011).

Figura 1. Produtividade média da soja (safras 1991/92 a 2008/09) em função do tempo após o cultivo do milho de verão, no sistema de rotação tremoço/milho – aveia/soja – trigo/soja – trigo/soja e no sistema de sucessão trigo/soja. Embrapa Soja, Londrina/PR, 2010. A produtividade refere-se à média de cinco safras para as condições ano 1 e ano 2 após o milho, quatro safras para a condição ano 3 após o milho de verão e 21 safras para a sucessão trigo/soja.

Fonte: Franchini et al. (2011)

Resultados similares, demonstrando a importante contribuição da rotação de culturas para o aumento da produtividade também foram observados por Ohland et al. (2005) na cultura do milho, onde os dados obtidos pelos autores evidenciaram aumento de produtividade superior a 300 kg ha-1, em função da cultura antecessora ao milho. Além desses estudos, diversos resultados de pesquisas demonstram a importante contribuição da rotação de culturas para o aumento da produtividade das culturas agrícolas.



Mas a longo prazo, além dos benefícios ao sistema de produção, a rotação de culturas traz ganho produtivo?

Um estudo mais recente, conduzido por Sehgal e colaboradores (2023) determinou os efeitos da rotação de culturas ao longo de 17 anos, sobre o rendimento de diferentes culturas agrícolas para um clima subtropical úmido. O estudo envolveu as culturas do algodão, milho e soja, com seis rotações de culturas: algodão contínuo (AC), milho-algodão (M-A), milho-algodão-algodão (M-A-A), milho-soja (M-S), soja-milho-algodão (S-M-A) e soja-milho-algodão-algodão (S-M-A-A), plantadas anualmente.

Além da influência das condições ambienteis, especialmente com relação as condições consideradas secas, normais e úmidas, Sehgal et al. (2023) puderam observar que ao longo dos 17 anos analisados, para a cultura do algodão, em todas as rotações de cultura analisadas, a produtividade foi superior ao algodão cultivado sem rotação (contínuo). Na média, a redução da produtividade de fibra de algodão no sistema sem rotação (algodão contínuo) foi 10 a 14% inferior ao algodão cultivado no sistema de rotação de culturas.

Para a cultura do milho, os autores observaram resultados similares, demonstrando ganho produtivo em função do uso das rotações de cultura. Sobretudo, as menores produtividades foram observadas quando o milho seguiu o algodão, e as maiores produtividades foram obtidas no sistema soja-milho-algodão, sendo esse, o sistema com as maiores produtividades em anos considerados de clima seco.

Já com relação a cultura da soja, Sehgal et al. (2023) observaram que as rotações S-M-A e S-M-A-A tiveram rendimentos de grãos 190–581 kg ha-1 maiores do que a rotação M-S. Além disso, os autores destacam a influência das condições climáticas sobre a produtividade das culturas, sendo que, o clima afetou o rendimento de ambas as culturas, independentemente da condição de rotação. Sehgal et al. (2023) destacam que, para o presente estudo, a rotação soja-milho-algodão (S-M-A) foi a que possibilitou maior rendimento das culturas, demonstrando que a diversificação das culturas também é fundamental para o ganho produtivo em sistemas de rotação de culturas.

Figura 2. Média de dezessete anos de rendimento de grãos de milho e rendimento de fibra de algodão sob diferentes rotações de culturas.

As letras acima das barras indicam uma diferença significativa das médias dos médias quadradas em α = 0,05. Abreviações: AC, algodão contínuo; M-A, milho-algodão; M-S, milho/soja; M-A-A, milho/algodão/algodão; S-M-A, soja/milho/algodão; e S-M-A-A, soja/milho/algodão/algodão.
Adaptado: Sehgal et al. (2023)

Logo, com base nos aspectos observados e nos resultados apresentados por Sehgal et al. (2023), pode-se dizer que a rotação de culturas possibilita ganhos produtivos a longo prazo, sendo essencial também, a diversificação das espécies envolvidas no sistema de rotação de culturas. Além disso, fica evidente que culturas sob monocultivo, apresentam menor produtividade em comparação a culturas sob rotação.

Confira o estudo completo realizado por Sehgal e colaboradores (2023) clicando aqui!



Referências:

FRANCHINI, J. C et al. IMPORTÂNICA DA ROTAÇÃO DE CULTURAS PARA A PRODUÇÃO AGRÍCOLA SUSTENTÁVEL NO PARANÁ. Embrapa, Documentos, n. 327, 2011. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/897259/importancia-da-rotacao-de-culturas-para-a-producao-agricola-sustentavel-no-parana >, acesso em: 31/01/2024.

OHLAND, R. A. A. Et al. CULTURAS DE COBERTURA DO SOLO E ADUBAÇÃO NITROGENADA NO MILHO EM PLANTIO DIRETO. Ciênc. agrotec., Lavras, v. 29, n. 3, p. 538-544, maio/jun., 2005. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/cagro/v29n3/a05.pdf >, acesso em: 31/01/2024.

SEHGAL, A. et al. LONG-TERM CROP ROTATION AFFECTS CROP YIELD AND ECONOMIC RETURNS IN HUMID SUBTROPICAL CLIMATE. Field Crops Research, 298, 2023. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0378429023001454 >, acesso em: 31/01/2024.

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