A cultura da soja é suscetível ao ataque de pragas desde a semeadura até a colheita. A atenção se voltou ainda mais para as pragas secundárias, quando a soja se expandiu para regiões antes não produtoras do país e, percebeu-se um aumento de insetos na soja com a ausência das plantas hospedeiras naturais.
O plantio direto, através da palhada que protege os organismos, também acarretou em aumento da população de pragas que passam uma parte de seu ciclo no solo. Pragas que causam danos nas plântulas, hastes e pecíolos, pertencem às ordens Coleoptera e Lepidoptera (HOFFMANN-CAMPO et al. 2012).
Os organismos que atacam essas regiões da cultura são conhecidos popularmente como: tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus), broca-das-axilas (Crocidosema aporema), lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus), cigarrinhas (Ceresa brunnicornis e Ceresa fasciatithorax), manhoso (Chalcodermus bimaculatus), lagarta rosca (Agrotis sp.), cascudinho-da-soja, (Myochorus armatus), torrãozinho (Aracanthus mourei) lesmas, caracóis e piolhos-de-cobra.
A emergência do adulto, que passa grande parte da sua vida no solo, ocorre nos meses de novembro e dezembro e coincide com a fase de semeadura das lavouras de soja no sul do Brasil (Tecnologias …, 2010). Ataques até o estágio V6 da soja, ocasiona em perdas significativas de produtividade (ROGGIA & CANAN, 2011).
DANOS
O tamanduá-da-soja, também conhecido como bicudo ou cascudo (Sternechus subsignatus), pode causar danos tanto na sua fase larval quanto adulta. Possui a capacidade de raspar a haste para se alimentar e depositar os ovos.
A larva permanece no interior da haste principal, mantendo-se na região de postura das fêmeas, chamada de anelamento. As larvas consomem a medula da haste principal, enfraquecendo a planta. Os adultos raspam a haste principal e desfiam os tecidos (SILVA, 2000).
Figura 1. Adulto de S. subsignatus
Em altas infestações no início do desenvolvimento da cultura, ocorre uma ruptura do caule, o que ocasiona em interrupção da passagem da seiva e posterior morte da planta. HOFFMANN-CAMPO (1999), relatou que a praga afeta a gema apical e ocasiona perda total da área infestada.
Se o ataque ocorre quando o caule já está lignificado e há larvas no interior da haste principal (região do anelamento), forma-se uma galha muito frágil e que pode quebrar por ação de agentes externos (vento e chuva) (HOFFMANN- CAMPO et al. 2012).
Figura 2. Surgimento da galha decorrente do consumo da medula pelas larvas
Foto: Ageitec
SILVA (2000), relatou reduções na produtividade de 7-14 sacas de soja/hectare com a incidência de 1 e 2 adultos/m de fileira em estágios V2- V5.
CICLO DE DESENVOLVIMENTO DA PRAGA
Figura 3. Desenvolvimento de S. subsignatus
Foto: EMBRAPA, 2012
NÍVEL DE CONTROLE
SILVA (2000), relatou em seu trabalho o nível de ataque das plantas e a redução na produtividade por Sternechus subsignatus
Tabela 1. Danos de S. subsignatus
O mesmo autor considera que as aplicações a partir de V2-V5 são justificáveis quando houver 0,4 adultos por metro de fileira. No entanto, deve-se levar em conta o custo de aplicação.
O controle se justifica, segundo EMBRAPA (2013), quando houver 1 adulto/m de fileira no estágio fenológico V2 e 2 adultos/m de fileira entre os estágios V3-V5. O nível de ação para controle de coleópteros desfolhadores pode ser baseado no nível de desfolha da soja. O momento de controle não deve ultrapassar desfolha de 30% até a floração e 15% a partir do surgimento das primeiras flores (HOFFMANN-CAMPO et al. 2000).
MANEJOS
1. Rotação de culturas
S. subsignatus se alimenta apenas de leguminosas (AGEITEC). Realizar com plantas não hospedeiras (milho, sorgo e girassol) ou plantas hospedeiras não preferenciais, pois o inseto não irá se alimentar com grande intensidade. Nesses dois casos, a praga não se desenvolve e interrompe seu ciclo. É uma tática indicada para insetos que possuem ciclo longo e com limitada capacidade de dispersão, como S. subsignatus (HOFFMANN-CAMPO et al. 2012).
Figura 4. Espécies vegetais para rotação de culturas ou cultura armadilha em área com infestação de Sternechus subsignatus
Fonte: EMBRAPA, 2012
Segundo estudos de Silva (1996), o ataque reduz significativamente e a produção aumenta quando ocorre rotação de culturas (soja-milho-soja) comparado ao monocultivo da soja. A rotação com milho é altamente recomendada em áreas com infestação de Sternechus subsignatus, pois o inseto não se alimenta nem oviposita em áreas com cultivo da gramínea.
2. Utilização de uma cultura-armadilha (hospedeira preferencial)
Nas bordas da cultura não hospedeira, deve-se semear uma hospedeira preferencial para atrair os insetos. Circundando a cultura não hospedeira em uma borda de 23-30 metros. Nesse local deve ser realizado o controle químico (meses de novembro-dezembro) para evitar a dispersão das pragas pelo vôo (HOFFMANN-CAMPO et al. 2012).
3. Controle químico
Pode-se pulverizar com inseticida químico toda ou partes da lavoura, porém algumas características da praga podem auxiliar nas manutenções de sua população:
- Os ovos e as larvas ficam escondidas no interior da haste principal;
- As larvas hibernantes (pupas) vivem no solo;
- Os adultos permanecem escondidos no solo durante o dia, principalmente nas partes baixeiras da planta, entre as folhas ou na palhada;
- O uso isolado do produto químico não é uma forma eficiente de controle.
AGROFIT (2020), tem registro de 51 produtos para controle de tamanduá- da-soja em soja. Entre os grupos químicos disponíveis estão organofosforado, neonicotinoide, pirazol, antranilamida e piretroide.
Em um trabalho realizado por ROGGIA & CANAN (2011), avaliou-se a eficiência de diversos produtos para controle de S. Subsignatus. As avaliações foram realizadas em uma casa de vegetação em Londrina – PR.
Tabela 3. Eficiência de controle (EC %) para S. Subsignatus em soja. Adaptada de Embrapa Soja, janeiro de 2011
Segundo os autores, os inseticidas pertencentes ao grupo químico dos piretroides apresentaram baixa eficiência de controle, enquanto os neonicotinoides + piretróides apresentaram os melhores resultados em relação ao controle isolado de piretroides.
Aos 6 DAT, não houve diferenças na eficiência de controle para Tiametoxam + Lambda-cialotrina (200 mL/ha) e Imidacloprido + Bifentrina (400 mL/ha), ambos apresentaram 100% de controle. Ainda, não houve diferenças para a nota de ataque, indicando que ambos os produtos oferecem equivalência em relação a proteção de plantas.
Tabela 4. Registro dos produtos para controle de tamanduá-da-soja na cultura da soja
Fonte: AGROFIT (2020)
4. Sementes tratadas com inseticidas
O TS representa um método de baixo risco ambiental, menor custo operacional e protege a planta desde o início do seu desenvolvimento (fase mais suscetível ao ataque da praga). A figura 5 do trabalho intitulado “INTENSIDADE DE ATAQUE Sternechus subsignatus EM SOJA COM DIFERENTES INSETICIDAS EM TRATAMENTO DE SEMENTES”, apresentado e publicado nos anais do VIII Congresso Brasileiro de Soja, de Entomologia (Goiânia), nos mostra a eficiência de inseticidas no tratamento de sementes para controle do tamanduá-da-soja.
Figura 5. Distribuição de galhas do tamanduá-da-soja ao longo da haste da planta. Londrina, safra 2017/18.
Fonte: MATSUMOTO, J.F.; LOBAK, T.; SCHNEIDER NETO, A.; NIMET, M. S.; NEVES, P.M.O.J.; PASINI, A. 1; ROGGIA, S.
De acordo com o trabalho, os inseticidas químicos possuem efeito no controle e na distribuição vertical da praga. O produto Fipronil apresenta menor intensidade de ataque da praga à cultura tanto no estágio vegetativo quanto reprodutivo.
Considera-se que o tratamento de sementes é eficiente apenas nas primeiras semanas de desenvolvimento da cultura (POSSEBON et al. 2011).
5. Época de semeadura
Segundo estudos de HOFFMANN-CAMPO (2012), com a semeadura antecipada, não se atinge o nível de controle. No entanto, a semeadura a partir de novembro, tradicionalmente realizado pelos agricultores, sincroniza o período com a maior fonte de recurso alimentar, que é representada pela fase vegetativa da soja (mais suscetível ao ataque).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tamanduá-da-soja é uma praga considerada secundária nas lavouras da oleaginosa. Entretanto, causa danos na sua fase larval e adulta, o que aumenta os prejuízos para o produtor.
Alguns manejos individuais não são suficientes para o controle da praga, sendo necessário um manejo específico na bordadura da lavoura, com aplicações de inseticidas, tratamento de sementes e cultura-armadilha.
Uma prática eficiente é a rotação com o milho, pois o inseto não se alimenta e não oviposita na gramínea, sendo possível a redução da praga a partir de técnicas de rotação de culturas juntamente com outros manejos.
REFERÊNCIAS
AGEITEC. Tamanduá-da-soja. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/soja/arvore/CONT000fznzu9ia02w
x5ok0cpoo6a8xvfq6k.html>. Acesso em: 20.03.20
AGROFIT. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: <http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>. Acesso em: 20.03.20
HOFFMANN-CAMPO et al. Pragas que Atacam Plântulas, Hastes e Pecíolos da soja. EMBRAPA, capítulo 3, 2012. Disponível em: < http://www.cnpso.embrapa.br/artropodes/Capitulo3.pdf>. Acesso em: 20.03.20
Hoffmann-Campo C.B.; OLIVEIRA, E.B.; MAZZARIN, R.M. Níveis de infestação de Sternechus subsugnatus Boheman, 1836: influência nos rendimentos e características agronômicas da soja. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 25, p. 221-227, 1990.
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1., 2002, Dourados. Anais… Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2002., 2002. MATSUMOTO, J. F. et al. Intensidade de ataque Sternechus subsignatus em soja com diferentes inseticidas em tratamento de sementes. In: Embrapa Soja- Artigo em anais de congresso (ALICE). In:
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POSSEBON, S. B.; GUEDES, J. V. C.; FRANÇA, J.; MACHADO, R. T.; STACK, R. Controle de Sternechus subsignatus na cultura da soja, através da aplicação de inseticidas líquidos e granulados no sulco de semeadura. In:
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Olá. Gostei muito da matéria sobre o tamanduá. C for possível eu gostaria que fosse enviado o nome de todos os inseticidas que controle o tamanduá. Desde já agradeço. Obrigado. E fico aguardando