A monocultura ou, mesmo, os sistemas de sucessão de culturas de trigo e soja ou milho safrinha após a soja, promovem, ao longo do tempo, alterações negativas para o sistema produtivo, resultando em degradação química, física e/ou biológica do solo (Gonçalves et al., 2007). A rotação de culturas ou a inserção de plantas de cobertura no sitema é uma das principais formas de evitar a monocultura e seus malefícios ao sistema produtivo.

A rotação de culturas, especialmente com culturas de diferentes sistemas radiculares, possibilita a melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos, do solo, contribuindo inclusive para o aumento da produtividade de culturas como a soja. A soja é uma das culturas que apresenta respostas positivas do efeito da rotação de culturas sobre a produtividade, especialmente quando cultivada no verão subsequente ao cultivo do milho de verão. Considerando a produtividade média da soja no sistema de rotação com o milho em relação à observada na sucessão com o trigo, o ganho acumulado na produtividade da soja é de 17% (Franchini; Costa; Debiasi, 2011).

Além do ganho em produtividade, a rotação de culturas ou o cultivo de plantas de cobertura, possibilita a redução dos custos de produção, auxilia na controle de pragas, doenças e plantas daninhas e ainda possibilita o maior uso da terra. Um sistema de rotação de cultura eficiente atua diretamente na “quebra” do ciclo de pragas e doenças que irão incidir sobre culturas comercias, além de proporcionar redução dos fluxos de emergência de plantas daninhas, especialmente quando cultivadas plantas de cobertura com elevada produção de biomassa e palhada residual. A palhada serve como cobertura do solo para a cultura seguinte, reduzindo a germinação de espécies de plantas daninhas fotoblásticas positivas como a Buva (Conyza spp.).

Outro benefícios trazido, é que algumas culturas, a exemplo de espécies de crotalaria, possuem  a capacidade de reduzir a taxa de reprodução de pragas de solo como nematóides fitopatogênicos, atuando no controle dessa praga. Outras espécies como o nabo forrageiro por sua vez, possuem a habilidade em ciclar nutrientes dos solo, absorvendo nutrientes em camadas mais profundas do perfil do solo e disponibilizando-os para culturas sucessoras através da degradação dos seus resíduos culturais.


Veja mais: Nabo forrageiro contribui para a produtividade do trigo em sucessão?


Embora pareça um tanto quanto simples, estabelecer um sistema com alternância de culturas é um processo complexo que exige planejamento e persistência para por em prática uma rotação de culturas eficiente. É preciso definir as culturas comerciais com importância econômica para a propriedade e inserir as demais culturas conforme adaptabilidade climática delas, disponibilidade de insumos, interesse econômico e objetivo do sistema de produção.

Para isso, conhecer algumas espécies com potencial para uso no sistema de rotação de culturas, suas finalidades, benefícios e aptidões é essencial para definir o posicionamento das culturas, especialmente se tratando de plantas de cobertura no sistema plantio direto. No quadro 1 é possível observar as características de distintas plantas de cobertura com potencial de uso no sistema plantio direto.

Quadro 1. Características de plantas de cobertura com potencial de uso no sistema plantio direto.

Fonte: Bogiani & Ferreira (2017)

Estabelecidas as culturas que irão integrar o sistema de rotação, é preciso planejar e organizar a sequencia das culturas no sistema de produção, isso deve levar em consideração dentre outras coisas, as culturas de interesse econômico e a finalidade da produção. Para o sistema de produção onde soja e trigo são as principais culturas de interesse econômico, Gonçalves et al. (2007) propuseram uma sequencia de culturas (tabela 1) para integrar o sistema de rotação de culturas para as condições de clima e ambiente do Estado do Paraná.

Tabela 1. Sinopse da sequência de culturas, indicadas preferencialmente em relação à cultura principal, para compor sistemas de rotação com a soja e trigo, no Paraná.

1 Nas regiões onde não ocorre Sclerotinia em soja, o girassol pode anteceder essa cultura. Em todos os casos, o girassol ou canola deve ser cultivado com intervalos mínimos de três anos na mesma área. 2O azevém pode tornar se invasora. 3Quando semeado após 15 de junho. 4Quando semeado de maio até 15 de junho.
Fonte: Gonçalves et al. (2007)

Embora essa sequencia tenha sido elaborada para as condições de clima e ambiente do PR, a tabela 1 pode auxiliar técnicos e produtores no planejamento de sistemas de rotação de culturas, servindo como exemplo. Contudo, cabe destacar que cada propriedade deve estabelecer seu próprio sistema de produção e rotação de culturas com base nos objetivos almejados, disponibilidade de insumos, interesses econômicos e condições de clima e ambiente, ou seja, “não existe receita de bolo” para definir uma rotação de culturas.

Referências:

 

BOGIANI, J. C.; FERREIRA, A. C. B. PLANTAS DE COBERTURA NO SISTEMA SOJA-MILHO-ALGODÃO NO CERRADO. IPNI, Informações Agronômicas, n. 160, 2017. Disponível em: < http://www.ipni.net/publication/IA-BRASIL.NSF/0/35C19FD1CEF13F5483258210003BD848/$FILE/Page1-15-160.pdf >, acesso em: 02/07/2021.

FRANCHINI, J. C.; COSTA, J. M.; DEBIASI, H. ROTAÇÃO DE CULTURAS: PRÁTICA QUE CONFERE MAIOR SUSTENTABILIDADE À PRODUÇÃO AGRÍCOLA NO PARANÁ. IPNI, Informações Agronômicas, n. 134, 2011. Disponível em: < http://www.ipni.net/publication/ia-brasil.nsf/0/d88eb80e259ba11e83257a8f005e67e3/$file/page1-13-134.pdf >, acesso em: 02/07/2021.

GONÇALVES, S. L. et al. ROTAÇÃO DE CULTURAS. Embrapa, Circular Técnica, n. 45, 2007. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPSO-2009-09/27612/1/circtec45.pdf >, acesso em: 02/07/2021.

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