O processo de sucessão é uma fase crítica para a gestão de uma empresa familiar, pois dele dependerá também o sucesso e continuidade do empreendimento. Este processo demanda planejamento e gestão, de modo a garantir a sobrevivência da empresa para as gerações e evitar que os conflitos e divergências familiares interfiram na dinâmica do empreendimento. Desta forma, apenas as empresas que conhecem muito bem o mercado onde se encontram e, portanto, que conseguem adaptar-se de modo a atender as exigências requeridas terão chances reais de sobreviver.
Uma das principais dificuldades enfrentadas no processo sucessório é a falta de planejamento para a aposentadoria, visto que o sucedido precisa compreender e aceitar a necessidade de abrir mão das decisões. Essa resistência em transferir o comando decorre não somente pela perspectiva de final de vida produtiva que este contexto poderá trazer para eles, mas também, pelo seu arraigado apego emocional a uma história de vida ligada ao patrimônio da família, muitas vezes herdado de seus antecipados e/ou construído às duras penas.
Neste sentido, a grande maioria dos produtores, mesmo querendo que seus filhos deem continuidade à atividade da família, não pretende parar 100% de ajudar nos negócios. Esse fato demonstra a importância de o sucedido estar bem preparado para todas essas mudanças.
Grande parte dos produtores rurais gostaria que seus filhos, quando herdassem as terras, as mantivessem, mas acreditam que eles as venderiam, já que entendem que são várias as dificuldades para a permanência da família na atividade agropecuária.
A prática do diálogo incentivada continuamente e as boas relações entre os familiares configuram-se aspectos facilitadores com relação aos conflitos, onde os principais motivos decorrem, em parte, pela assimetria de visões entre sucedido e sucessor – onde é comum, inicialmente, haver uma postura de descrédito quanto às ações e mudanças propostas pelos filhos. No entanto, esta atitude tende a mudar na medida em que os resultados positivos das mudanças introduzidas pelos filhos vão sendo manifestadas.
Vale destacar que existe uma grande preocupação dos sucessores em não “falhar” na linha de comando das empresas, bem como de superar os feitos dos sucedidos e manter o caminho da prosperidade constante.
Apesar de os sucessores reconhecerem a importância da figura do sucedido nas empresas, principalmente pela sua experiência e fonte de segurança, entendem a necessidade de estabelecer definições bem claras, de modo que estes não interfiram nas decisões da nova gestão.
No entanto, pode-se constatar que conflitos entre membros da família não se constituíram em empecilhos e entraves. Ao contrário, os processos conflitantes entre sucedidos e sucessores, quando superados, são reconhecidos como verdadeiras oportunidades de aproximação entre pais e filhos.
Uma das principais facilidades do processo sucessório vem da percepção dos sucessores em relação à estabilidade patrimonial, financeira e humana em que se encontram as empresas. Esses reconhecem a trajetória de luta e a história empreendida pelos pais e sentem a responsabilidade de dar continuidade ao patrimônio. Esta atitude tem despertado nos sucessores sentimentos de admiração e respeito pelos sucedidos, reforçando os laços de confiança, fortalecendo a crença na empresa e, o compromisso com a longevidade dos negócios.
O intento de um sucedido em repartir os bens da família ainda em vida, bem como sua predisposição em passar o bastão desde muito cedo configura-se como uma estratégia positiva, facilitadora e decisória do processo sucessório de uma das empresas. Isto mostra uma visão de continuidade e de futuro sobre o patrimônio da empresa familiar, impulsionando o processo sucessório e, evitando assim, os tradicionais conflitos familiares.
Fonte: CEPEA
Autora: Gabriela Garcia Ribeiro – Pesquisadora do Cepea