Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
As cotações da soja, em Chicago, voltaram a subir nesta semana, puxadas pelas expectativas de dois importantes relatórios a serem anunciados pelo USDA. O primeiro o foi neste dia 10/06 (oferta e demanda), o qual iremos analisar em detalhes em nosso próximo comentário.
O segundo será anunciado no dia 30/06 e trata da área definitiva semeada com soja, milho e outros produtos nos EUA. Com isso, o bushel da oleaginosa, para o primeiro mês cotado, bateu em US$ 17,69 no fechamento desta quinta-feira (09), ficando somente dois pontos do recorde histórico atingido em 04 de setembro de 2012 (US$ 17,71). Uma semana antes o fechamento havia sido de US$ 17,29.
Lembrando que a média de maio ficou em US$ 16,77, o que representa um recuo de 0,3% sobre a média de abril. Um ano antes, a média de maio havia sido de US$ 15,73/bushel. Portanto, cerca de um dólar a menos O elemento central, que pesa na expectativa quanto ao relatório de área semeada, vem do clima nos EUA. Alguns analistas cogitam de que a área de soja possa ser menor, em favor do milho.
Nos últimos três meses, nos EUA, o milho tem apresentado uma projeção de maior rentabilidade do que a soja. Mas, aparentemente, não se espera grandes modificações na área indicada quando da intenção de plantio, em 31/03. Tanto é verdade que o plantio da oleaginosa, nos EUA, até o dia 05/06, chegava a 78% da área esperada, contra a média histórica de 81% para esta época do ano.
Ou seja, o mesmo vem se recuperando normalmente, embora o mercado esperasse 80% de área semeada na data indicada. Além disso, as lavouras germinadas chegavam a 56% do total semeado, contra 59% na média histórica para a data. Dito isso, o mercado continua preocupado com o aperto na oferta global, após as fortes perdas na América do Sul na última safra de verão.
Especialmente porque os EUA já teriam comprometido quase 60 milhões de toneladas de sua safra 2021/22, fato que tende a reduzir os estoques finais (algo a ser verificado no relatório deste dia 10/06). Das últimas safras, os produtores estadunidenses já estariam com 90% vendido e os brasileiros com 73%, enquanto a China ainda precisa de bastante soja para fechar o seu ano comercial.
Por sua vez, não se pode esquecer o novo e forte aumento do óleo de soja no mercado mundial, com Chicago, nesta semana, voltando a registrar 82,94 centavos de dólar por libra-peso, no fechamento do dia 08/06. Exatos 12 meses antes o valor do óleo, naquela Bolsa, era de 72,08 centavos. O óleo continua sob tensão devido aos efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia. (cf. Agrinvest Commodities)
Enquanto isso, as exportações de soja por parte dos EUA, na semana encerrada em 02/06, atingiram a 111.600 toneladas para o ano 2021/22, ficando dentro do esperado pelo mercado, embora próximas do patamar mínimo aguardado. No total do ano comercial atual os EUA já exportaram 59,6 milhões de toneladas de soja, contra uma projeção de 58,24 milhões para o ano.
Já para a safra 2022/23, que está sendo semeada, os EUA venderam 284.000 toneladas, ficando igualmente dentro das expectativas do mercado. E no Brasil os preços se recuperaram, puxados, além de Chicago, pela melhoria no câmbio, o qual operou entre R$ 4,80 e R$ 4,90 em grande parte da semana.
Já o prêmio, com base no porto de Paranaguá, esteve entre US$ 1,35 a US$ 2,15/bushel para o período de junho a agosto. Assim, o fechamento da semana acusou uma média, no balcão gaúcho, de R$ 179,48/saco, enquanto as principais praças compradoras pagaram R$ 181,00.
Nas demais praças brasileiras, os preços da soja oscilaram entre R$ 165,00 e R$ 180,00/saco. Vale registrar que, seguindo o comportamento externo, o óleo de soja no Brasil dispara de preço. O produto, bruto degomado, negociado na capital São Paulo (com 12% de ICMS), teve média de R$ 9.693,25/tonelada em maio. Isso é 5,3% superior à de abril e recorde real (com base no IGP-DI de abril/22), considerando-se a série mensal iniciada em julho de 1998 pelo Cepea. Ressalta-se que o avanço do preço doméstico foi limitado pela menor demanda do setor de biodiesel.
Além disso, indústrias alimentícias vêm relatando dificuldades em repassar as novas valorizações do óleo de soja ao consumidor. Quanto à soja em grão, além do câmbio, o aumento no preço do óleo elevou a procura da indústria pela oleaginosa, o que impulsionou as cotações da matéria-prima. (cf. Cepea/Esalq)
Em paralelo, a comercialização da safra 2021/22, no Brasil, indica 65,9% do total que deve ter sido produzido, até o dia 03/06, segundo Safras & Mercado. Lembrando que a média histórica é de 71,5%. Já para a safra 2022/23, as vendas antecipadas estariam em 13,3% na mesma data, considerando-se uma projeção de colheita futura em 144,7 milhões de toneladas.
Em igual período do ano anterior as vendas antecipadas estavam em 19,2% do total esperado, enquanto a média histórica é de 18,8%. Ou seja, neste ano o produtor está mais receoso em vender antecipadamente. Um dos motivos é que os produtores não estão conseguindo fechar negócios tipo barter, ou seja, adquirir insumos antecipadamente em troca de entrega futura de soja, pois o mercado de insumos está enfrentando dificuldades em muitas regiões do país.
Enquanto isso, a Abiove informa que o processamento de soja chegou a 13 milhões de toneladas, no Brasil, nos primeiros quatro meses do ano. Isso representa um aumento de 8% sobre o mesmo período do ano de 2021. Já a produção de farelo de soja ficou em 10 milhões de toneladas e a de óleo de soja em 2,6 milhões de toneladas, volumes ligeiramente superiores aos verificados nos quatro primeiros meses do ano passado.
Ao mesmo tempo, as exportações brasileiras de soja, no primeiro quadrimestre do ano, segundo a Secex, tiveram um aumento de 3% sobre igual período do ano passado, atingindo a 32,4 milhões de toneladas. O farelo registrou aumento de 35%, atingindo a 6,2 milhões de toneladas no período, e o óleo de soja aumentou suas vendas em 69%, ao atingir 709.000 toneladas.
Em tal contexto, as projeções para todo o ano de 2022 foram revistas, com as vendas externas do grão de soja ficando, agora, em 77 milhões de toneladas, o seu esmagamento aumentando para 48,1 milhões de toneladas, resultando em maior oferta de farelo e óleo, enquanto as exportações de óleo de soja atingiriam 2 milhões de toneladas.
As vendas totais anuais do complexo soja, segundo a Abiove, chegariam a US$ 58 bilhões em 2022. Especificamente no mês de junho corrente, a Anec projeta exportações de soja em um total de 9,41 milhões de toneladas, o que seria um recuo de 7,1% sobre o total exportado em junho do ano passado, e 851.000 toneladas a menos do que o exportado em maio. Já os embarques de farelo de soja chegariam, em junho, a 2,03 milhões de toneladas, sendo 10,3% superiores ao registrado em junho de 2021.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).