A compactação do solo traz inúmeros prejuízos para o sistema produtivo, alterando características físicas e estruturais do solo, diminuindo a infiltração de água no solo, limitando o crescimento radicular e causando redução na produtividade das culturas agrícolas.

Veja também: Você sabe quanto está perdendo em produtividade pela compactação do solo?

Segundo SECOO et. al (2004), a compactação do solo é influenciada por um conjunto de fatores que podem ou não se relacionar aumentando o grau da compactação; dentre esses fatores, o trafego de máquinas, a baixa quantidade de resíduos culturais no solo e a realização de práticas agrícolas mecanizadas em umidade inadequada, favorecem a compactação do solo.

Mas somo saber se o solo está compactado?

Conforma destacado por OLIVEIRA et. al (2019), a diagnose e detecção da compactação do solo é dependente de um conjunto de informações e atributos característicos que configuram um solo compactado. Entre as informações necessárias para diagnose, é interessante conhecer o histórico de manejo e cultivo da área, o tipo de solo (solos argilosos são mais propensos a compactação), a capacidade de infiltração de água no solo, resistência a penetração e o comportamento de crescimento e desenvolvimento do sistema radicular das plantas cultivadas.

Para determinar algumas características de compactação, não é necessário o uso de ferramentas sofisticadas. Por exemplo, ao abrir uma trincheira no solo ou mesmo arrancar uma planta cultivada, a observação do comportamento de crescimento do sistema radicular é um dos melhores indicadores de solos compactados. Em solos compactados, o crescimento radicular é limitado pelas camadas mais compactas do solo, impondo ás raízes, certo impedimento físico para o crescimento e desenvolvimento radicular (figura 1).

Figura 1. Sistema radicular de soja cultivada em solo compactado.

Foto: Herique Debiasi.

Conhecer o histórico de produção e sistemas de cultivo da propriedade também pode auxiliar na identificação da compactação do solo, não só em superfície mas também em profundidade no perfil do solo. Em sistemas de cultivo que utilizaram por muito tempo de gradagem pesada ou aração, o uso excessivo desses implementos pode ter acarretado na compactação em níveis inferiores ao revolvido pelos equipamentos, o conhecido pé-de-arado ou pé-de-grade. Tanto o pé-de-arado quanto o pé-de-grade atuam como agentes de resistência física, o que dificulta a infiltração de água no solo, nas camadas mais profundas do seu perfil.

Tratando-se de plantio direto na palhada, a dinâmica de compactação é totalmente diferente da compactação em sistemas de cultivo convencionais, sendo que no plantio direto as camadas superficiais são as mais propensas à compactação.

Outras alternativas para diagnose da compactação, em especial em sistemas de plantio direto, é a adoção de ferramentas como os penetrômetros (figura 2). Os penetrômetros são aparelhos capazes de realizar a leitura do grau de resistência a penetração do solo, sendo que para o cultivo da soja, sob sistema de plantio direto, BEULTER & CENTURION avaliando a interferência da compactação do solo na produtividade da cultura obtiveram resultados que demonstram que acima de 0,85 MPa de resistência a penetração, perdas de produtividade chegando a 1000 kg. ha-1 podem ocorrer dependendo da intensidade da compactação.

Contudo, o uso do penetrômetro requer alguns cuidados, visto que a resistência do solo a penetração apresenta relação direta com a umidade do mesmo, recomenda-se ter atenção com a umidade do solo para realização das medições. Segundo OLIVEIRA et. al (2019) e BEULTLER; CENTURION; SILVA (2007), o ideal é realizar as avaliações de resistência a penetração quando o solo atingir a capacidade de campo. A nível de lavoura para diminuir erros, recomenda-se a prática dois a três dias após eventos de chuva.

Figura 2. Uso de penetrômetro digital para avaliação da resistência a penetração do solo.

Foto: Moacir Tuzzin de Moraes.

Como prevenir a compactação do solo no sistema plantio direto?

No cultivo da soja sob sistema plantio direto, algumas práticas de manejo auxiliam na prevenção da compactação do solo. Com um sistema de rotação de culturas bem planejado, que vise o incremento de palhada, matéria orgânica no solo e o uso de plantas de cobertura com sistema radicular denso e pivotante, é possível diminuir riscos de compactação do solo, trabalhando com a manutenção do sistema produtivo. Além disso, práticas de manejo mais simples como o controle da entrada de maquinas agrícolas em umidades inadequadas do solo diminuem a intensidade da compactação do solo.



Outras práticas mais complexas como a delimitação das áreas de circulação, o tráfego controlado e a padronização da “bitola” dos rodados de máquinas agrícolas (figura 3) a fim de utilizar os mesmos rastros em práticas de manejo mecanizadas, também minimizam os riscos de compactação dos solos, contudo exigem planejamento e persistência para sua implantação.

Figura 3. Adequação da “bitola” de rodados de um trator agrícola para utilização do mesmo rastro do pulverizador autopropelido.

Foto: marini.agr.br.

Para minimizar os efeitos da compactação do solo nos rastros das máquinas, alternativas como o cultivo de nabo forrageiro são aliados para garantir boa estrutura física do solo e sustentabilidade do sistema (figura 4).

Figura 4. Cultivo de nabo forrageiro em áreas de cultivo com adoção do tráfego controlado de máquinas agrícolas.

Fonte: BERTOLLO (2018).

Que práticas de manejo podem ser utilizadas para reverter a compactação do solo?

Em lavouras de plantio direto cujo solo já apresenta características de compactação, a curto prazo medidas como a escarificação e subsolagem do solo são alternativas para descompacta-lo, contudo, a adoção dessas medidas implica em aumento nos custos de produção, mão de obra e disponibilidade de máquinas.  A médio/longo prazo, a adoção de sistemas de cultivo com ampla rotação de culturas utilizando plantas de cobertura com capacidade de descompactar o solo e alta produção de resíduos culturais (palhada), são alternativas para além de auxiliar na melhoria de atributos físicos do solo, atuar também como promotores do desenvolvimento da biologia, microbiologia e fertilidade do solo, promovendo o incremento da matéria orgânica do solo e melhorando características produtivas do sistema, trazendo benefícios não restritos apenas ao solo, mas também ao manejo fitossanitário das culturas. Outra alternativa é o uso do gesso agrícola para promover a “construção do perfil do solo” atuando na correção da acidez do solo nas camadas mais profundas e proporcionando condições favoráveis ao crescimento e desenvolvimento radicular nessas camadas.

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Referências:                                                                                       

BERTOLLO, G. M. DESEMPENHO E EMISSÕES DE TRATOR EM SEMEADURA COM DIFERENTES CONFIGURAÇÕES DE SULCADORES EM ÁREAS DE TRAFEGO CONTROLADO DE MÁQUINAS. Santa Maria, 139p. 2018.

BEULTLER, A. N; CENTURION, J. F; SILVA, A. P. COMPARAÇÃO DE PENETRÔMETROS NA AVALIAÇÃO DA COMPACTAÇÃO DE LATOSSOLOS. Eng. Agríc. Jaboticabal, v.27, n.1, p.146-151, jan/abr. 2007.

Marini. Rodado duplo com adaptador de eixos. Disponível em: http://marini.agr.br/produtos/rodado-duplo-com-alongador-de-eixo/, acesso em: 30/03/2020.

OLIVEIRA, A. B. et al. COLEÇÃO 500 PERGUNTAS, 500 RESPOSTAS. Embrapa, Brasília, 274 p. 2019.

SECCO, D. et al.  PRODUTIVIDADE DE SOJA E PROPRIEDADES FÍSICAS DE UM LATOSSOLO SUBMETIDO A SISTEMAS DE MANEJO E COMPACTAÇÃO. R. Bras. Ci. Solo, p.797-804, 2004.

Redação: Maurício Siqueira dos Santos – Eng. Agrônomo.

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