A água é um dos principais se não o principal fator limitante da produtividade de uma cultura agrícola. Para que a planta cresça, se desenvolva e expresse seu potencial produtivo, além de radiação solar e nutrientes, é necessário o adequado aporte hídrico. Déficits hídricos durante o ciclo da planta, podem implicar em reduções drásticas da produtividade, dependendo do estádio do desenvolvimento em que afetam a cultura.
Sendo assim, posicionar adequadamente as culturas no campo, considerando não só as exigências hídricas e térmicas como também os prognósticos climáticos, é essencial para minimizar danos e reduzir riscos em eventuais ocorrências de déficit hídrico. Em muitos sistemas de produção agrícola, uma das culturas mais empregadas na rotação com a soja, seja na safra ou segunda safra (safrinha) é o milho, gramínea pertencente à família Poaceae, que apresenta rápido crescimento e desenvolvimento, atrelado e boa produção de grãos e matéria seca.
Contudo, em anos com prognósticos climáticos que preveem a ocorrência de poucas chuvas, definir o cultivo pode ser uma tarefa um tanto quanto desafiadora. Visando reduzir os riscos em decorrência do déficit hídrico, o posicionamento das culturas pode ser a tarefa mais importante na implementação da lavoura. Pensando em culturas de verão com ciclo relativamente rápido, tanto milho quando sorgo são frequentemente lembradas, entretanto, pensando em um cenário de baixa disponibilidade hídrica, qual seria o melhor candidato?
Embora varie em função da cultivar, ciclo e condições ambientais, de modo geral, o milho para a produção de grãos, necessita de 400 a 700mm durante seu ciclo de desenvolvimento (Andrade et al., 2006). Já o requerimento hídrico do sorgo varia entre 380 a 600mm, sendo que, estudos demonstram ser possível obter boas produtividade com apenas 350 mm durante o ciclo da cultura (pensando em sorgo granífero) (Albuquerque & Andrade, 2015).
Ainda que cultivares modernas de milho apresentem menor requerimento hídrico, o sorgo é tido como uma cultura mais tolerante a veranicos quando comparado ao milho (Embrapa, 2008). Quando comparado ao milho, o sorgo apresenta maior volume radicular, o que permite à planta explorar um maior volume de solo, e consequentemente, maior água disponível, fator que contribui para a maior tolerância do sorgo a períodos de déficit hídrico.
Figura 1. Comparação entre sistemas radiculares de diferentes culturas agrícolas.
Tanto sorgo quanto milho apresentam mecanismo fotossintético C4, o que lhes confere uma maior eficiência no uso da água (E.U.A), no entanto, quando comparado ao milho, o sorgo apresentar algumas peculiaridades que o tornam ainda mais eficiente. Sob estresse hídrico, o milho encurta seu ciclo e tem sua produtividade extremamente reduzida, já o sorgo, paralisa seu desenvolvimento aguardando as condições favoráveis de precipitação, condições estas típicas de regiões com veranicos prolongados (Silva, 2011).
Tabela 1. Aspectos relacionados ao estresse hídrico na cultura do sorgo e do milho (informações em itálico correspondem à desvantagem em relação a outra cultura).
Silva (2011), destaca que, quando comparado ao milho, o sorgo apresenta maior potencial produtivo quando submetido ao estresse hídrico. Logo, pode ser considerada uma interessante alternativa de cultivo para situações de baixa disponibilidade hídrica ou para regiões em que as chuvas são menos abundantes. No entanto, vale destacar que embora o sorgo seja considerado uma planta tolerante ao déficit hídrico, reponde positivamente a irrigação. Dependendo das condições edafoclimáticas, o uso da irrigação pode dobrar ou triplicar a produtividade do sorgo granífero em relação à de sequeiro (Albuquerque & Andrade, 2015).
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Referências:
ALBUQUERQUE, P. E. P.; ANDRADE, C. L. T. IRRIGAÇÃO. Sorgo: o produtor pergunta, a Embrapa responde, cap. 4, Embrapa, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/215310/1/500-perguntas-sorgo.pdf >, acesso em: 09/01/2024.
ANDRADE, C. L. T. et al. VIABILIDADE E MANEJO DA IRRIGAÇÃO DA CULTURA DO MILHO. Embrapa, Circular Técnica, n. 85, 2006. Disponível em:
< https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPMS/19629/1/Circ_85.pdf >, acesso em: 09/01/2024.
EMBRAPA. PROSA RUTAL – SILAGEM DE MILHO E DE SORGO. 1ª semana – Regiões Semiárido, Centro-Oeste/Sudeste e Sul, Embrapa, 2008. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/2501500/prosa-rural—silagem-de-milho-e-de-sorgo#:~:text=O%20sorgo%20produz%20uma%20silagem,%C3%A9%20mais%20tolerante%20a%20veranicos. >, acesso em: 09/01/2024.
SILVA, M. L. AVALIAÇÃO DE GENÓTIPOS DE SORGO FORRAGEIRO NA ZONA DA MATA DE ALAGOAS. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Alagoas, 2011. Disponível em: < https://ceca.ufal.br/pt-br/pos-graduacao/zootecnia/documentos/dissertacoes/michel-lopes-silva >, acesso em: 09/01/2024.
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