Objetivo desse projeto é mapear a realidade
dos produtores de soja do RS, indicando o nível de sustentabilidade da produção.
Autores: Victória Brittes Inklman¹; Bruna San Martin Rolim Ribeiro²; Alencar Junior Zanon³; Nereu Augusto Streck3; Luana Bueno Longaray4; Gabriel Rocha1; José Eduardo Minussi Winck2
Introdução
Devido a estagnação da produtividade das principais culturas agrícolas e futuro cenário que projeta 9,8 bilhões de pessoas em 2050, há necessidade de aumentar produção de energia, grãos e produtos animais (Cassman et al., 2003). A soja (Glycine max [L] Merr.) é uma alternativa para suprir esta demanda, pois é principal fonte de óleo e proteína para a alimentação humana e animal. Neste cenário, o Brasil é o maior produtor de soja do mundo e o Rio Grande do Sul (RS) é o 3° maior produtor nacional, com produtividade média de 3 Mg ha-1 (CONAB, 2021).
Com a proposta de aumentar a produtividade de soja de maneira sustentável, o campeonato Soybean Money Maker proposto pela Equipe FieldCrops é um incentivo para os agricultores produzirem de forma sustentável. Este projeto mapeia a realidade dos produtores de soja do RS, indicando o nível de sustentabilidade da produção baseando-se em indicadores. A seleção de indicadores adequados para medir a sustentabilidade é um procedimento complexo e abrangente. Portanto, neste trabalho escolhemos indicadores que fornecem informações claras para a realização de uma ação adequada, sendo capaz de orientar a gestão do agricultor para um nível mais alto de sustentabilidade (Meul et al., 2008; Pannell & Glenn, 2000). Nesse sentido, o objetivo deste estudo é avaliar a sustentabilidade econômica e ambiental de 13 lavouras de soja do RS através de três indicadores: lucratividade, produtividade da água (PA) e eficiência no uso de insumos (EUI).
Material e Métodos
O campeonato Soybean Money Maker foi realizado na área de cultivo de soja no RS, nos municípios de Cachoeira do Sul, Rio Grande, Tapes, Alegrete, Camaquã, Santa Vitória do Palmar, Itaqui, Barra do Ribeiro, Cacequi, Torres, Santa Maria e Dom Pedrito e Tubarão, Santa Catarina (SC), totalizando 13 produtores. A escolha do produtor foi baseada no seu poder de influência e comunicação. Após isso, cada produtor recebeu uma apostila com perguntas sobre manejo e custos da lavoura. Na lavoura, mensurouse o tamanho do talhão (podendo variar entre 2,5 ha e 10 ha) e a produtividade. A PA foi calculada através da relação entre produtividade de grãos e a entrada total de água (French & Schultz, 1984; Pittekow et al., 2016). A EUI foi calculada através pela relação entre emissão de CO2 dos insumos utilizados e produtividade (kg há-1) (Raucci et al.,2015). A conversão dos insumos em quantidade de CO2 emitido foi obtida pela multiplicação entre as quantidades de insumos e os coeficientes propostos por Lal et al. (2004). Para determinar o nível de sustentabilidade ambiental das lavouras, os indicadores ambientais ganharam notas em função da sua importância e maior relação com práticas de manejo sustentáveis. Por exemplo, aumentar ou diminuir a produtividade da água envolve mais fatores de manejo do que emissão de Co2 que está relacionado com as entradas de insumo na lavoura, portando a PA recebeu nota 6 enquanto a EUI teve nota 4.
Resultados e Discussão
A lucratividade variou de R$ 6.5 a 20.1 mil por hectare (Figura 2). A PA variou de 3,9 kg mm-¹ (Itaqui/RS) a 22 kg mm-¹ (Tapes/RS), com média de 9,7 kg mm-¹ (Figura 3A). Isso indica que maior parte das lavouras do RS é eficiente no uso da água, pois apresentam valores acima do ótimo para este indicador (6 kg mm-1) (Connor, 2002). A EUI variou de 2,9 (Barra do Ribeiro/RS) a 14,5 kg de grãos/kg de Co2 eq. (Tapes/RS) (Figura 3B). As lavouras mais sustentáveis são aquelas que obtiveram a maior eficiência no uso de insumos. A partir dos resultados dos dois indicadores de sustentabilidade ambiental, foi calculado o nível de sustentabilidade ambiental das lavouras. Essa avaliação indicou os municípios de Tapes/RS, Camaquã/RS e Alegrete/RS como mais sustentáveis da região sojícola avaliada, respectivamente (Figura 4).
Figura 2. Lucro dos produtores do campeonato Soybean Money Maker da Equipe FieldCrops. (Mil reais/ha) por município.
Figura 3. (A) Índice de Produtividade de Água (PA) nos municípios de realização do campeonato Soybean Money Maker da Equipe FieldCrops. As colunas preenchidas em azul indicam a PA. A linha vermelha indica o valor ótimo para PA (Cornnor et al., 2002); (B). Índice de Emissão de CO2 (ECO2) nos municípios de realização do campeonato Soybean Money Maker da Equipe FieldCrops. As colunas preenchidas indicam a quantidade de kg de grãos produzidos por CO2 equivalente emitido.
Figura 4. Nível de sustentabilidade ambiental das lavouras participantes do Campeonato Soybean Money Maker da Equipe FieldCrops.
Conclusões
• As lavouras mais sustentáveis economicamente são Tapes/RS, Alegrete/RS e Camaquã/RS, respectivamente.
• As lavouras mais sustentáveis ambientalmente são Tapes/RS, Camaquã/RS e Cacequi/RS, respectivamente.
• As lavouras de soja avaliadas neste trabalho possuem, em média, 70% de sustentabilidade ambiental.
Informações sobre os autores:
- ¹ Acadêmica(o) do Curso de Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS. E-mail: victoriabrittes2@gmail.com; gabrielrocharg@hotmail.com
- ² Acadêmica(o) do Curso de Pós Graduação, Universidade Ferderal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS.E-mail: brunasanmartinrolim@gmail.com; eduardo.winck@hotmail.com
- ³ Professor Titular do Curso de Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS. E-mail: alencarzanon@hotmail.com; nstreck2@yahoo.com.br
- 4 Acadêmica do Curso de Agronomia, Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Santa Maria/RS. E-mail: buenolongaray@gmail.com
Referências
CASSMAN, K. G. et al. CASSMAN, K. G. et al. Meeting cereal demand while protecting natural resources and improving environmental quality. Annual Review of Environment and Resources, [s. l.], v. 28, p. 315–358, 2003.
CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento. Soja – Brasil: Série histórica de área plantada e de produtividade. Brasília, 2019. Online. Disponível em: <https://www.conab.gov.br/info-agro/safras>. Acesso em: 05 de mai. de 2021.
CONNOR, D. J. et al. Crop Ecology, Productivity and Management in Agricultural Systems. Cambridge Univ. Press, Cambridge, UK. 2011.
FRENCH, R. J.; SCHULTZ, J. E. Water use efficiency of wheat in a Mediterranean-type environment. I. The relation between yield, water use and climate. Australian Journal of Agricultural Research, [s. l.], v. 35, n. 6, p. 743–764, 1984.
LAL, R. Carbon sequestration in soils of central Asia. Land Degradation & Development, v. 15, n. 6, p. 563-572, 2004.
PITTELKOW, C. M. et al. Sustainability of rice intensification in Uruguay from 1993 to 2013. Global Food Security, [s. l.], v. 9, p. 10–18, 2016.
RAUCCI, G. S. et al. Greenhouse gas assessment of Brazilian soybean production: A case study of Mato Grosso State. Journal of Cleaner Production, [s. l.], v. 96, p. 418–425, 2015. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/j.jclepro.2014.02.064>., [s. l.], v. 28, p. 315–358, 2003.