A praga é considerada a mais importante na agricultura do Brasil devido aos prejuízos econômicos, rápido desenvolvimento e a grande diversidade de plantas hospedeiras (PROMIP, 2019). Está presente em todas as regiões produtores de algodão. Principalmente em áreas próximas à cultura de milho, ou em rotação com trigo, aveia e milho (BELLETTINI et. al, 2011).

Nas últimas safras, observou-se lagartas alojadas e se alimentando de estruturas reprodutivas do algodão, como botões florais e maçãs, ocasionando perdas significativas na cultura. Essa praga tem ganhado maior importância pelo seu alto índice de ocorrência e também pela capacidade de sobreviver em cultivares com tecnologia Bt (INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO, 2018).

Os ovos possuem coloração verde. As lagartas têm tonalidade clara no início de desenvolvimento, passando para pardo-escuro a esverdeadas. Apresentam um “Y” invertido na cabeça, três pares de pernas no tórax e cinco pares de falsas pernas no abdome.   Preferem se alimentar de folhas novas e se encontram, geralmente, uma por planta devido ao seu hábito canibal (KOPPERT). As larvas realizam diversas ecdises (em geral 7) e, na sua última, penetram no solo e se transformam em pupas.

Figura 1. Característica do Y invertido na cabeça da lagarta S. frugiperda

Foto: INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO (2018).

O adulto é uma mariposa medindo cerca de 35 mm de envergadura, com asas anteriores pardo-escuras e as posteriores apresentando-se branco-acinzentadas.

Figura 2. Adulto de S. frugiperda representado pela mariposa.

Ciclo de desenvolvimento

Figura 3. Ciclo de vida de S. frugiperda

Foto: PROMIP (2019).

Danos

Os prejuízos são reportados para as culturas de maior interesse agrícola, sendo a espécie presente de norte a sul no país. Segundo a FAO, o Brasil gasta US$ 600 milhões a cada ano para controlar S. frugiperda (ONU NEWS, 2017). A fase de lagarta, que pode causar problemas para o agricultor, pode durar cerca de 15 dias. Quanto maior a lagarta, maiores os danos (PROMIP, 2019).

As lagartas recém eclodidas irão iniciar a alimentação nas folhas da cultura, preferindo danificar as brácteas dos botões florais, raspando-as. Quando aumentam de tamanho, iniciam as perfurações no interior das flores ou na base das maçãs (BARROS et. al, 2005; BELLETTINI et. al, 2011). No entanto, o ataque pode ocorrer nas folhas, brácteas, flores e maçãs (PROMIP, 2019).

Figura 4. S frugiperda se alimentando das estruturas reprodutivas do algodão.

Foto: INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO (2018).

Nível de ação

Quando houver 6 a 8% de plantas infestadas com lagartas maiores que 3mm. O controle é mais eficaz na fase de ovo e nos primeiros instares (1º ao 3º) (AEGRO, 2018).

Manejos

  • Controle biológico

Bactéria

Bacillus thuringiensis

Se a cultivar não possui tecnologia Bt, pode-se entrar com controle de bioinseticida a base de Bt. A praga ingere uma folha inoculada e é contaminada com a bactéria. A vantagem é que o produto é entomopatogênico, sendo específico para controle do inseto-alvo (AEGRO, 2018).

– Vírus

CartuchoVIT, lançado pela Embrapa Milho e Sorgo em parceria com o Grupo Vitae Rural, é a base de Baculovírus spodoptera. Mortalidade de 75-95% das lagartas até 1 cm ou até 5 dias de idade (EMBRAPA, 2017). Pode-se usar em pós-emergência na forma inundativa, em todas as culturas na qual ocorra. A aplicação deve ser realizada entre 10 a 15 dias após a germinação.

Disponível como pó molhável. O agricultor dilui o pó em água e aplica no campo. Podem ser usados os mesmos equipamentos de aplicação de produtos químicos. Em geral, são realizadas 2 aplicações (EMBRAPA, 2019; EMBRAPA 2017). Existem outros baculovírus altamente específicos para controle de S. frugiperda em algodão no mercado. Os resultados demonstram controle superior a 74%.

– Mini vespas

Trichogramma pretiosum é uma mini vespa que controla Spodoptera frugiperda na fase de ovo. É recomendado a liberação de 100 mil parasitoides.ha-1 com 2 ou 3 aplicações. Intervalo de 10 dias entre as aplicações. O controle é superior a 60%.

– Fungo

Beauveria bassiana

Os fungos entram em contato com os insetos e introduzem seus esporos para dentro do corpo, introduzindo toxinas nas pragas. De acordo com THOMAZONI et. al, (2014), a eficiência isolada de Beauveria bassiana compreende 44,5% de mortalidade de lagartas.

Figura 5. Spodoptera frugiperda atacada por Beauveria bassiana

Fonte: AEGRO (2018).

– Nematoide benéfico

Heterorhabditis bacteriophora possui alta eficiência para controle de S. frugiperda, além de alta capacidade de se reproduzir, o que acarreta em controle duradouro. É capaz de se movimentar no solo para encontrar o hospedeiro e pode ser aplicado por meios convencionais (POLANCZYK & ALVES, 2005).

Causa mortalidade de 60-80% na lagarta-do-cartucho (POLANCZYK & ALVES, 2005). Em outro estudo de Molina-Ochoa et. al, (1996), verificaram que H. bacteriophora na concentração de 100 nematoides.mL-1, causou mortalidade de 64,7% em lagartas de S. frugiperda. Além de ser mais eficaz na fase larval.



  • Controle químico

Existem 62 produtos químicos registrados para controle de S. frugiperda na cultura do algodão AGROFIT (2020). Entre os grupos químicos registrados, estão: benzoilureia, metilcarbamato de oxima, antranilamida, piretroide, semicarbazone, organofosforado, oxadiazina, diamida de ácido ftálico, acetato insaturado, neonicotinoide, metilcarbamato de benzofuranila, análago de pirazol e avermectina.

Aplicar inseticidas seletivos para preservar os inimigos naturais como a tesourinha (Dorus luteipes), joaninhas (Harmonia axyridis e Coleomegilla maculata) e parasitoide de ovos (Trichogramma pretiosum) (AEGRO, 2019).

Trabalhos realizadas por BELLETTINI et. al, (2011), intitulado “INSETICIDAS NO CONTROLE DA LAGARTA MILITAR SPODOPTERA FRUGIPERDA (J.E. SMITH, 1797) NO ALGODOEIRO”, conferem resultados de inseticidas. Na Tabela 1, podemos observar a eficiência e as doses utilizadas (g i.a.ha-1).

Tabela 1. Eficiência dos produtos testados no controle de Spodoptera frugiperda no algodoeiro.

Adaptado: BELLETTINI et. al, (2011).

Os autores concluíram que a maioria dos produtos (exceto Tiodicarbe 200 g i.a.ha-1, pertencente ao grupo químico metilcarbamato de oxima) apresentaram eficiência igual ou superior a 80% no controle e menor número de botões florais danificados pela Spodoptera frugiperda no algodoeiro. Observa-se a importância das doses para eficiência de controle da praga. Flubendiamide pertence ao grupo químico diamida de ácido ftálico. Eficiência de 100% de controle após 12 dias com utilização de dose 57,6 g i.a./ha.

BARROS et. al, (2005), de acordo com a Tabela 3. testaram a eficiência de controle de inseticidas até aos 14 dias após a 2ª aplicação. Foram realizadas duas aplicações para cada tratamento, com intervalo de dez dias.

Tabela 3. Eficiência de inseticidas (%E) no controle de Spodoptera frugiperda, aos três 3, 5, 7, 10 e 14 dias, após a segunda aplicação, na cultura do algodão (Acreúna, GO, 2002).

¹ mL de produto comercial.ha-1.
Adaptado de BARROS et. al, (2005).

As Espinosinas reduziram seu efeito de controle, demonstrando o fim do efeito residual do produto. As aplicações contínuas foram necessárias para manter o nível de controle da praga.

Clorpirifós e methoxifenozide obtiveram resultados satisfatórios até o 5° dia da aplicação. Após, as reaplicações não reduziram significativamente a população de lagartas.

  • Tecnologia Bt

Em um estudo realizado por SANTANA (2016), foram utilizadas as tecnologias: DP 555BGRR® (Cry1Ac), FM 975WS® (Cry1Ac + Cry1F), DP 1228B2RF® (Cry1Ac + Cry2Ab2) e FM 940GLT® (Cry1Ab + Cry2Ae) + FM – 982 GL® (não Bt). O autor concluiu que o algodão FM 975WS® (Cry1Ac + Cry1F) apresenta alta mortalidade de lagartas neonatas de S. frugiperda (>80%) em folhas e estruturas reprodutivas.

O algodão DP 1228B2RF® (Cry1Ac + Cry2Ab2) e FM 940GLT® (Cry1Ab + Cry2Ae) apresentam considerável mortalidade de lagartas neonatas de S. frugiperda em botões florais e maçãs pequenas (entretanto, controle inferior a 80%).

Já o algodão DP 555BGRR® (Cry1Ac) causou taxa de mortalidade inferior a 50% durante o período de condução do experimento. Os materiais FM – 982 GL® (não Bt) e DP 555BGRR® (Cry1Ac), apresentam maiores médias de sobrevivência.

Existem oscilações na expressão da proteína na planta, o que pode ser devido à idade da planta, as condições climáticas, bem como devido à localização geográfica do cultivo ou até mesmo a resistência do inseto à tecnologia Bt (SANTANA, 2016).

Foram conduzidos experimentos no laboratório de entomologia do IMAmt, nas safras 2014/15 e 2016/17. Foram utilizadas lagartas neonatas e diversas tecnologias para controle, como: WideStrike (Cry1Ac + Cry1F), Bollgard II (Cry2Ab2 + Cry1Ac) e TwinLink (Cry1Ab + Cry2Ae), além de outra convencional (não Bt). Foram mantidas com controlado, com temperatura de 25 ± 2 °C, umidade relativa de 60 ± 5% e fotoperíodo de 12/12 horas.

O trabalho demonstrou que com a utilização da tecnologia WideStrike, houve uma taxa de sobrevivência de 85% de lagartas. Ainda, em regiões do Mato Grosso com utilização dessa tecnologia, houve cerca de 5-8 pulverizações para controle de S. frugiperda.

As demais tecnologias (Bollgard II e TwinLink) causam taxa de sobrevivência maior que 10%, por isso também são capazes de causar danos à cultura. Essas cultivares demonstraram necessidade de mais dias para se transformarem em pupa. Assim se conclui que elas possuem um menor número de gerações por ano. A tecnologia WideStrike apresenta o maior número de gerações por ano, superando até mesmo o algodão convencional.

Figura 6. Taxa de sobrevivência (%) de lagartas em cultivares Bt.

INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO (2018).

Veja também: Culturas com Tecnologia Bt e as Principais Pragas Controladas

Considerações finais

A lagarta-do-cartucho, pode ocasionar perdas de milhões de dólares para o nosso país anualmente. A praga causa danos em sua fase larval, que dura em torno de 15 dias. Nesse momento, ela raspa e perfura as folhas da cultura hospedeira.

Para se ter maior eficiência de controle, é necessário promover medidas conjuntas para manter produtividade. Ferramentas como utilização da tecnologia Bt (considerar utilização de bons genótipos), inseticidas com alta eficiência e técnicas biológicas podem controlar as infestações.

No entanto, é preciso se fazer o monitoramento das lavouras e atentar para o nível de ação (6-8% de infestação nas plantas para o algodão). Além disso, o momento de ação é de grande importância para o controle eficaz e rápido da praga.



Referências

AEGRO. AS TECNOLOGIAS QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA CONTROLAR “SPODOPTERA FRUGIPERDA”. Disponível em: < https://blog.aegro.com.br/controle-spodoptera-frugiperda/>. Acesso em: 21.03.2020

AEGRO. CONTROLE BIOLÓGICO DAS LAGARTAS DA SOJA. Disponível em: < https://blog.aegro.com.br/controle-biologico-da-lagarta-da-soja/>. Acesso em: 21.03.2020

AGROFIT. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: < http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>. Acesso em: 21.03.2020

BARROS et al. EFICIÊNCIA DE INSETICIDAS NO CONTROLE DE Spodoptera frugiperda (J. E. Smith 1797) (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) NA CULTURA DO ALGODOEIRO. Pesquisa Agropecuária Tropical, 35 (3): 179-182, 2005.

BELLETTINI, et al.  INSETICIDAS NO CONTROLE DA LAGARTA MILITAR SPODOPTERA FRUGIPERDA (J.E. SMITH, 1797) NO ALGODOEIRO. 8º Congresso Brasileiro de Algodão &  Cotton Expo 2011, São Paulo, SP – 2011

EMBRAPA. Embrapa amplia oferta de produtos biológicos para controle da principal praga do milho. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/42777858/embrapa-amplia-oferta-de-produtos-biologicos–para-controle-da-principal-praga-do-milho>. Acesso em: 22.03.2020

EMBRAPA. Inseticida biológico CartuchoVIT chega na próxima safra. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/23088635/inseticida-biologico-cartuchovit-chega-na-proxima-safra>. Acesso em: 22.03.2020

INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO. Situação da lagarta-do-cartucho no Estado de Mato Grosso. CIRCULAR TÉCNICA –  N° 34, 2018. Disponível em: < http://www.imamt.com.br/system/anexos/arquivos/364/original/circular_tecnica_edicao34_bx_Vfinal.pdf?1523053122>. Acesso em: 21.03.2020

KOPPERT. Lagarta do cartucho. Disponível em: < https://www.koppert.com.br/desafios/lagartas/lagarta-do-cartucho/>. Acesso em: 25.03.2020

Molina-Ochoa, J; Hamm, JJ; Lezama-Gutiérrez, R; Bojalil-Jaber, LF; Arenas-Vargas, M; Gonzales Ramírez, M. 1996. Virulence of six entomopathogenic nematodes (Steinermatidae and Heterorhabditidae) on immature stages of Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae). Vedalia, v.3, p.25-29

NETO, Oscar Arnaldo Batista; DE PAULA, Juliana Maria. EFEITO DE DIFERENTES DOSES E INSETICIDAS NO CONTROLE DA Spodoptera frugiperda (JE SMITH, 1797)(LEPDOPTERA: NOCTUIDAE) NA CULTURA DO ALGODÃO.

ONU News. África Austral adota plano para combater lagarta de “grande poder destrutivo”. Disponível em: <https://news.un.org/pt/audio/2017/02/1198051>. Acesso em: 21.03.2020

POLANCZYK, Ricardo A.; ALVES, Sérgio B. Interação entre Bacillus thuringiensis e outros entomopatógenos no controle de Spodoptera frugiperda. Manejo Integrado de Plagas y Agroecología, v. 74, p. 24-33, 2005.

PROMIP.  De olho na lagarta-do-cartucho. Disponível em: < https://promip.agr.br/de-olho-lagarta-cartucho/>. Acesso em: 21.03.2020

PROMIP. Manejo Integrado da Spodoptera frugiperda no milho. Disponível em: < http://www.promip.com.br/o-manejo-integrado-da-spodoptera-frugiperda-no-milho/>. Acesso em: 21.03.2020

SANTANA, Danilo Renato Santiago; DEGRANDE, Paulo Eduardo; DE MELO, Elmo Pontes. Capítulo 2: Mortalidade de lagartas de Spodoptera frugiperda (Smith, 1797)(Lepidoptera: Noctuidae) oriundas de população coletada em 2010 em algodão Bt. Desempenho do algodão Bt no controle de Helicoverpa armigera (Hübner, 1808)(Lepidoptera: Noctuidae) e Spodoptera frugiperda (Smith, 1797)(Lepidoptera: Noctuidae) e a competição interespecífica destes lepidópteros, p. 33, 2016.

THOMAZONI, Dhyego; FORMENTINI, Marina Andressa; ALVES, Luis Francisco Angeli. Patogenicidade de isolados de fungos entomopatogênicos à Spodoptera frugiperda (Smith)(Lepidoptera: Noctuidae). Arquivos do Instituto Biológico, v. 81, n. 2, p. 126-133, 2014.

Redação: Equipe Mais Soja

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