O crescimento e desenvolvimento de uma planta está condicionado a fatores biótipos e biótipos que podem servir como fonte de variação afetando até mesmo o ciclo de desenvolvimento da cultura. Na cultura da soja, um dos principais fatores exercem influência sobre o crescimento e desenvolvimento da cultura é a temperatura.
A temperatura influi na cultura desde a germinação das sementes, sendo que segundo MONTEIRO (2009) a semeadura da soja não deve ocorrer com temperaturas inferiores a 20°C. De maneira geral, o autor destaca que a soja se adapta melhor a ambientes com temperatura variando entre 20 e 30°C, sendo a temperatura ótima para o seu desenvolvimento em torno de 30°C.
Entretanto, MONTEIRO (2009) destaca que assim como outras culturas anuais, temperaturas basais inferiores e superiores são observadas para a soja. A temperatura basal interior é aquela na qual abaixo dela não há o crescimento e desenvolvimento das plantas, já a temperatura basal superior é compreendida como aquela na qual acima dela não há o crescimento e desenvolvimento da cultura. Para a soja, a temperatura basal inferior é de aproximadamente 13°C, já a temperatura basal superior é de aproximadamente 40°C.
Embora a temperatura basal superior pareça um tanto quanto elevada para o cultivo da soja, cabe destacar que essa temperatura refere-se apenas a temperatura média do ar, sendo possível observar temperatura ainda maiores em alguns casos no solo. Temperaturas acima de 40°C têm efeitos adversos na taxa de crescimento, provocando danos à floração e diminuindo a capacidade de retenção de vagens (FARIAS et. al, 2007)
Solos com pouca cobertura estão mais propensos ao aumento de temperatura, principalmente nas horas mais quentes do dia, a cobertura do solo desempenha papel fundamental na diminuição da temperatura do solo, proporcionando menores amplitudes térmicas e consequentemente um ambiente mais favorável ao desenvolvimento das plantas e organismos vivos do solo.
Avaliando os efeitos de uma camada de palha no comportamento térmico do solo, WEBLER et. al, (2016) observaram que quando coberto por uma cama de palha, o solo tente a apresentar menores temperaturas durante o dia quando comparado ao solo descoberto. Já no período noturno, os autores observaram menores perdas de energia térmica em solos cobertos com palha, o que comprava a interferência da cobertura no fluxo de calor do solo.
Alguns efeitos negativos são observados em solos com altas temperatura, um deles é o aumento da evaporação da água do solo, o que resulta em menor disponibilidade de água para as plantas e em áreas irrigadas representa maiores gastos com irrigação. Entretanto, danos ainda mais severos podem ser observados em condições adversas, um deles é a diminuição do estande de plantas ocasionado pelo tombamento fisiológico.
Segundo NEUMAIER et. al, (2000), o tombamento fisiológico ou cancro de calor é caracterizado por plântulas tombadas em consequência de lesões de estrangulamento do hipocótilo á nível da superfície do solo, sem a presença de patógenos.
Figura 1. Tombamento fisiológico ou cancro de calor.
O tombamento fisiológico ocorrem em plantas em estádio de desenvolvimento inicial, (VE ou VC) submetidas e temperaturas de solo elevadas. Nesses estádios de desenvolvimento os tecidos do hipocótilo não apresentam lignificação, o que torna o tombamento mais fácil. Segundo NEUMAIER et. al, (2000), o contato da superfície do solo extremamente quente com o tecido do colo da planta causa uma desidratação dos tecidos, desestruturando as membranas das células e causando o tombamento das plantas. Os autores ainda destacam que solos com maior teor de argila, mais escuros e solos mais compactados estão mais propensos ao elevado aquecimento, podendo ocasionar o tombamento fisiológico em plantas, além disso, outros fatores como salinidade eleva do solo também pode ser a causa do tombamento fisiológico.
O principal dano do tombamento fisiológico é a diminuição do estando de plantas, podendo interferir na produtividade da cultura. Cabe destacar que a principal diferença visual entre o tombamento fisiológico e o tombamento ocasionado por Rhizoctonia solani é que no tombamento fisiológico não são observados sintomas de lesões escurecidas causadas por agentes patogênicos.
Figura 2. Damping-off ou Tombamento (Rhizoctonia solani).
Conforme abordado por WEBLER et. al, (2016), uma das principais medidas para diminuir a temperatura do solo é sua cobertura, seja com plantas de cobertura ou com resíduos culturais, além disso, solos cobertos tendem a apresentar menor amplitude térmica o que beneficia o crescimento e desenvolvimento de raízes, organismos e microrganismos do solo.
Veja também: Podridão radicular de Phytophthora em soja
Referências:
COAGRIL. DAMPING-OFF OU TOMBAMENTO (Rhizoctonia solani). Coagril, Disponível em: <http://www.coagril-rs.com.br/informativos/ver/109/damping-off-ou-tombamento-rhizoctonia-solani>, acesso em: 14/07/2020.
FARIAS, J. R. B; NEPOMUCNO, A. L., NEUMAIER, N. ECOFISIOLOGIA DA SOJA. Londrina: Embrapa Soja, Circular Técnica, n.48, 2007.
MONTEIRO, J. E. B. A. AGROMETEOROLOGIA DOS CULTIVOS: O FATOR METEOROLÓGICO NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. INEMET, 2009.
NEUMAIER, N. et. al. ESTRESSES DE ORDEM ECOFISIOLÓGICA. Estresses em soja, Embrapa Trigo, 2000.
WEBLER, G. et. al. EFEITOS DE UMA CAMADA DE PALHA NO COMPORTAMENTO TÉRMICO DO SOLO. Ciência e Natura v.38 Ed. Especial- IX Workshop Brasileiro de Micrometeorologia, n.1, p. 07– 10, 2016.