O mercado brasileiro de trigo manteve, ao longo da semana, um ritmo lento de negociações, com liquidez reduzida e pouca disposição de vendedores e compradores para avançar com novas transações. A ausência de estímulos comerciais, tanto do lado da oferta quanto da demanda, contribuiu para esse cenário de estagnação.

Segundo o analista de Safras & Mercado, Elcio Bento, os moinhos permanecem cautelosos, evitando alongar estoques em um momento em que já se encontram bem abastecidos. “Os compradores mantêm uma postura defensiva. No Paraná, os moinhos demonstram interesse de compra a partir de R$ 1.450 por tonelada (CIF). No Rio Grande do Sul, as indicações giram em torno de R$ 1.300 por tonelada”, afirmou.

Do lado da oferta, os produtores seguem relutantes em aceitar os preços praticados, em especial diante das incertezas que cercam a próxima safra. “Os triticultores estão concentrados no manejo das lavouras. Em muitas regiões, o plantio ainda está em andamento ou foi recém-concluído, exigindo atenção redobrada”, explica Bento.

No Rio Grande do Sul, o excesso de chuvas tem atrasado os trabalhos de campo, gerando apreensão quanto à necessidade de replantio e ao potencial produtivo. A expectativa é de que a área plantada com trigo em 2024 seja consideravelmente menor em relação ao ano anterior. Mesmo com alguma recuperação de produtividade, a produção total deverá ficar aquém da registrada em 2023.

Tarifaço de Trump

Além das questões climáticas, fatores econômicos também pesam sobre o mercado. Os preços internos recuaram, os custos de produção seguem elevados e as cotações internacionais, que servem de base para a formação dos preços domésticos, continuam em queda. Conforme, Bento, esse conjunto de elementos reforça o desânimo entre produtores e a retração das negociações.

O destaque da semana, contudo, ficou por conta do anúncio dos Estados Unidos de que vai aplicar uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros exportados ao país, com vigência prevista para 1º de agosto. Embora a medida não afete diretamente o mercado de trigo – já que o Brasil é importador do cereal –, o cenário pode mudar caso o governo brasileiro opte por aplicar a chamada Lei de Reciprocidade Econômica.

Segundo o analista de Safras, “para o trigo, os impactos seriam mais diretos caso o Brasil adote a reciprocidade. O trigo norte-americano é uma alternativa de abastecimento, especialmente para moinhos do Norte e Nordeste”.

Hoje, sem a tarifa, o trigo HRW dos EUA chegaria a Fortaleza por cerca de R$ 1.565 por tonelada – apenas 4,1% acima do argentino. Com a nova taxação, o valor saltaria para quase R$ 2.280 por tonelada, tornando o produto 51,8% mais caro que o argentino, 43,4% acima do russo e 26,4% superior ao canadense. Na prática, isso inviabilizaria economicamente o trigo norte-americano no mercado brasileiro.

A princípio, o abastecimento interno não está ameaçado, já que os moinhos contam com boa oferta de trigo importado de outras origens. “No curto prazo, o abastecimento interno não deve ser comprometido”, avalia Bento.

Outro fator que merece atenção é o câmbio. Após flertar com o suporte de R\$ 5,40, o dólar ultrapassou R$ 5,60 com o anúncio da medida dos EUA, encarecendo todas as importações e pressionando os preços internos. O desfecho da situação dependerá das negociações diplomáticas. Exemplos recentes, como os enfrentados por China e Índia, mostram que os efeitos de medidas unilaterais podem ser amenizados por acordos setoriais ou negociações multilaterais.

Para o Brasil, destaca Bento, “será essencial equilibrar firmeza na defesa de seus interesses com pragmatismo comercial, preservando sua autonomia sem comprometer suas cadeias produtivas”.

Fonte: Ritiele Rodrigues – Safras News



 

FONTE

Autor:Ritiele Rodrigues / Safras News

Site: Safras & Mercado

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