As utilizações tradicionais de aplicações de inseticidas químicos têm gerado falhas de controle quando utilizado de forma isolada. Aliado a isso, a oscilação de preço frente ao dólar gera insatisfação pelos produtores, que têm optado por ferramentas alternativas de controle.

Os vírus no controle de insetos pertencente à ordem Lepidoptera apresenta eficiência e se mostram como uma opção viável, garantindo controle seguro e sustentável. Além disso, pode-se controlar diversas lagartas em uma única aplicação (combinações de espécies virais).

No texto de hoje vamos estudar como os vírus podem contribuir em nossas lavouras e trazer benefícios no controle das principais lagartas da soja e milho.

Figura 1. Lagartas controladas por agentes biológicos.

Foto: AgBitech.

Como os vírus agem?

Os vírus da poliedrose nuclear (VPNs) é a opção mais comum. As suas partículas são pulverizadas nas plantas, tratando a superfície foliar. As pragas ao se alimentarem das folhas, ingerem os vírus e se contaminam.

Os corpos de oclusões poliedrais (COPs) são dissolvidos no intestino da praga que se encontra com pH alcalino (8,5 – 11), liberando as partículas virais. A partir desse momento, inicia-se a contaminação em todo o corpo do inseto (Lima, 2020). A fase larval (considerado o alvo), é interrompida 7 dias após a ingestão.



Quais as mudanças que ocorrem nas lagartas após infecção?

  • Perda de apetite;
  • Clareamento no tecido devido ao acúmulo do vírus na epiderme;
  • Sobem para o dossel superior da planta;
  • Mobilidade reduzida;
  • Escurecimento do tecido devido a sua desintegração interna;
  • Permanecem dependuradas pelas pernas abdominais;
  • Liberação dos inóculos virais no ambiente (tornam-se agentes de dispersão).

Figura 2. Controle de lagartas com Baculovírus.

Foto: AgBitech.

Quais são as vantagens?

  • Replicação viral: permanência do vírus e reinfecção em outras lagartas;
  • Controle satisfatório em aproximadamente 7 dias;
  • Combinações de espécies virais: controle de diversas lagartas;
  • Resultados ultrapassam 80% de eficiência em condições ambientais ideais;
  • Não causa mortalidade em inimigos naturais;
  • Aplicações seguras e sustentáveis.

Lima (2020), em seu trabalho intitulado “EFEITO DE PRÉ-MISTURAS DE BACULOVÍRUS NO CONTROLE DE Chrysodeixis includens (WALKER, 1858) (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) NA CULTURA DA SOJA (Glycine max L.)”, estudou o controle com químicos e biológicos para controlar a lagarta falsa-medideira.

Os produtos biológicos utilizados foram O Surtivo®Soja100. Possui na sua formulação a combinação de duas espécies virais: HearNPV (controle de Helicoverpa armigera) + ChinNPV (controle de Chrysodeixis includens).

O Surtivo®Plus140 possui na sua formulação a combinação de 4 espécies virais: VPNs AcMNPV (controle de Autographa californica) e ChinNPV + HearNPV + SfMNPV (controle de Spodoptera frugiperda).

Os demais tratamentos são com a utilização de Indoxacarbe (pertencente ao grupo químico das Oxadiazinas) e Dipel (inseticida a base de Bt).

Como verificamos na Figura 3, quando adotamos as aplicações de Baculovírus (tratamentos 4, 5, 6 e 7), ocorre uma redução mais rápida da quantidade de lagartas. Note que com a utilização de vírus não ocorre um pico tão acentuado da população das pragas.

Surtivo® Plus140 + melaço é o tratamento que apresentou o melhor controle no sentido de reduzir a incidência de lagartas, superando o uso de inseticidas químicos.

Figura 3. Flutuação populacional de lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens).

Fonte: Lima (2020).

Além de apresentar como uma opção extremamente viável no controle de desfolhadoras, apresenta ação contínua do produto por um maior tempo. Aliado a isso, o vírus consegue tratar lagartas maiores, como ocorreu no trabalho de Lima (2020).

Devemos saber que o melhor momento para entrarmos com manejo é quando as pragas ainda são pequenas. Quanto maior o tamanho da lagarta, menos suscetível ela se torna para os produtos. Os melhores resultados de eficiência são encontrados em lagartas pequenas.

O melaço-da-cana é uma substância considerada aditivo nas misturas de VPNs. Aplicado juntamente na mistura apresenta proteção contra os raios solares e ação dispersante e fagostimulante (inseto é estimulado a se alimentar). Dessa forma, o melaço pode favorecer as infecções.

Assim como na soja, a cultura do milho também pode receber as aplicações no controle da lagarta-do-cartucho ou lagarta-militar (Spodoptera frugiperda).

Bolonheiz et al. (2011), estudou a eficiência dos vírus e as aplicações de inseticidas químicos.

Como visualizamos na Tabela 1, quando houve o manejo com o vírus, a eficiência demorou mais para gerar resultados superiores a 80% comparando com o inseticida Lufenurom. Porém, em 7 dias (168 HAT) já houve manejo eficaz.

Note que em condições de lagartas pequenas (2° instar), as pragas apresentam controle mais rápido pois são mais suscetíveis à infecção. Observe que lagartas em números de 5 apresentam eficiência superior que apenas 1 devido à dispersão do vírus entre as pragas.

Tabela 1. Mortalidade de lagartas (%) tratadas com baculovírus e lufenurom

Adaptado: Bolonheiz et al. (2011).

Uma lagarta de Spodoptera frugiperda contaminada com o vírus ingere 7% do alimento que consumiria se estivesse sadia (Valicente & Cruz, 1991).

Dependendo da espécie, algumas sofrem sintomas diferentes. Quando está infectada, S. frugiperda não apresenta coloração amarela como mencionado acima e, sim, rosada, como mostra a Figura 4 (Paiva, et al.).

Figura 4. S. frugiperda infectada com baculovírus. A) Lagartas mortas com o isolado (I6) que não provoca o rompimento imediato do tegumento; B) Lagartas mortas com o isolado que provoca o rompimento imediato do tegumento.

Fotos: Fernando Hercos Valicente

No entanto, também observamos desvantagens:

  • Ação mais lenta de controle;
  • A disseminação do vírus depende de pelo menos 3 dias com temperaturas em torno de 25°C (Belonheiz et al., 2011);
  • Pode causar falhas de controle quando as lagartas se encontram em instares avançados;
  • Alto custo de produção.

    Veja também: Culturas com Tecnologia Bt e as Principais Pragas Controladas


Considerações finais

As lagartas são o principal alvo de infecção do baculovírus. Ocorre através da disseminação na lavoura de partículas virais. As pragas, ao consumirem as plantas, se contaminam e ocorre infecção no corpo da lagarta. Ela morre aproximadamente 7 dias após a ingestão.

As vantagens, como vimos, são diversas. As partículas virais permanecem na lavoura através do cadáver da lagarta e continuam disseminando os vírus; ocorre redução alimentar; a eficiência pode ultrapassar 80% de controle; não há toxicidade para os inimigos naturais e humanos.

Contudo, também ocorrem desvantagens. O uso do biológico está sendo gradativamente implantado nas lavouras e há alto custo de produção. As condições ambientais afetam diretamente a população dos microorganismos. Além disso, as lagartas de instares mais avançados podem não apresentar manejo esperado.

Por isso, quando você decidir adotar o uso de Baculovírus, atente para o monitoramento regular na sua lavoura. O controle de lagartas ainda em estágios iniciais é mais eficiente, pois elas são mais suscetíveis aos agentes virais. Além disso, as temperaturas ambientais e as chuvas interferem na vida útil do produto. Assim, indica-se estudar as condições ambientais da sua região com antecedência.


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Referências

BOLONHEIZ, Hiran; DE OLIVEIRA, Nádia Cristina; BALAN, Marcelo Gonçalves. Eficiência de Baculovirus spodoptera e lufenuron no controle de diferentes instares e densidades populacionais da lagarta-do-cartucho em milho. Campo Digital, v. 5, n. 1, 2011.

LIMA, MARCELO et al. EFEITO DE PRÉ-MISTURAS DE BACULOVÍRUS NO CONTROLE DE Chrysodeixis includens (WALKER, 1858)(LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) NA CULTURA DA SOJA (Glycine max L.). 2020.

PAIVA, Carlos Eduardo Costa; VALICENTE, Fernando Hercos; DOS SANTOS JUNIOR, Hugo José Gonçalves. CONTROLE MICROBIANO DE INSETOS-PRAGA: VÍRUS ENTOMOPATOGÊNICO.

VALICENTE, F.H.; CRUZ, I. Controle biológico da lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, com o baculovírus. Circular Técnica, n. 15, 1991.

Redação: Equipe Mais Soja.

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