A mosca-branca, Bemisia tabaci é considerada um vetor de vírus em importantes culturas econômicas, como o tomate e feijoeiro. No entanto, nos últimos anos houve surtos desta praga em quase todo o território brasileiro, e em diversas culturas. O inseto foi a praga de maior crescimento no Brasil nos últimos anos, atacando as culturas da soja, algodão, feijão, tomate e batata, principalmente.
Nos últimos anos os problemas com esta praga estão se agravando no Brasil, devido à severidade dos ataques e dificuldades de controle, principalmente para as culturas do algodão, melão, tomate e soja. Em parte, estes acontecimentos estão relacionados ao fato que no Brasil, a forma mais agressiva da mosca branca, o biótipo B, seja o mais comum e abundante.
Essa praga foi recentemente incluída na lista das espécies com potencial para o desenvolvimento de resistência a inseticidas na cultura da soja, juntamente com outros percevejos (N. viridula, P. guildinii, Dichelops melacanthus e D. furcatus), lagartas-falsas-medideiras (C. includens e R. nu), ácaro-verde (M. planki) e o ácaro rajado (T. urticae).
No mundo, B. tabaci é uma das espécies de inseto em que as maiores taxas de resistência são registradas, variando de 500 a 2000 vezes. A partir da safra 1995/96, verificaram-se elevadas densidades do biótipo B de B.tabaci na cultura da soja, ocasionando danos diretos em função da abundante produção de fumagina, que pode representar redução de até 70% da produtividade, ou pela transmissão de carlavirus e outras doenças viróticas (Almeida et al., 2002).
Como consequência, em regiões produtoras, a utilização de inseticidas em soja tem aumentado e, não raramente, com pouco sucesso de controle. Em outros países, o biótipo B de B. tabaci tem apresentado elevado potencial de evolução de resistência a diversos inseticidas com diferentes modos de ação, como aos piretroides (Sivas upramanian ; Wattson , 2000), aos carbamatos e fosforados (Bloch; Wool , 1994) e aos reguladores de crescimento como buprofezim e pyriproxifem (Cahill ; Denholm , 1993).
Leia mais : Prioridades: mosca-branca (Bemisia tabaci) em soja
Danos na cultura da soja
A mosca-branca Bemisia tabaci causa danos em plantas de soja em decorrência da sucção de seiva, transmissão de vírus e favorecimento da fumagina, que afetam o desenvolvimento e a produção da cultura.
Os danos diretos da mosca-branca são causados pela sucção de seiva e injeção de toxinas pelas ninfas e adultos, quando se alimentam, provocando alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da planta, podendo causar anomalias como o amadurecimento irregular, sendo que altas densidades populacionais podem determinar a morte da planta.
A substância açucarada excretada pelos insetos induz o crescimento do fungo denominado fumagina sobre ramos e folhas, prejudicando o processo de fotossíntese e a aparência de frutos. Entretanto, o dano mais sério causado pelo inseto é por ser vetor de várias viroses com sintomatologia variada. Relata-se que cerca de noventa doenças viróticas são transmitidas pela mosca-branca. Entre estas destaca-se o vírus do mosaico anão e o vírus do mosaico crespo em soja e o vírus do mosaico comum do algodoeiro.
Ataques severos provocam o amarelecimento das folhas mais velhas da soja. Quando as plantas são jovens pode ocorrer a seca e até a morte das folhas. Os danos podem se agravar se houver períodos de veranico ou irrigação inadequada.
Sottoriva, 2010 em levantamento realizado a respeito do número de ovos/cm2 encontrados em diferentes hospedeiras da mosca-branca, incluindo a soja, obteve o seguinte resultado:
Gráfico 1:Número de ovos (cm²) em plantas daninhas e soja.
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Suekane, et al., (2013), ao avaliar os danos da mosca-branca e distribuição vertical das ninfas em cultivares de soja em casa de vegetação, concluíram que a cultivar de soja CD 219 RR foi a mais infestada por ninfas de B. tabaci; a maior incidência de ninfas de mosca-branca ocorreu nos terços superior e médio das plantas definidos como locais amostrais em ensaios com plantas de soja nas condições de casa de vegetação e o ataque de B. tabaci não afetou os índices de produtividade dos cultivares estudados. Veja os resultados abaixo.
Tabela 1 – Média do número de ninfas avaliadas diariamente em 3 folíolos de cada cultivar de soja durante as avaliações. DAI (dias após a infestação). Dourados, MS, 2010.
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Veja também: Mosca-branca em soja
Controle
O grande potencial reprodutivo da mosca-branca e capacidade em transmitir vírus que ocasiona doenças em diversas plantas cultivadas faz com que o controle químico seja a principal ferramenta utilizada para o manejo desta praga. O uso contínuo de inseticidas com mesmo modo de ação tem ocasionado falhas no controle, possivelmente devido ao desenvolvimento de resistência. Desta forma, o correto posicionamento de uso destes produtos, mediante a rotação de inseticidas com modo de ação distintos, é de fundamental importância para evitar ou retardar a evolução da resistência da mosca-branca aos inseticidas recomendados para o seu controle.
Quadro 1 – Inseticidas recomendados para o controle de Bemisia tabaci.
Uma grande dificuldade no controle da mosca-branca com o uso de inseticidas na soja está na tecnologia de aplicação, principalmente quando a praga ocorre no período reprodutivo, com a planta bem desenvolvida. Isto dificulta o molhamento das folhas localizadas nas partes mais baixas da planta que funcionam como fonte de reinfestação. Nesta situação é preferível o uso de inseticidas que tenham translocação na planta, além da utilização de volume e ponteiras de aplicação adequadas.
Manejo da resistência
Recomenda-se o uso de rotação de produtos com diferentes modos de ação (Quadro 1), visto ser considerada uma das estratégias mais eficientes para o manejo da resistência de B. tabaci aos inseticidas. Associado a esta estratégia, o produtor deve usar as doses recomendadas no rótulo ou bula de cada produto, evitar misturas em tanques e sempre que possível, priorizar o uso de inseticidas seletivos para a preservação de inimigos naturais que irão contribuir para o controle de moscas-brancas resistentes que não serão eliminadas pelos inseticidas.
Outras estratégias de controle devem ser adotadas em conjunto, como o uso de cultivares resistentes e a eliminação de restos culturais e plantas hospedeiras da praga e de fontes de inóculo de vírus fitopatogênico. O planejamento do sistema de produção de cultivos em uma determinada localidade é de fundamental importância para possibilitar períodos com ausência de plantas hospedeiras da moscabranca. Consultar um Engenheiro Agrônomo para orientação sobre as recomendações locais para o manejo de resistência.
As recomendações de manejo podem ser encontradas no IRAC-BR.
Saiba mais: MOSCA BRANCA em soja: ocorrência, fases e manejo
Elaboração: Andréia Procedi – Equipe Mais Soja.
Foto de capa: Helder Roberto Dota Janoselli