O solo é um dos recursos fundamentais para a agricultura, sem ele não seria possível produzir os alimentos e matérias primas presentes no nosso dia a dia. Em se tratando do solo, uma série de fatores são lembrados quando se fala em sua capacidade de sustentar a produção, tais como fertilidade, acidez, erosão e compactação. No entanto, um grupo de fatores determinantes para a saúde do solo é, muitas vezes, negligenciado: são as características biológicas do solo.

Muito mais do que meramente o suporte e a fonte de suprimentos para as plantas, o solo representa um ecossistema complexo, composto de diferentes tipos de organismos, cada um com funções e características distintas, formando uma fauna riquíssima.

A fauna do solo é importantíssima para a ciclagem de nutrientes, mistura de partículas e também para a humificação do solo. A ciclagem de nutrientes ganha destaque por degradar material orgânico, diminuir o tamanho das partículas e aumentar a sua área superficial em consequência da ação dos microrganismos. Além disso, os resíduos liberados ajudam a manter e renovar a fertilidade do solo.  A disponibilidade de vários nutrientes como N, P, K, Ca, Mg e certos fatores físicos do solo podem ser afetados pela fauna, estando conectados à quantidade e tipo de organismos presentes, que varia de local para local. Ou seja, a ação dos organismos do solo afeta diretamente as características físicas do solo, como porosidade, agregação, formação do solo e desintegração de moléculas.

Para entender melhor toda essa vida, podemos dividir os organismos do solo em três grupos:

  • Microfauna: compreende os organismos cujo diâmetro corporal é menor do que 0,2 mm, como os protozoários e nematóides.
  • Mesofauna: são os organismos de tamanho médio, que variam de 0,02 mm a 2,0 mm, como os ácaros e os colêmbolos.
  • Macrofauna: nessa classe estão os maiores organismos, ou seja, àqueles que possuem mais de 2,0 mm, exemplo das minhocas.

A divisão em tamanhos vai além de simplesmente facilitar o estudo, nesse caso o tamanho faz toda a diferença, pois organismos de tamanhos diferentes têm funções distintas no solo.  A microfauna atua principalmente no controle de outras populações, pois seus organismos alimentam-se majoritariamente de bactérias e fungos. Na mesofauna, há o consumo de microorganismos da microfauna e material vegetal. Já na macrofauna, eles deslocam uma quantidade significativa de solo, abrem macroporos e degradam material orgânico, além de produzir coprólitos de alta fertilidade, que podem ser utilizados na adubação orgânica.

Devido a esses papéis fundamentais da fauna é importante ter formas de medir a sua qualidade e quantidade no solo.

Os organismos da meso e macrofauna são os mais fáceis de coletar. Um dos meios é o extrator de Berlese (figura 1) em que uma porção de solo é separada e posteriormente exposta a luz, forçando a saída dos organismos presentes na amostra. Outra maneira é através do método do monolito, que consiste em coletar um volume de solo para realizar uma separação manual dos organismos, sendo o mais trabalhoso e o que apresenta os melhores resultados. Outra opção são as armadilhas como, por exemplo, a pitfall (Figura 2): um recipiente que coleta os organismos da serrapilheira.

Figura 1 – Fonte: Revista brasileira de agroecologia
Figura 2 – Fonte: Embrapa – Comunicado técnico 139

Recentemente, a Embrapa Cerrados lançou uma nova tecnologia ligada à análise biológica do solo. O método BioAs, que possibilita ao produtor determinar a saúde do seu solo por meio de bioindicadores. Para isso, foram necessários vários anos de estudos sobre a atividade biológica do solo. O BioAs consiste na utilização de duas enzimas, a beta-glicosidase e a arilsulfatase, relacionadas respectivamente ao ciclo do carbono e do enxofre, além de ter ligação com o potencial produtivo e a sustentabilidade do solo. A análise pode ser feita na mesma amostra encaminhada para os laboratórios de rotina.  De acordo com a Doutora Ieda Mendes, pesquisadora da Embrapa Cerrados: “O BioAS é como um exame de sangue do solo” o que possibilita prever problemas e mudanças no solo ao longo do tempo.

Nessa análise são avaliados aspectos como a ciclagem de nutrientes e a matéria orgânica, que têm grande importância para a produtividade. Esse tipo de estudo é realizado em laboratórios integrados à rede da Embrapa, cujo número está em crescimento. A expansão das análises de solo para as características biológicas é fundamental, uma vez que vem a somar com às análises clássicas de variáveis químicas e físicas e fornecer informações novas sobre o solo. Por exemplo, solos que eram semelhantes física e quimicamente apresentavam resultados produtivos muito divergentes e essa diferença pode ser explicada pelas diferenças na fauna do solo.

O sistema de cultivo tem grande influência sobre a fauna do solo e as formas de produção mais sustentáveis são aquelas que permitem a manutenção equilibrada da vida no solo. A utilização de todos os pilares do plantio direto e a redução no uso de agrotóxicos são os passos iniciais rumo a um solo mais saudável e uma agricultura mais inteligente, mais sustentável e com maiores retornos ao agricultor.

Autor: Augusto Monteiro Leal – Acadêmico do 5o semestre de agronomia e Bolsista grupo PET Agronomia na Universidade Federal de Santa Maria – UFSM

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