O nitrogênio (N) é o macronutriente mais requerido pela maioria das culturas agrícolas, sendo normalmente fornecido via fixação biológica de nitrogênio (FBN) para a soja, e via fertilizantes nitrogenadas para as demais culturas que não possuem a capacidade em realizar a simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio.
Culturas como o trigo e o milho são altamente responsivas a adubação nitrogenada, sendo necessário realizar a adubação de cobertura para a obtenção de boas produtividades. Entretanto, a adubação nitrogenada representa um expressivo custo de produção, principalmente pela quantidade requerida de fertilizantes.
Com isso em vista, práticas complementares de manejo podem ser adotadas a fim de reduzir a necessidade do uso de fertilizantes nitrogenados e/ou melhorar a disponibilidade no nitrogênio para a cultura agrícola. Uma dessas práticas é o cultivo de plantas de cobertura com capacidade em fixar nitrogênio atmosférico, em especial plantas pertencentes a família Fabaceae (leguminosas).
Dependendo da espécie cultivada e densidade populacional, o acúmulo de N na matéria seca pode ser superior a 90 kg ha-1, como é o caso da ervilhaca (Vicia sativa. L). Após decomposição e mineralização dos resíduos culturais, esse nitrogênio passa a ficar disponível para a cultura sucessora, contribuindo para o aumento da produtividade e rentabilidade.
Tabela 1. Produção de matéria seca (MS), porcentagem e acúmulo de nitrogênio (N) nos tecidos de plantas de cobertura de inverno em sistema de cultivo antecedendo a cultura do milho.
A velocidade de liberação do nitrogênio acumulado por plantas de cobertura para o sistema de produção, pode variar em função de uma série de fatores, desde condições ambientais até a fauna microbiana do solo, entretanto, de modo geral, pode-se dizer que Poaceas (gramíneas) tendem a apresentar liberação mais lenta do N dos resíduos culturais em comparação a Fabaceas, fato atribuído principalmente a relação C/N das plantas.
Figura 1. Liberação de nitrogênio (N) pelas plantas de cobertura de inverno em sistema de cultivo antecedendo a cultura do milho. A+E+N = Aveia+Ervilhaca+Nabo; A+E = Aveia+Ervilhaca.
Com isso em vista, o posicionamento de culturas de cobertura pode exercer forte influência sobre a disponibilidade do nitrogênio para a cultura sucessora, seja pela quantidade acumulada ou pela liberação do nutriente. Cabe destacar que a liberação do nitrogênio dos resíduos culturais está ligada a taxa de decomposição desses resíduos, passando o N da forma orgânica para inorgânica pela mineralização desses resíduos. Logo é possível afirmar que culturas com rápida liberação de N tendem a apresentar baixar persistência da palhada no solo, proporcionando pouco tempo de cobertura dele.
De modo geral, pode-se dizer que o uso de plantas de cobertura antecedendo culturas comerciais pode melhorar a qualidade do sistema plantio direto, contribuindo inclusive para o aumento da produtividade da cultura sucessora conforme observado por Kochhann et al. (2003), que constataram incremento de produtividade do trigo cultivado em sucessão ao nabo forrageiro. Vale lembrar que uma série de fatores pode influenciar a produtividade de uma cultura agrícola, entretanto, quando posicionadas de forma adequada, plantas de cobertura podem contribuir efetivamente para o aumento da produtividade, trazendo inclusive benefícios indiretos como o controle de pragas, doenças e plantas daninhas pela quebra de ciclo e/ou cobertura do solo.
Veja mais: Nabo forrageiro contribui para a produtividade do trigo em sucessão?
Referências:
KOCHHANN, R. A. et al. RENDIMENTO DE GRÃOS DE TRIGO CULTIVADO EM SEQUÊNCIA AO ADUBO VERDE NABO FORRAGEIRO. Embrapa, Circular Técnica, n. 116, 2003. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/co/p_co116.pdf >, acesso em: 24/08/2022.
ZIECH, A. R. D. et al. PLANTAS DE COBERTURA DO SOLO NA MELHORIA DO SISTEMA PLANTIO DIRETO. Revista Plantio Direto, Ed. 141, 2014. Disponível em: < https://www.plantiodireto.com.br/storage/files/141/7.pdf >, acesso em: 24/08/2022.
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