Por Argimiro Luís Brum
Contrariamente à soja, a cotação do milho, em Chicago, foi de constantes altas durante esta semana, mesmo que de intensidades pequenas. O bushel do cereal fechou esta quinta-feira (10), dia de anúncio de mais um relatório de oferta e demanda do USDA, em US$ 4,83, contra US$ 4,57 uma semana antes.
O relatório, para o ano de 2024/25, aumentou em um milhão de toneladas a produção mundial, porém, reduziu em pouco mais de um milhão de toneladas os estoques finais mundiais. Já os estoques finais estadunidenses foram reduzidos em dois milhões de toneladas. O restante ficou praticamente igual ao relatório de março.
Dito isso, as exportações de milho, por parte dos EUA, na semana encerrada em 03/04, atingiram a 1,6 milhão de toneladas, ficando no limite superior esperado pelo mercado. Com isso, o total exportado no atual ano comercial atingiu a 35,6 milhões de toneladas, sendo este volume 30% superior ao mesmo período do ano passado.
E aqui no Brasil, os preços do cereal recuaram nesta semana, seguindo uma tendência que começou no início de abril. Os compradores, diante das fortes altas do cereal anteriormente, recuaram, pois já estão bastante abastecidos, ficando na expectativa de novas entradas de milho a partir da finalização da colheita de verão. Em paralelo, os vendedores, preocupados com o recuo nos preços, tentaram acelerar as vendas no mercado físico de balcão. Muitas das atenções se voltam, agora, para o comportamento climático junto à safrinha. Por outro lado, a guerra comercial imposta pelos EUA ao mundo, pode elevar a demanda pelo milho brasileiro, porém, com o consumo interno crescendo, será preciso uma excelente safra para podermos aumentar os volumes exportados. No momento, não é o caso.
Tanto é verdade que a produção total de milho no Brasil, em 2024/25, vem sendo estimada menor do que o consumo no país, agora incrementado pela demanda do produto para a fabricação de etanol. Não se descarta até mesmo importações maiores do cereal neste ano. Além disso, a safrinha está longe de ser garantida, pois apenas encerrou o seu plantio e muitas incertezas climáticas se fazem presentes. Para analistas do Rabobank, banco holandês, em sendo a produção final de 126 milhões de toneladas, e o consumo sendo esperado ao redor de 91 milhões de toneladas (incluindo a produção para etanol), retirando os estoques, que são curtos no momento, o país poderá exportar três milhões de toneladas a menos do que o fez no ano anterior. Ou seja, algo em torno de 36 milhões de toneladas. Pesa ainda neste raciocínio o fato de o milho brasileiro estar mais caro do que o dos concorrentes. Os preços estão em torno de 40% mais caros, na exportação, em relação ao ano anterior. Já as importações geralmente estão concentradas no Paraguai, de onde o Brasil trouxe 1,6 milhão de toneladas em 2024. Nos últimos 10 anos, o maior volume importado de milho, pelo Brasil, foi em 2021 com 3,2 milhões de toneladas. No atual ano comercial, nos primeiros seis meses do ano, as importações aumentaram 60% em relação ao ano anterior. A maior parte vinda do Paraguai.
Por sua vez, segundo a Conab, o plantio do milho segunda safra está concluído neste momento no país. Enquanto isso, a colheita do milho de verão chega a 60% da área cultivada, contra 54,8% na média dos últimos cinco anos. No Rio Grande do Sul, a mesma atingia a 83% da área, no dia 03/04, contra 70% na média histórica para esta data (cf. Emater). E no Paraná, segundo o Deral, já há perdas irreversíveis na safrinha de milho. Com 40% das lavouras em floração e 13% em frutificação, o referido Estado apresentava 12% das lavouras em condições ruins e 23% em situação média no dia 07/04.
E no Mato Grosso, conforme o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), a safrinha 2023/24 está com 98,9% comercializada, enquanto a de 2024/25 alcança 41,9% já vendida. Nesta última safra, as vendas estão 16,7 pontos percentuais maiores do que a safra anterior, nesta época. Segundo ainda o Instituto, o preço médio do milho, para a safra 2024/25, no Mato Grosso, ficou em R$ 46,65/saco, com avanço de 3,4% sobre fevereiro/25. Enfim, a futura safra 2025/26 está com 1,9% da produção prevista já comercializada, com preço médio de R$ 43,47/saco.
E na exportação, a Secex informou que, nos quatro primeiros dias úteis de abril, o Brasil vendeu 9.898 toneladas do cereal, com a média diária ficando 17,7% abaixo do registrado em abril do ano passado. O preço médio pago pela tonelada do milho brasileiro caiu 35,4%, passando de US$ 359,90, registrados em abril de 2024, para US$ 232,60 registrados até aqui no quarto mês de 2025.
Enfim, vale destacar que, entre fevereiro e março de 2025, o diferencial médio de preços de milho (R$/saco), entre Sorriso (MT) e o Porto de Paranaguá (PR), atingiu o menor patamar desde 2021, ano em que o país passou pelo déficit mais profundo do cereal registrado na série histórica, com menos 6,4 milhões de toneladas.
“O preço do milho em Sorriso teria atingido a R$ 76,00/saco em 25 de março de 2025, nível próximo à sua máxima histórica do período, que foi de R$ 78,50/saco, ocorrido em 2021. Mesmo que o preço do cereal, nos portos, também tenha experimentado valorizações, as altas internacionais foram percentualmente mais significativas, resultando em diferenciais mais apertados. Além disso, com os preços domésticos mais atrativos que a paridade de exportação, de forma consistente ao longo de 2024 e 2025, os incentivos para vendas externas nos portos são limitados. A expectativa é que os preços do milho, em especial na região Centro-Oeste, sigam em patamar relativamente elevado até o ingresso do milho safrinha 2025, esperado apenas em junho” (cf. Datagro).
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).