Por Argimiro Luís Brum
Em uma semana de fortes oscilações, provocadas pela guerra tarifária imposta por Donald Trump, presidente dos EUA, e pelo anúncio de mais um relatório de oferta e demanda do USDA, a cotação da soja, para o primeiro mês cotado, após recuar para US$ 9,77/bushel no dia 04/04, subiu para US$ 10,12 no dia 09/04, fechando em US$ 10,29/bushel a quinta-feira (10), contra US$ 10,11 uma semana antes. O fechamento desta quinta-feira já refletiu o relatório, anunciado neste mesmo dia 10, e um novo aumento de tarifas dos EUA contra os produtos vindos da China, com o acumulado passando a 125%.
Em relação ao relatório de oferta e demanda, o quadro para 2024/25 praticamente não sofreu alterações em relação ao relatório de março. A principal diferença foi o aumento de um milhão de toneladas nos estoques finais mundiais, com os mesmos passando a 122,5 milhões de toneladas. Lembrando que é a partir do relatório de maio que se iniciam as projeções de produção, estoques e comércio para o novo ano comercial 2025/26.
Dito isso, há uma incerteza geral sobre em que estágio irá parar a atual guerra comercial mundial imposta pelos EUA. O próprio Trump ora ataca ora recua, já surgindo internamente, em seu governo e sociedade, um grande número de insatisfeitos com tal decisão protecionista.
Neste sentido, nesta quinta-feira (10) os EUA anunciaram uma trégua de três meses na aplicação das tarifas sobre a grande maioria dos países, menos para a China. Nesse sentido, a União Europeia, que já havia anunciado aumento igualmente de suas tarifas de importação sobre produtos estadunidenses, recuou e indicou uma trégua também de 90 dias. Este momentâneo distencionamento na guerra comercial, mesmo não atingindo a China, fez os mercados se reacomodarem desde o dia 09/04. Mas é preciso esperar, pois a tensão comercial está longe de terminar, especialmente em se tratando de Trump, um presidente populista, despreparado e seguidamente irracional em suas ações.
Por outro lado, na semana encerrada em 3 de abril, os EUA embarcaram 804.270 toneladas de soja, ficando próximo do nível superior esperado pelo mercado. Assim, no atual ano comercial as exportações estadunidenses atingem a 41,6 milhões de toneladas, ou seja,11% acima do registrado um ano antes na mesma época.
Enquanto isso, a China iniciou a aplicação de tarifas de 84% sobre todos os produtos importados dos EUA, incluindo a soja. Esta prática, em represália às tarifas impostas por Trump, deverá beneficiar o Brasil e sua exportação de soja para o país asiático, embora os chineses já estejam bem estocados neste momento. Mas, o fato da China comprar mais soja do Brasil deverá elevar os prêmios nos portos brasileiros, o que pode repercutir favoravelmente nos preços da soja ao produtor.
Mesmo assim, a China continua a receber soja estadunidense. Espera-se três milhões de toneladas para abril-maio do corrente ano, compradas pela empresa estatal Sinograin. Segundo analistas deste mercado, “provavelmente a empresa pagará os impostos mais altos, mas ainda assim poderá ter que vender com desconto no mercado chinês em meio à concorrência de grãos mais baratos do Brasil” (cf. Reuters).
Soma-se a isso a recuperação momentânea do farelo de soja em Chicago, com a tonelada curta subindo 4% entre os dias 04 e 09 de abril. Além do conflito comercial, esta alta se deve ao fato de que há preocupações quanto ao esmagamento de soja na Argentina (maior exportador mundial de farelo e óleo de soja), pois a empresa local Vicentin paralisou suas atividades em função de problemas financeiros. A empresa acumula dívidas que superam US$ 1,0 bilhão. A mesma representa de 6% a 9% da capacidade de esmagamento do vizinho país.
Em contrapartida, o óleo de soja, em Chicago, entre os dias 02 e 08 de abril, perdeu 7,5% de seu valor, limitando as altas do grão de soja. Esta queda se dá pelo baixo preço do óleo de palma, forte concorrente no mercado mundial, e pelo recuo importante nos preços do petróleo, este puxado pelo receio de uma recessão econômica nos EUA devido as medidas comerciais adotadas por Trump.
E aqui no Brasil, os preços oscilaram igualmente, sob pressão dos movimentos de Chicago, das tendências dos prêmios e, em particular, do câmbio. Este último, durante a semana, chegou a bater em R$ 6,09 por dólar, recuando posteriormente para R$ 5,84 em um mesmo dia (09/04). Assim, os preços ficaram relativamente estáveis, mas com viés de alta no curto prazo, dependendo da guerra comercial. A média gaúcha fechou a semana em R$ 124,78/saco, enquanto as principais praças locais praticaram R$ 126,00. Já nas demais regiões brasileiras, os preços médios oscilaram entre R$ 106,00 e R$ 123,00/saco. Por aqui, as atenções se voltam particularmente para os prêmios praticados em nossos portos, embora os mesmos tenham recuado nesta corrente semana. Afinal, a China já comprava, antes da guerra comercial, uma quantidade considerável de soja brasileira, não devendo aumentar muito o seu volume apesar das tarifas impostas pelos EUA.
Afora isso, a colheita da atual safra brasileira estaria ao redor de 90% no momento. O Rio Grande do Sul, o Estado mais atrasado, teria colhido 39% de sua área de soja, contra 34% na média, com a quebra de safra se confirmando ao redor de 50% em relação ao esperado.
Em termos comerciais, o Brasil exportou um recorde de soja para um mês de março, atingindo a 14,68 milhões de toneladas. Esse volume foi 16,5% superior ao registrado em março do ano passado. Muito se deve a forte presença da China no mercado nacional no primeiro trimestre do corrente ano.
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).