Por Argimiro Luís Brum
Em semana de relatório de oferta e demanda do USDA, o primeiro mês cotado para a soja fechou a quinta-feira (13) em US$ 9,96/bushel, contra US$ 10,14 uma semana antes.
O relatório do USDA, para o ano de 2024/25, não trouxe grandes novidades no que diz respeito à soja. A safra passada dos EUA está confirmada em 118,8 milhões de toneladas, os estoques finais daquele país estão mantidos em 10,3 milhões, enquanto a produção mundial será de 420,8 milhões de toneladas. A novidade foi a redução dos estoques finais mundiais para 121,4 milhões de toneladas, ou seja, cerca de três milhões a menos do que o indicado em fevereiro. A produção brasileira é esperada em 169 milhões, a da Argentina em 49 milhões e a do Paraguai em 10,7 milhões de toneladas.
Por este relatório, a América do Sul produzirá um total ao redor de 235 milhões de toneladas, contra 218 milhões no ano anterior. Enquanto isso, as importações chinesas de soja foram mantidas em 109 milhões de toneladas, contra 112 milhões em 2023/24. O preço médio ao produtor estadunidense da oleaginosa foi reduzido para US$ 9,95/bushel, para o ano comercial indicado. Vale destacar que o mais importante relatório virá no dia 31/03, o qual indicará a intenção de plantio dos produtores estadunidenses. Este relatório será acompanhado pelo dos estoques trimestrais na posição 1º de março.
Por sua vez, os embarques semanais de soja, por parte dos EUA, atingiram a 844.218 toneladas, na semana encerrada em 06/03, ficando próximos do patamar máximo esperado pelo mercado. Assim, até o momento, o atual ano comercial registra embarques totais de 29,1 milhões de toneladas, sendo estes 10% maiores do que o registrado no mesmo período do ano passado.
Enquanto isso, vale ainda destacar que os EUA aumentaram significativamente, neste ano de 2025, seus embarques de óleo de soja. Isso se deve ao recuo dos preços em Chicago, o qual tornou o produto estadunidense mais competitivo frente aos demais óleos. “A Índia, maior importadora mundial de óleo comestível, foi responsável por 20% das exportações de óleo de soja dos EUA, nos primeiros quatro meses de 2024/25. Coreia do Sul, Colômbia e México, juntos, somaram outros 41% dos embarques. O México é frequentemente um dos principais destinos do óleo de soja dos EUA, fato que preocupa os exportadores estadunidenses em função da nova guerra comercial imposta por Trump.
Já o Canadá é um importador menos significativo de óleo de soja dos EUA, mas a maioria de suas exportações de óleo de canola são destinadas ao vizinho. Com o conflito comercial atual, a tendência é de menos óleo de canola canadense cruzando a fronteira dos EUA, fato que poderá aumentar a demanda interna de óleo de soja dos EUA, deixando menos espaço para exportações. Em 27 de fevereiro, as vendas de exportação de óleo de soja dos EUA, para 2024/25, totalizaram 764.000 toneladas, a maior alta em 12 anos para a data. Em termos anuais, a maior exportação estadunidense de óleo de soja se deu em 2019/20, com 1,29 milhão de toneladas (cf. Reuters).
E aqui no Brasil, diante de um câmbio que girou ao redor de R$ 5,80 por dólar durante a semana, os preços se mantiveram estáveis, com algum viés de alta, já que os prêmios nos portos melhoraram em função da redução de safra no Rio Grande do Sul e, sobretudo, em função das retaliações tarifárias chineses sobre a soja dos EUA, o que abre espaço para melhores vendas por parte do nosso país.
Para se ter uma ideia, o prêmio pago pela soja no Brasil, em relação aos contratos futuros da Bolsa de Chicago, subiram 70% na semana anterior. No porto de Paranaguá (PR), uma das referências nacionais, o prêmio de exportação de soja está sendo ofertado em 85 centavos de dólar por bushel, para embarque em março, o maior valor desde 2022, quando considerado o mesmo mês de embarque em período equivalente dos anos anteriores (cf. Cepea). Algumas semanas atrás este prêmio estava negativo.
Assim, a média gaúcha subiu para R$ 128,44/saco, enquanto as principais praças locais praticaram valores entre R$ 127,00 e R$ 129,00. Já na demais regiões do país os preços oscilaram entre R$ 105,00 e R$ 120,00/saco.
Nos dois primeiros meses do corrente ano, a China comprou 79% da soja exportada pelo Brasil, havendo expectativa que esta demanda chinesa continue a partir do conflito comercial que o país asiático tem, novamente, com os EUA.
Enquanto isso, a comercialização da atual safra de soja chegou a 42,4% no Brasil, contra 48,8% na média histórica (cf. Safras & Mercado). Já a colheita da atual safra 2024/25, teria alcançado algo próximo a 70% em meados da corrente semana. No Paraná a mesma chegava a 72% no dia 10/03, enquanto no Rio Grande do Sul a ela estava em apenas 3%, ficando dentro da média histórica (cf. Deral e Emater).
Ainda a respeito do Rio Grande do Sul, números atualizados pela Emater local dão conta de que a safra de soja quebrou em 17% sobre a do ano anterior e 30% em relação ao esperado, devendo ficar ao redor de 15 milhões de toneladas. Provavelmente estes números deverão ainda ser revistos, para baixo, considerando o período da coleta das informações (segunda quinzena de fevereiro). Assim, por enquanto, em relação ao esperado, a perda supera um pouco mais de 6 milhões de toneladas.
Por outro lado, a Conab, diante desta realidade gaúcha, informa que Goiás será o terceiro maior Estado produtor de soja neste ano, deixando o Rio Grande do Sul em quarto lugar. Aliás, o órgão público ainda está conservador em relação a quebra gaúcha, pois em seu boletim deste dia 13/03 aponta uma safra de 17,1 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul, ou seja, cerca de dois milhões a mais do que a Emater indica. A produção total brasileira, assim, ainda está estimada, pela Conab, em 167,4 milhões de toneladas para 2024/25.
Em relação ao mercado externo, em março o Brasil deverá exportar 15,4 milhões de toneladas de soja, considerando a atual tendência. O recorde histórico nacional é de abril de 2021, com 15,7 milhões de toneladas. Enquanto o melhor março foi registrado também naquele ano, com 14,9 milhões de toneladas. Já em farelo, o Brasil espera atingir a 2,38 milhões de toneladas exportadas em março. Se confirmado, este volume ficaria um pouco abaixo do recorde de 2,46 milhões de toneladas registrado em outubro do ano passado (cf. Anec).
Enfim, o Brasil continua sofrendo com sérios problemas de logística, especialmente armazenagem e transporte, fato que atinge igualmente as exportações. Nos primeiros dois meses deste ano, as exportações brasileiras atingiram a 7,5 mihões de toneladas de soja, com recuo de 20,8% sobre o mesmo período do ano anterior, enquanto no Mato Grosso as mesmas atingiram a 2,65 milhões de toneladas no período, com uma redução de 24,4% em comparação com 2024 (Imea). O principal motivo, além da logística, está na colheita mais tardia da oleaginosa neste ano.
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).