Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira
As cotações do trigo romperam definitivamente o teto dos US$ 5,00/bushel durante a semana, chegando a US$ 5,13 no dia 16/10, valor que não era visto desde o dia 12/07 passado, considerando o primeiro mês cotado. Posteriormente, o mercado continuou subindo e fechou a quinta-feira (17) ficou em US$ 5,25/bushel, contra US$ 4,93 uma semana antes.
O mercado esteve sustentado pelo otimismo em torno das negociações entre EUA e China e pelo clima desfavorável nas regiões produtoras do cereal nos EUA. Neste último caso, uma onda de frio nas Planícies produtoras estadunidenses pode prejudicar as lavouras semeadas.
Neste sentido, até o dia 13/10, a semeadura de trigo de inverno atingia a 65% da área esperada, ficando exatamente dentro da média histórica. Já a colheita das lavouras de trigo de primavera alcançava a 94% na mesma data, sendo que pela média histórica a mesma deveria estar concluída.
Por outro lado, as inspeções de exportação de trigo por parte dos EUA, na semana encerrada em 10/10, atingiram a 462.651 toneladas, ficando pouco acima do que o mercado esperava.
No Mercosul, a tonelada FOB, na compra, girou entre US$ 180,00 e US$ 210,00, enquanto o produto argentino da safra nova permaneceu em US$ 179,00.
Já no Brasil, os preços do trigo continuaram com viés de baixa, diante da entrada da nova safra através da colheita paranaense. A média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 38,96/saco, enquanto os lotes registraram R$ 42,60/saco. No Paraná, o balcão ficou em R$ 45,00, enquanto os lotes oscilaram entre R$ 50,00 e R$ 51,00/saco. Enfim, em Santa Catarina o balcão se manteve em R$ 42,00, enquanto os lotes, na região de Campos Novos, fecharam a semana em R$ 46,50/saco.
O mercado continuou lento no país, devido as expectativas em relação ao real volume que será colhido. Sabe-se que há quebras importantes de safra no Paraná, e também alguma situação deste tipo em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, embora em bem menor escala. Além disso, as chuvas da corrente semana frearam o início da colheita no Estado gaúcho. Até então 1% da área local havia sido colhida. A associação de clima muito quente e umidade, em parte desta semana, coloca as lavouras gaúchas a mercê de pragas.
Apesar do recuo nos preços diante da pressão da colheita, a qual atinge a praticamente 80% da área no Paraná, os produtores esperam uma recuperação nos valores do cereal caso as quebras de safra se mostrem consistentes. Além disso, a manutenção de um Real bastante desvalorizado, há semanas acima de R$ 4,00 por dólar, continua a manter caras as importações.
Dito isso, os moinhos se mantêm abastecidos no Rio Grande do Sul, enquanto já se nota compra de trigo gaúcho por parte dos moinhos paranaenses, o que confirma que a perda em volume e qualidade, na safra do Paraná, é importante.
A produção de trigo brasileira nesta safra não deverá ser muito diferente da registrada no ano passado. Analistas privados colocam, neste momento, um volume de 5,57 milhões de toneladas, sujeito ainda a reduções, contra 5,24 milhões no ano anterior. Diante disso, as importações brasileiras de trigo, para 2019/20, devem ficar entre 6,5 e 7,5 milhões de toneladas.
A relação estoque/consumo ficaria em 16%, considerada normal para os padrões médios nacionais. Já no Mercosul a produção total deverá atingir a 27,8 milhões de toneladas, ganhando um milhão sobre o ano anterior. As exportações totais somariam 15,4 milhões de toneladas, volume que pode abastecer facilmente as necessidades brasileiras. (cf. Safras & Mercado).
Esta realidade, dependendo do câmbio a ser praticado no Brasil nos próximos meses, pode ser um forte elemento que impeça a elevação dos preços do cereal nacional para além dos níveis praticados neste último ano comercial (balcão entre R$ 40,00 e R$ 41,00/saco no Rio Grande do Sul).
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ.