Para obtenção de boas produtividades de uma lavoura, é preciso que uma série de fatores estejam adequados ao requerimento da cultura. É fundamental garantir um bom manejo fitossanitário, um adequado controle de plantas daninhas, além de condições de fertilidade do solo que supram as necessidades da cultura. Ferramentas como o melhoramento genético, auxiliam no aumento da produtividade das culturas e na resistência genética das cultivares a patógenos e insetos, contudo, fatores primordiais como disponibilidade hídrica, de radiação e nutrientes ainda são fatores que limitam consideravelmente a produtividade das culturas, chegando em alguns casos a comprometer toda a produção.

A disponibilidade hídrica é uma desses fatores e apresenta papel fundamental no desenvolvimento do milho. Segundo BERGAMASHI & MATZENAUER (2009), o estresse hídrico pode causar grande redução no rendimento do milho, principalmente quando a planta é submetida a estresse hídrico no período de espigamento (R1). Os autores ainda destacam que o milho é uma cultura muito sensível ao estresse hídrico ocasionado pela baixa disponibilidade hídrica, fato este que torna a cultura muito vulnerável a estiagens, dificultando seu cultivo em regiões com má distribuição pluviométrica.

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Mas como determinar o requerimento hídrico de uma cultura?

O requerimento hídrico de uma cultura pode ser estimado através do cálculo da evapotranspiração da cultura. A evapotranspiração é a quantidade de água que a cultura transpira e a quantidade de água evaporada pelo solo. Com isso é possível observar em (mm.dia-1) a quantidade de água que a cultura necessita. Segundo ALLEN et al. (1998), a evapotranspiração pode ser calculada através da equação:

Et = Eto. Kc

Onde a Eto é a evapotranspiração de referência e o Kc é o coeficiente de cultura para cada fase do desenvolvimento que a planta se encontra.

Sendo assim, nota-se na figura 1 que há variação dos valores de Kc para o milho de acordo com a fase do desenvolvimento.

Figura 1. Valores de Kc para o milho em diferentes fases do ciclo de desenvolvimento e condições ambientais.

Fonte: ANDRADE et al. (2006).

Conforme destacado por ALLEN et al (1998), o ciclo de desenvolvimento de plantas de milho tem uma duração média de 120-180 dias, e as fases ilustradas na figura 1 correspondem a 17%, 28%, 33% e 22% do total do ciclo de desenvolvimento da cultura.

Com base nisto, há uma variação da evapotranspiração da cultura visto que esta é dependendo dos coeficientes de cultura. Além disso, BERGAMASHI & MATZENAUER (2009), enfatizam que a evapotranspiração da cultura apresenta, variação principalmente nos estádios iniciais do desenvolvimento por não haver o pleno fechamento das entre linhas de cultivo e com isso ocorrer maior evaporação da água no solo. Na tabela 1, são observados os valores de   Evapotranspiração máxima, evapotranspiração de referência, e os coeficientes de cultura em diferentes subperíodos, no ciclo total do milho.

Tabela 1. Evapotranspiração máxima (ETm), evapotranspiração de referência (ETo), calculada pelo método de Penman, e os coeficientes de cultura (Kc) em diferentes subperíodos, no ciclo total do milho. Valores médios diários (mm) para três épocas de semeadura.

Fonte: MATZENAUER, et al. (1998).

Avaliando a evapotranspiração do milho, em experimento com 17 ambientes de cultivo diferentes (ano x época) MATZENAUER, et al. (1998) encontraram resultados médios de evapotranspiração da cultura do milho de 561 mm para o total do ciclo e 4,3 mm.dia-1 para uma população de cultivo de 50.000 plantas.ha-1.

Contudo, cabe destacar que esses valores médios podem variar de acordo com a região de cultivo, população e cultivar. Segundo BERGAMASCHI et al. (2006), o período crítico e mais sensível ao déficit hídrico da cultura do milho varia desde o pendoamento ao início do enchimento de grãos.

A influência do estresse hídrico nestes períodos na cultura do milho fica evidente na tabela 2, onde ANDRADE et al. (2006) demonstram a produtividade de diferentes materiais de milho submetidos a períodos de estresse hídrico no florescimento em comparação a produtividade de materiais que não sofreram estresse e foram submetidos a irrigação.

Tabela 2. Produtividade de milho em condições de estresse hídrico e irrigado.

Fonte: ANDRADE et al. (2006).

 


Na tabela 2, nota-se reduções de produtividade do milho que chegam a alcançar 84%. Com base nos aspectos observados e na sensibilidade da cultura, é imprescindível buscar alternativas de manejo que visem minimizar a perda de produtividade. O uso do zoneamento de risco climático auxilia da diminuição dos riscos, contudo não é suficiente.

Práticas como melhorar a estrutura do solo visando o maior crescimento e desenvolvimento de raízes são fundamentais para proporcionar melhores condições de desenvolvimento para as plantas. Além disso, o planejamento das épocas de cultivo podem auxiliar na diminuição de perdas em períodos curtos de estiagem.


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Referências:

ALLEN, R. G et al. CROP EVAPOTRANSPIRATION. GUIDELINES FOR COMPUTING CROP WATER REQUIREMENTS, FAO IRRIGATION AND DRAINAGE PAPER 5. ROME, Italy: FAO, 300 p. 1998.

ANDRADE, C. L. T. et al. VIABILIDADE E MANEJO DA IRRIGAÇÃO DA CULTURA DO MILHO. Circular Técnica, n.85, Embrapa, 2009.

BERGAMASCHI, H. et al. DEFICIT HÍDRICO E PRODUTIVIDADE NA CULTURA DO MILHO. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.41, n.2, p.243-249, fev. 2006.

BERGAMASHI, H; MATZENAUER, R. AGROMETEOROLOGIA DOS CULTIVOS: O FATOR METEOROLÓGICO NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. INMET, cap. 14, Milho, Brasília, 2009.

MATZENAUER, R. et al. EVAPOTRANSPIRAÇÃO DA CULTURA DO MILHO. I: EFEITO DE ÉPOCAS DE SEMEADURA. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 6, n. 1, p. 9-14, 1998.

MONTEIRO, J. E. B. A. AGROMETEOROLOGIA DOS CULTIVOS: O FATOR METEOROLÓGICO NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. INMET, Brasília, 2009.

Redação: Maurício Siqueira dos Santos – Eng. Agrônomo, equipe Mais Soja.

 

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