Sem dúvidas a deficiência hídrica é uma das principais se não a principal limitante da produtividade da soja. Dependendo da cultivar de soja, o requerimento hídrico durante o ciclo pode chegar a 800 mm. O período reprodutivo de R1 a R6 é a fase crítica, mais sensível da soja ao déficit hídrico.

Estudos demonstram que o volume de água ideal para atender às necessidades da cultura da soja, durante essa fase varia entre 120 mm a 300 mm, bem distribuídos (Monteiro, 2009), e a deficiência hídrica durante esse período pode impactar significativamente a produtividade da soja.

Considerando que o solo é a “caixa d`água” responsável por armazenar e fornecer a água para a soja em sistema de sequeiro (sem irrigação), adotar estratégias que permitam maximizar a infiltração de água para seu armazenamento e posterior disponibilidade para as plantas é essencial para contornar períodos de baixas precipitações.

Vale destacar que a capacidade do solo em armazenar água depende da composição de seus argilominerais e estrutura, sendo que, são os microporos os responsáveis por armazenar água, e não os macroporos. Tal fato demonstra que solos mais argilosos naturalmente possuem maior capacidade de armazenar água do que solos mais arenosos, no entanto, para ambos os tipos de solo, é necessário que a água infiltre em seu perfil para ser armazenada.

Com isso, melhorar as condições físico e químicas do solo é indispensável para aumentar a taxa de infiltração de água no solo. Solos compactados e/ou ácidos tendem a apresentar maior restrição a infiltração natural de água e ao crescimento radicular respectivamente. A formação de raízes e o aprofundamento delas no solo é tão importante para o aumento da taxa de infiltração de água no solo, quando sua descompactação.


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Figura 1. Raíz de braquiária no perfil do solo.
Foto: Lourival Vilela

Plantas com vasto sistema radicular, quando cultivadas em solos quimicamente e fisicamente corrigidos, tendem a contribuir para a melhoria da estrutura do solo e aumenta da taxa de infiltração de água no solo em função da formação de galerias no solo oriundas das raízes decompostas, bem como melhorar a estabilidade dos agregados do solo.

Nesse sentido, o posicionamento de culturas na entressafra da soja pode contribuir para a melhoria estrutural do solo e com ela, o aumento da taxa de infiltração de água e consequentemente aumentar o volume de água infiltrado e armazenado no solo.

Analisando a qualidade estrutural do solo e taxa de infiltração estável influenciadas por culturas de entressafra da soja, Debiasi et al. (2023), observaram que, a sucessão de culturas, quando bem estabelecida, melhora o índice de qualidade estrutural do solo (IQES), bem como a da taxa de infiltração estável (TIE), demonstrando a importante contribuição do cultivo de espécies distintas no período entressafra, em comparação ao pousio.

Figura 2. Taxa de Infiltração Estável (TIE) determinada pelo método do Infiltrômetro de Cornell, conforme o sistema de manejo adotado na área. Londrina. PR, 2020.
*Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste LSD (p ≤ 0,05)
Fonte: Debiasi et al. (2023)

Mesmo com valores significativamente menores em comparação ao melhor tratamento, os resultados obtidos por Debiasi et al. (2023) demonstram que até a sucessão soja/milho, contribui para o aumento da taxa de infiltração de água no solo, em comparação ao sistema soja/pousio, demonstrando a importância do cultivo na entressafra.

Além de contribuir para a melhoria das condições hídricas do solo e estabilidade de agregados, o cultivo de diferentes espécies no sistema de produção, em especial as com vasto sistema radicular e elevado volume de palhada, contribui para a redução das erosões superficiais do solo, reduzindo a perda de solo, sedimentos e nutrientes pelo escoamento superficial.

Nesse sentido, “a velha premissa” de que o solo precisa descansar é uma falsa afirmativa, o solo deve estar ocupado/cultivado na maior parte do tempo possível, com a maior diversidade possível de culturas, possibilitando não só a melhoria das condições estruturais do solo, como também beneficiando a cultura sucessora.

Conforma observado por Debiasi et al. (2023), além de do aumento da taxa de infiltração de água no solo, a sucessão de culturas com diferentes espécies no período entressafra possibilita inclusive o aumento da produtividade da soja em sucessão (tabela 1), demonstrando que, o sistema de pousio não só prejudica o solo, como também a produtividade da cultura sucessora em sistemas agrícolas.
Tabela 1. Produtividade de grãos de soja em diferentes sucessões de culturas em três safras. Londrina, PR.
Fonte: Debiasi et al. (2023)

Veja mais: Produzindo Mais Soja aborda a construção do perfil do solo e exploração eficiente dos nutrientes pelas plantas



Referências:

DEBIASI, H. et al. QUALIDADE ESTRUTURAL DO SOLO E TAXA DE INFILTRAÇÃO ESTÁVEL INFLUENCIADAS POR CULTURAS DE ENTRESSAFRA DA SOJA. Embrapa Soja, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, n. 30, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1152981/1/BPD-30.pdf >, acesso em: 02/07/2024.

MONTEIRO, J. E. B. A. AGROMETEOROLOGIA DOS CULTIVOS: O FATOR METEOROLÓGICO NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. INMET, 2009. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1355291/37056285/Bases+climatol%C3%B3gicas_G.R.CUNHA_Livro_Agrometeorologia+dos+cultivos.pdf/13d616f5-cbd1-7261-b157-351eaa31188d?version=1.0 >, acesso em: 02/07/2024.

 

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