É amplamente reconhecido que a interação entre plantas e microrganismos benéficos ajuda a mitigar os efeitos de estresses ambientais, promovendo a sustentabilidade e a rentabilidade dos cultivos agrícolas. Entre esses microrganismos, destacam-se os fungos micorrízicos, que estabelecem uma simbiose com as plantas por meio da formação de micorrizas.

As micorrizas resultam de uma relação entre organismos de espécies distintas em que ambos são beneficiados: a planta e o fungo. Nessa simbiose, o fungo amplia a superfície de absorção de água e nutrientes minerais pelas raízes, com destaque para o Fósforo. Em contrapartida, a planta fornece ao fungo, parte dos carboidratos produzidos na fotossíntese (Costa, 2024).

Vale destacar que além de melhorar a absorção de nutrientes, as micorrizas desempenham um papel essencial na captação de água, aumentando a tolerância das plantas a períodos de seca. As hifas dos fungos micorrízicos expandem significativamente a área de exploração radicular, permitindo que as plantas acessem camadas mais profundas do perfil do solo, aumentando consequentemente o acesso a água armazenada nessas camadas.

Além disso, essas estruturas contribuem para a agregação do solo, melhorando sua estabilidade, aeração, retenção hídrica. Outro benefício importante é a proteção contra patógenos do solo, pois os fungos micorrízicos competem por espaço e recursos com microrganismos causadores de doenças, além de estimularem mecanismos de defesa da planta, como a indução de resistência sistêmica (Folli-Pereira et al., 2012).

Segundo Hoffmann & Lucena (2006), as micorrizas são classificadas em ectomicorrizas, endomicorrizas e ectoendomicorrizas. Nas ectomicorrizas, o fungo forma um manto ao redor da raiz e cresce entre as células, sem penetrá-las. Já nas endomicorrizas, ele se desenvolve dentro das células radiculares e inclui as micorrizas ericóides e orquidóides, restritas às famílias Ericaceae e Orquidaceae, além das micorrizas arbusculares, presentes em 80% das espécies vegetais. As ectoendomicorrizas combinam características dos dois tipos. Os fungos endomicorrízicos pertencem a 130 espécies da ordem Glomales, do filo Zigomicota.”

Figura 1. Efeitos positivos da colonização micorrízica arbuscular (MA). A rede de hifas dos fungos micorrízicos arbusculares (FMA) estende-se para além da zona de esgotamento (cinzento), acedendo a uma maior área do solo para a absorção de fosfato. Uma zona de depleção de fosfato micorrízico também se formará eventualmente à volta das hifas MA (púrpura). Outros nutrientes que aumentaram a assimilação nas raízes MA incluem o nitrogénio (amónio) e o zinco. Os benefícios da colonização incluem a tolerância a muitos estresses abióticos e bióticos através da indução de resistência sistémica adquirida (SAR).
Adaptado: Jacott; Murray; Ridout (2017)

Os fungos micorrízicos arbusculares (FMA) fornecem água e nutrientes às suas plantas hospedeiras, o que pode resultar em um efeito benéfico no crescimento das plantas, entretanto, as respostas frente ao incremento de produtividade das culturas agrícolas ainda variam de estudo para estudo.

De acordo com Costa (2024), estudos científicos demonstram efeito benéfico dos fungos micorrízicos arbusculares no crescimento e desenvolvimento de plantas de milho, assim como para outras poáceas.

Para a cultura da soja, Miranda & Miranda (2007) observaram que o aumento na densidade da comunidade dos fungos micorrízicos arbusculares por meio da inoculação, em campo, da espécie Glomus etunicatum proporcionou aumento na produtividade da soja, no primeiro ano de cultivo, em dois sistemas de plantio (plantio convencional e plantio direto).

Tabela 1. Produção de grãos de soja e milho, em rotação, no período chuvoso, em um Latossolo Vermelho adubado com 300 kg P2O5 ha-1 na forma de superfosfato triplo e inoculado com Glomus etunicatum, sob plantio convencional (PC) e direto (PD).

Ainda que maiores estudos necessitem ser realizados, em suma, os fungos micorrízicos arbusculares atuam estimulando o crescimento das plantas e aumentando significativamente a absorção de Fósforo, Zinco e Cobre em solos com disponibilidade subótima (Antoniolli & Kaminski, 1991), podendo resultar em incrementos substanciais na produtividade, além de contribuir para o aumento da tolerância das plantas a estresses ambientais.

Em outras palavras, as micorrizas atuam beneficamente, contribuindo para a melhoria da absorção de água e nutrientes do solo pelas raízes, permitindo a planta, explorar um maio volume de solo.

Quer saber mais sobre micorrizas? Clique no Banner abaixo e tenha acesso a um curso completo sobre o tema.

Referências:

ANTONIOLLI, Z. KAMINSKI, J. MYCORRHIZAS. Ciência Rural, 1991. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/cr/a/ZXZ9DjFb9F8hVzwZQfqj8MQ/?lang=pt#:~:text=As%20micorrizas%20s%C3%A3o%20associa%C3%A7%C3%B5es%20entre,tipos%20ecto%2C%20ectoendo%20e%20endomicorrizas. >, acesso em: 03/04/2025.

COSTA, M. M. M. N. MICORRIZAS: DA ASSOCIAÇÃO MUTUALISTICA COM ALGODOEIRO AOS BENEFÍCIOS. Embrapa, Documentos, n. 296, 2024. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1164118/1/MICORRIZAS.pdf >, acesso em: 03/04/2025.

FOLLI-PEREIRA, M. S. et al. MICORRIZA ARBUSCULAR E A TOLERÂNCIA DAS PLANTAS AO ESTRESSE. R. Bras. Ci. Solo, 2012. Disponível em: < https://www.researchgate.net/publication/275635817_Micorriza_arbuscular_e_a_tolerancia_das_plantas_ao_estresse >, acesso em: 03/04/2025.

HOFFMANN, L. V.; LUCENA, V. S. PARA ENDENTEDER MICORRIZAS ARBUSCULARES. Embrapa, Documentos, n. 156, 2006. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/276480/1/DOC156.pdf >, acesso em: 03/04/2025.

JACOTT, C. N.; MURRAY, J. D.; RIDOUT, C. TRADE-OFFS IN ARBUSCULAR MYCORRHIZAL SYMBIOSIS: DISEASE RESISTANCE, GROWTH RESPONSES AND PERSPECTIVES FOR CROP BREEDING. Agronomy 2017. Disponível em: < https://www.mdpi.com/2073-4395/7/4/75# >, acesso em: 03/04/2025.

MIRANDA, J. C. C.; MIRANDA, L. N. CONTRIBUIÇÃO DA MICORRIZA ARBUSCULAR PARA A PRODUTIVIDADE E SUSTENTABILIDADE NOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO COM PLANTIO DIRETO E CONVENCIONAL NO CERRADO. Embrapa, Circular Técnica, n. 134, 2007. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/557814 >, acesso em: 03/04/2025.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.