Os nematoides estão entre as principais pragas da atualidade, representando uma restrição à produção agrícola sustentável, seja a campo ou em sistemas protegidos, podendo gerar desde pequenas perdas até a inviabilização de uma área de cultivo. É estimado que os nematoides consomem cerca de 10% da produção global agrícola, acometendo diversas culturas de interesse, como soja, milho, algodão, laranja, batata, cana-de-açúcar, café e hortaliças, levando a perdas econômicas anuais avaliadas em mais de U$125 bilhões.
Para o desenvolvimento dessa praga, de maneira geral, os solos mais arenosos ou franco- arenosos são mais favoráveis em virtude da maior facilidade de movimentação e migração dos nematoides nesse tipo de solo. Temperaturas acima de 28 °C e umidade também auxiliam no desenvolvimento e proliferação dos nematoides.
Em uma lavoura infestada com nematoides, os primeiros sintomas a serem observados são o baixo vigor e menor desenvolvimento de parte aérea, afetando o sistema radicular, podendo ocorrer clorose nas folhas, o que pode ser confundido com deficiência de nutrientes e estresse hídrico por prejudicar a absorção de água e nutrientes.
Para isso, conhecimento sobre essa praga e a correta identificação no campo é de extrema importância para que se possa tomar medidas de controle eficazes.
Conheça os gêneros de nematoides mais frequentes nas culturas agrícolas:
Os gêneros mais frequentes são:
- Meloidogyne (nematoides das galhas);
- Pratylenchus (nematoide das lesões);
- Heterodera (nematoides de cistos);
- Rotylenchulus (nematoides reniformes);
- Radopholus (nematoide cavernícola).
Dentre esses, segundo os fitossanitaristas, o nematoide de galhas é o mais importante, disperso em vários ambientes em todo o mundo, causando perdas às principais culturas agrícolas, seguido do nematoide de cistos e das lesões e reniformes.
Meloidogyne spp – nematoide das galhas
Os sintomas observados em plantas atacas por esse gênero se caracterizam por aparecerem em reboleiras, sendo que as folhas ficam amareladas e o crescimento da planta é atrofiado.
O ciclo completo de vida do nematoide das galhas se dá em 37 dias. Os jovens penetram nos ápices radiculares e iniciam o desenvolvimento de células gigantes nos tecidos da raiz (as galhas). Por isso, a diferença dos sintomas é no sistema radicular, onde se desenvolvem as galhas. Elas prejudicam o transporte de água e nutrientes.
Figura 1– Dano causado pelo gênero Meloidogyne spp.

Heterodera glycines – nematoide de cisto da soja
Os danos resultam em sintomas visíveis como estresse e deficiências nutricionais, isso se deve em virtude de que as fêmeas adultas e cistos alimentam-se das raízes e nódulos radiculares, atrofiando o crescimento da soja e as folhas ficam cloróticas, podendo ser também chamada de “doença do nanismo amarelo”.
Figura 2– Dano de Heterodera glycines em raízes de soja

Pratylenchus brachyurus – lesões radiculares
Muito presente em culturas de gramíneas, o dano causado por essa praga deixa o sistema radicular da soja parasitada totalmente escurecido e as raízes ficam curtas.
Figura 3: Dano causado por Pratylenchus brachyurus

Rotylenchulus reniformis – reniforme
Os também se assemelham com deficiência nutricional. Ocorrem em qualquer textura de solo, deixando o sistema radicular fica menor, mais fraco e não há formação de galhas. A característica principal para a identificação é a massa de ovos sobre a superfície das radicelas (raízes finas).
Figura 4: Dano de Rotylenchulus reniformis

Após o ataque dos nematoides, a planta pode desenvolver outras doenças radiculares, pois os ferimentos promovidos nas raízes facilitam a infecção por fungos e bactérias presentes no solo.
Os nematoides se dispersam nas áreas de cultivo principalmente por meio de:
- Material propagativo;
- Tráfego de implementos agrícolas;
- Tráfego de animais;
- Tráfego de seres humanos;
- Através do escoamento de água de chuva ou irrigação.
Os engenheiros agrônomos Ricardo Bemfica e Gerusa Pauli Kist Steffen em matéria publicada no Mais Soja, destacaram que é importante conhecer a espécie de nematoide presente na área para se planejar um bom manejo, visto que a utilização de Crotalaria juncea que é recomendada para o manejo de Meloidogyne javanica, é suscetível a M. incognita e a utilização de linhagens de girassol, as quais são utilizadas no manejo de Heterodera glycines, multiplicam espécies de Meloidogyne sp. e Pratylenchus brachyurus. Outras espécies de plantas de cobertura de inverno e de verão podem ser utilizadas, desde que observado o fator de reprodução de cada material.
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Manejo e controle de nematoides
Em entrevista ao Mais Soja, o Engenheiro Agrônomo Renato Guerra destaca que existem seis pilares para amenizar os danos causados por nematoide, e que deve-se entender que a partir da entrada da praga em uma área de cultivo só se consegue reduzir o dano a um nível que a interferência seja menor, não havendo como extingui-los. Dessa forma, o manejo deve ser voltado para que as áreas livres de nematoides não sejam também contaminadas. Esses pilares são:
- Trabalhar com a rotação de culturas para reduzir a população de nematoides, escolher culturas com menor fator de reprodução da espécie de nematoide presente na área;
- Revolvimento do solo em áreas contaminadas, expondo-os à luz e reduzindo a unidade do solo;
- Manutenção da fertilidade do solo, propiciando uma adubação ideal que garanta melhor crescimento e desenvolvimento das culturas, reduzindo assim a ação dos nematoides;
- Utilização de produtos biológicos- fungos e bactérias que sejam inimigos naturais;
- Uso do controle químico no tratamento de sementes ou no sulco, reduzindo o nível de nematoides.
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No entanto, embora o manejo de áreas infestadas com a utilização de produtos químicos represente a realidade em considerável porcentagem dos produtores que buscam alternativas ao controle, há pelo menos dois aspectos a serem observados: 1) possuem efeito residual relativamente baixo, em comparação ao ciclo da cultura; e 2) não são seletivos, ou seja, atuam sobre os fitonematoides, mas também sobre outros organismos do solo.
Dessa forma, a utilização de bioprodutos como trichoderma e Pochonia vêm sendo relatados como importantes ferramentas para o manejo de nematoides em áreas infestadas.
Uso de Trichoderma e Pochonia
O uso de Trichoderma spp. na supressão de fitonematoides está relacionada ao efeito de antibiose, parasitismo e competição do fungo Trichoderma spp. com os fitonematoides. Aliado a ação do Trichoderma sp. como estimulador do crescimento vegetal e pela produção de diversas enzimas e compostos benéficos que dá condições para a planta se desenvolver e expressar seu potencial produtivo em ambientes infestados.
Aliado ao Trichoderma também pode-se destacar produtos à base de Bacillus spp., que atuam por antibiose e, ocasionalmente, por parasitismo e competição, também aumenta a fixação biológica de nitrogênio, solubilização de nutrientes, síntese de fitormônios e melhora as condições do solo.
No entanto, embora esses agentes biológicos ocupem posição de destaque no momento de escolha de um bioproduto para manejo de áreas infestadas com fitonematoides, pesquisas demonstram que os agentes Paecilomyces lilacinus, Pausteria penetrans e Pochonia chlamydosporia possuem potencial de controle de fitonematoides superior aos demais pois atuam diretamente na diminuição da eclosão dos ovos do nematoide e na redução da fertilidade das fêmeas.
Pochonia chlamydosporia é um fungo que parasita e mata ovos e fêmeas de nematoides. Sua eficiência se dá em virtude de controlar os nematoides ainda em sua fase de ovos, reduzindo sua população. Existem produtos comerciais no mercado, como o Rizotec, desenvolvido através do trabalho colaborativo entre a Universidade Federal de Viçosa e o Instituto de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária (Bioagro) à base de Pochonia chlamydosporia.
Na tabela 1 abaixo, tem-se o estudo realizado por Costa, 2015 onde diferentes fungos foram testados no controle de nematoides antes e depois da eclosão dos ovos.
Na tabela 2 pode-se observar o fator de reprodução dos nematoides do gênero Meloidogyne, Heterodera e Pratylenchus nas culturas do algodão, soja e milho em estudo de Costa, 2015.
Neste trabalho, os três isolados fúngicos foram eficientes no controle biológico de M. incognita em algodão e Heterodera glycines em soja. No entanta, o isolado de Pochonia chlamydosporia foi o que apresentou melhor resultado para controle de Pratylenchus brachyurus em milho.
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Na tabela a seguir tem-se o resultado do estudo realizado por Fernandez et al., 2015, onde pode-se observar que o uso de Pochonia no tratamento de sementes também influenciou para que o tomateiro desenvolvesse maior parte aérea.
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Dessa forma, pode-se destacar que o controle de nematoides se dá a partir da ação conjunta das práticas aqui citadas que contribuem para a redução desses organismos no solo. Uma vez infestada a lavoura, o manejo deve ser voltado para que a população se reduza e, em áreas ainda não infestadas, deve-se evitar ao máximo que os nematoides entrem na lavoura.
Redação: Andréia Procedi – Equipe Mais Soja.
Foto De Capa: Edna Sharon Æ Ilan Chet Æ Ada Viterbo Æ Meira Bar-Eyal Æ Harel Nagan Æ Gary J. Samuels Æ Yitzhak Spiegel publicada no artigo Parasitism of Trichoderma on Meloidogyne javanica
and role of the gelatinous matrix que pode ser acessado clicando aqui.
Boa tarde muitos produtores não se atentam para a importância de mapear as áreas onde ja à ocorrência desses patógenos, e/ ou não consegui posicionar variedades resistente o ao menos tolerantes a esses patógenos aumentando a nível de população do referido na área, ainda que quando realizar preparo de solo não efetuar a descontaminação dos implementos e acabam levando o patógenos para áreas novas. Dificultando o controle.