As espécies do gênero Amaranthus são reconhecidas por apresentarem alta prolificidade, rápido crescimento inicial, ampla adaptabilidade e alta eficiência fotossintética. Essas características lhes conferem boa capacidade competitiva, o que dificulta seu manejo, devido aos altos níveis de infestações em que ocorrem. O gênero Amaranthus possui cerca de 60 espécies no mundo, encontradas principalmente em regiões tropicais e subtropicais (Penckowski et al., 2020). Espécies do gênero Amaranthus, conhecidas popularmente como caruru, são encontradas comumente nas áreas de produção de grãos em todo o mundo (Gazziero & Silva, 2017).
De acordo com a Embrapa, o caruru-roxo (Amaranthus hybridus L.) é uma espécie originária da América Tropical. Trata-se de uma planta herbácea, de crescimento ereto e coloração avermelhada, cuja altura varia entre 20 cm e 2 m. O caruru-roxo é anual e sua reprodução ocorre por meio das sementes, podendo ser encontrada em todas as regiões do Brasil.
Figura 1. Caruru (Amaranthus hybridus L.)
Carvalho (2006), destaca que as plantas do gênero Amaranthus são espécies com ciclo fotossintético do tipo C4. Isso lhes confere uma vantagem em termos de eficiência na produção de carboidratos, além de uma maior capacidade de competir por recursos essenciais, como água, luz e nutrientes, principalmente quando comparadas com culturas com mecanismo fotossintético C3, como a soja, o feijão e o algodão.
Conforme destacam Penckowski et al. (2020), o A. hybridus tem a capacidade de produzir de 200 a 600 mil sementes por planta. A dispersão de suas sementes ocorre através de vários meios, incluindo máquinas agrícolas, canais de irrigação, insumos, esterco animal, pássaros, mamíferos, e até mesmo através de culturas de coberturas.
Figura 2. Sementes de caruru.
Carvalho & Cristoffoleti (2007), afirmam os carurus respondem diretamente aos efeitos da luz e temperatura na germinação, as maiores taxas e velocidade de germinação ocorrem sob condições de fotoperíodo com alternância de temperatura (8 horas de luz a 30°C / 16 horas de escuro a 20°C). A palhada tem potencial em reduzir até 60% a emergência de plântulas de caruru (Lamego et al., 2021).
Recomenda-se que antes do início da safra de verão seja realizada a dessecação pré-semeadura nas áreas de cultivo. Essa prática permite que as plantas possam se estabelecer sem a competição de plantas daninhas pelos recursos essenciais. De acordo com Borsato et al. (2022), nos meses de maio a julho há baixo fluxo de emergência de A. hybridus, em contrapartida, o pico de emergência ocorre nos meses de setembro e outubro, estendendo-se entre dezembro e fevereiro.
Os autores afirmam que a utilização de herbicidas residuais durante a fase de pré-emergência da soja representa uma estratégia para o controle eficiente do caruru, especialmente os herbicidas inibidores da PROTOX e inibidores da síntese de ácidos graxos de cadeia longa. No entanto, os autores ressaltam que, após um período de aproximadamente 30 a 45 dias, o efeito residual desses herbicidas diminui, possibilitando a emergência de novas plantas a partir de sementes presentes no banco de sementes, cujo fluxo de emergência se mantém.
Com isso, torna-se necessário o controle em pós -emergência, os resultados mais eficiente de controle do caruru-roxo são observados quando realizado durante os estádios iniciais de desenvolvimento das plantas invasoras, quando estas possuem até 4 folhas. Diante disso, recomenda-se que o controle seja realizado nessa período para garantir a máxima eficiência de controle.
Figura 3. Estádio limite recomendado para o controle de caruru Amaranthus sp. em pós emergência.
No mundo, já foram relatados 33 casos de resistência em Amaranthius hybridus em 13 países. Na América do Sul, há casos relatados em cinco países, Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai (Heap, 2023). De acordo com Heap (2023), em 2018 ocorreu na cultura da soja no Brasil, a primeira resistência múltipla a 2 locais de ação, aos inibidores da ALS (enzima acetolactato sintase) e inibidores da EPSP’s (Inibição da Enolpiruvil Shiquimato Fosfato Sintase).
Ao analisar o impacto de A. hybridus no cultivo da soja, uma pesquisa realizada por Zandoná et al. (2022) contatou que os componentes de produtividade da soja são afetados pela competição por recursos essenciais, resultando na redução da produção final da soja. De acordo com os resultados obtidos, os pesquisadores afirmam que apenas uma planta m-2 de A. hybridus, pode resultar em um redução na produtividade variando entre 4,47% e 8,32%, além disso, as perdas de produtividade aumentam conforme aumenta a densidade populacional da planta daninha. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que apenas uma planta de A. hybridus por m-2 com múltiplas resistência aos herbicidas inibidores de EPSPs e ALS pode reduzir em média 6,4% a produtividade de grãos de soja.
Nicolai et al. (2021), destacam sobre a importância do monitoramento de plantas daninhas resistentes. É de extrema importância observar a presença de escapes e reboleiras de plantas, a detecção precoce de casos de resistência permite a elaboração e implementação de estratégias de manejo mais eficazes e de forma sustentável ao sistema de produção.
A implementação de estratégias de manejo integradas torna-se fundamental em áreas de cultivo para previr a propagação do caruru-roxo, além do uso de herbicidas, diversas práticas podem ser adotadas para mitigar a presença dessa planta daninha e reduzir seus impactos negativos nas plantações. Evitar a produção e dispersão de novas sementes, é essencial, assim, é possível reduzir a o banco de sementes no solo, que poderia dar origem a novas infestações.
Além disso, manter a limpeza das máquinas agrícolas é importante para prevenir a propagação das sementes em diferente áreas de cultivo, as sementes podem se instalar no maquinário e serem transportadas para outras áreas, contribuindo para a disseminação da planta daninha. Outro passo importante é a aquisição de sementes de qualidade, com garantia de pureza e isentas de sementes de plantas invasoras. O manejo durante a entressafra também é crucial, o uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação ajuda a evitar a seleção de populações resistentes.
Deve-se ainda evitar o monocultivo, diversificação de culturas é uma estratégia para dificultar o estabelecimento do caruru, além disso, introduzir plantas de cobertura no sistema de produção além de contribuir para melhorias do solo, pode suprimir o crescimento do caruru através da palhada deixada no solo. Assim, fica evidente que a integração de diversas estratégias de manejo pode contribuir para reduzir as populações de caruru na lavoura e permitir que a planta cultivada cresça e se desenvolva sem a interferência que possam causar prejuízos à produção.
Veja mais: Manejo de Azevém (Lolium multiflorum) no Trigo
Referencias:
BORSATO; E. F. et al. Amaranthus hybridus COMO ESTÁ O CONTROLE DESSA PLANTA DANINHA NA SUA LAVOURA? Revista Fundação ABC, Herbologia, ed. 50, p. 24-25, 2022. Disponível em: < https://fundacaoabc.org/wp-content/uploads/2022/09/202209revista-pdf.pdf >, acesso em: 23/08/2023.
CARVALHO, S. J. P. CARACTERISTICAS BIOLÓGICAS E SESCETIBILIDADE A HERBICIDAS DE CINCO ESPÉCIES DE PLANTAS DANINHAS DO GENERO Amaranthus. Dissertação de Mestrado, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba – SP, 2006. Disponível em: < https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11136/tde-07032007-141229/publico/SaulCarvalho.pdf >, acesso em: 23/08/2023.
CARVALHO, S. J. P.; CHRISTOFFOLETI, P. J. INFLUÊNCIA DA LUZ E DA TEMPERATURA NA GERMINAÇÃO DE CINCO ESPÉCIES DE PLANTAS DANINHAS DO GÊNERO Amaranthus. Bragantia, v. 66, n. 4, p. 527-533, 2007. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/brag/a/SzLdWpwXzWSsdSJKLjWsfHN/# >, acesso em: 23/08/2023.
EMBRAPA. CARURU-ROXO, CARURU (Amaranthus hybridus L.). Panorama Fitossanitário Cultura do Milho, Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas – MG. Disponível em: < http://panorama.cnpms.embrapa.br/plantas-daninhas/identificacao/folhas-largas/caruru-roxo-caruru-amaranthus-hybridus-l >, acesso em: 23/08/2023.
GAZZIERO, D. L. P.; SILVA, A. F. CARACTERIZAÇÃO E MANEJO DE Amaranthus palmeri. Documentos 384, Embrapa Soja. Londrina – PR, 2017. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/159778/1/Doc-384-OL.pdf >, acesso em: 23/08/2023.
HEAP, I. THE INTERNATIONAL HERBICIDE-RESISTANT WEED DATABASE, 2023. Disponível em: < http://www.weedscience.org/Pages/Case.aspx?ResistID=18184 >, acesso em: 23/08/2023.
LAMEGO, F. P. et al. CARURU RESISTENTE. Revista Cultivar, p. 14-17, 2021. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1134394/1/Caruru-resistente.pdf >, acesso em: 23/08/2023.
NICOLAI, M. et al. IDENTIFICAÇÃO E CONTROLE DE Amaranthus palmeri E Amaranthus hybridus. HRAC-BR, Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, 2021.
PENCKOWSKI, L. H. et al. ALERTA! CRESCE O NÚMERO DE LAVOURAS COM Amaranthus hybridus RESISTENTE AO HERBICIDA GLIFOSATO NO SUL DO BRASIL O PRIMEIRO PASSO É SABER IDENTIFICAR ESSA ESPÉCIE! Revista FABC, 2020. Disponível em: < https://www.upherb.com.br/ebook/REVISTA-Fabc.pdf >, acesso em: 23/08/2023.
ZANDONÁ, R. R. et al. ECONOMIC THRESHOLD OF SMOOTH PIGWEED ESCAPED FROM A HERBICIDE PROGRAM IN ROUNDUP READY® SOYBEAN. Adv Weed Sci. 2022. Disponível em: < https://awsjournal.org/wp-content/uploads/articles_xml/2675-9462-aws-40-spe2-e20210011/2675-9462-aws-40-spe2-e20210011.pdf >, acesso em: 23/08/2023.
Acompanhe nosso site, siga nossas mídias sociais (Site, Facebook, Instagram, Linkedin, Canal no YouTube)
Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.