Em meio à estagnação nas decisões comerciais, à queda persistente dos preços e ao colapso da rentabilidade, o mercado brasileiro de arroz mergulha em uma fase de tensão crescente e incerteza generalizada que atinge todos os elos da cadeia produtiva. A constatação é do analista e consultor de Safras & Mercado, Evandro Oliveira.
A colheita já foi tecnicamente encerrada no Rio Grande do Sul — principal estado produtor. “Mas, ao contrário de anos anteriores, o setor permanece paralisado, à espera de sinais que possam redefinir o rumo da temporada”, pondera o analista.
Do lado do produtor, os preços atuais são insuficientes para cobrir os elevados custos de produção, que vêm crescendo continuamente. “Isso está gerando um cenário crítico de descasamento entre receita e despesa, pressionando margens e ampliando o endividamento”, explica.
O resultado imediato é o desestímulo ao cultivo na próxima temporada, com potencial retração de área e aumento da dependência de arroz importado — movimento que já preocupa agentes da cadeia.
“A indústria, por sua vez, também opera no limite”, lembra o consultor. Com margens comprimidas pela dificuldade de repassar preços ao varejo e despesas crescentes com logística, embalagem e operação, há pressão generalizada em manter competitividade e abastecimento. “Isso gera um ambiente de risco estrutural para as empresas que, mesmo sem fôlego financeiro, são obrigadas a garantir o produto nas gôndolas — muitas vezes a custos não sustentáveis”, completa.
No varejo, o arroz perde espaço: ocupa grande área de prateleira com retorno financeiro baixo, além de ser um item com pouco giro e alta competição de preço. “O resultado é a redução do interesse das redes, menor presença do produto, pulverização de marcas e substituição por categorias de maior rentabilidade”, lamenta.
A média da saca de 50 quilos de arroz no Rio Grande do Sul (58/62% de grãos inteiros, pagamento à vista) encerrou o dia 5 em R$ 70,83, queda de 3,24% em relação à semana anterior. Na comparação com o mesmo período do mês passado, o recuo era de 7,71%. Em relação a 2024, a desvalorização atingia 41,50%.
Fonte: Rodrigo Ramos/ Agência Safras News