Com o advento do sistema plantio direto (SPD) na década de 70, o Sul do Brasil que sofria as árduas consequências das erosões superficiais, passou a ser protagonista no manejo conservacionista do solo. Com atributos que possibilitam reduzir as perdas de solo por escoamento superficial, bem como reduzir os danos causados por chuvas torrenciais, uma das premissas básicas do SPD é a cobertura permanente do solo.

Em função das condições de solo, características físicas e estruturais, lavouras consolidadas no plantio convencional (com revolvimento do solo), mesmo com a adoção de terraços são frequentemente acometidas pela influência das chuvas, resultando em significativas erosões superficiais, especialmente em áreas com relevo acentuado.

Figura 1. Efeito do escoamento superficial intenso em lavoura de sistema convencional.

Fonte: Comunicação Social – Sistema FAEP/SENAR-PR

Além dos danos físicos, implicando na formação de caminhos preferenciais de escoamento, podendo evoluir para voçorocas; os danos quando o escoamento superficial ocorre na implantação da lavoura e/ou estádios iniciais do desenvolvimento da cultura, podem resultar inclusive na redução do estande de plantas dependendo da intensidade das chuvas. A predisposição das áreas ao escoamento superficial varia em função das características físicas do solo, bem como declividade do terreno e intensidade da chuva.

Alguns solos são mais suscetíveis ao processo erosão hídrica, considerando a situação topográfica, ou relevo da paisagem, e as condições climáticas às quais estão submetidos. Os níveis de suscetibilidade dos solos à erosão são representados em cinco classes nominais de intensidade: muito baixa; baixa; média; alta e muito alta (Gregio, 2020).

Figura 2. Mapa de suscetibilidade dos solos à erosão hídrica do Brasil.

Fonte: Gregio (2020) – Embrapa

Como uma alternativa para mitigar os efeitos do escoamento superficial causado pela erosão hídrica, a palhada na cobertura do solo, proporcionada pelo SPD, possibilita reduzir a energia cinética da gota da chuva, reduzindo sua ação sobre o solo, promovendo ainda, maior infiltração de água e evitando a formação de crostas superficiais com baixa capacidade de infiltração de água (Tiecher, 2016).

Conforme destacado por Oliveira et al. (2012), o escoamento superficial em áreas de lavoura ocasionado pela erosão hídrica também é responsável por ocasionar perda de solo, nutrientes e água do sistema de produção. Avaliando as perdas e custos associados à erosão hídrica em função de taxas de cobertura do solo, Dechen et al. (2015) observaram que, quando maior o percentual de cobertura do solo, menores as perdas de água, solo, matéria orgânica e nutrientes.

Os autores avaliaram diferentes taxas de cobertura do solo (0%, 24%, 40% e 90%), determinando após as chuvas, os teores de matéria orgânica (MO), P, K+, Ca2+, Mg2+, Cu2+, Fe3+, Mn2+ e Zn2+. Além da perda de água, para estimar os custos das perdas dos nutrientes, com base nas perdas de P, K+, Ca2+ e Mg2+, os teores desses nutrientes na água da enxurrada e na terra carreada pela erosão foram somados e convertidos em fertilizantes comerciais.

Conforme resultados obtidos, o solo com 90% de cobertura, em comparação àquele com 0%, reduziu as perdas médias de água em 51,97%, de solo em 54,44% e de matéria orgânica em 54,91%. Em solo sem cobertura, foram estimadas perdas de 16% de P2O5 e 8% de KCl em relação à quantidade de fertilizantes recomendada (Dechen et al., 2015).

Embora os valores de custo estejam desatualizados em função da inflação atual e do preço do dólar, os resultados obtidos por Dechen e colaboradores em 2015 demonstram que os custos foram superiores no solo descoberto, variando de US$ 107,76 ha–1 ano–1 no solo com 0% de cobertura a US$ 18,15 ha–1 ano–1 no solo com 90% de cobertura. A partir desses valores, a estimativa era que em 2015, o Brasil já apresentasse perdas de 616,5 milhões de toneladas de solo ao ano, decorrentes do processo de erosão do solo em lavouras anuais, e custos da ordem de US$ 1,3 bilhão ao ano.

Considerando a oscilação e o aumento dos preços dos insumos, em especial dos fertilizantes, é provável que os custos relacionados as perdas de fertilizantes em áreas agrícolas pelo escoamento superficial sejam ainda maiores, tornando necessário adotar medidas de manejo que possibilitam reduzir essas perdas.



Além do adequado posicionamento das culturas, bem como da sistematização das áreas de cultivo, utilizando ferramentas como terraços, microbacias e canais vegetados quando necessário; a conservação do solo também está relacionada a rotação de culturas, em especial a diversificação de espécies. Além de rotacionar culturas de interesse comercial, o emprego de plantas de cobertura nos períodos entressafra das culturas principais é uma das principais e mais eficientes estratégias para mitigar os efeitos do escoamento superficial e da erosão hídrica.

Além de proporcionar cobertura vegetal para o solo, reduzindo o impacto e efeito da gota da chuva sobre o solo, algumas culturas de cobertura apresentam a capacidade de ciclar e/ou fixar nutrientes. A partir do processo simbiótico com bactérias fixadoras de nitrogênio, as plantas da família Fabaceae fixam o nitrogênio atmosférico. Esse nitrogênio é aproveita por essas plantas, e após sua morte, degradação e mineralização dos resíduos culturais, esse nutriente passa a ficar disponível no solo para a cultura sucessora, contribuindo inclusive para a redução do custo com adubação nitrogenada.

Além disso, por possuir vasto sistema radicular, algumas espécies a exemplo do nabo-forrageiro são capazes de ciclar os nutrientes do solo, absorvendo nutrientes das camadas mais profundas e disponibilizando-os nas camadas superficiais após degradação e mineralizações dos resíduos culturais. Não menos importante, a taxa de cobertura do solo e persistência da palhada residual são extremamente importantes ao definir a cultura de cobertura.

Em áreas com menor capacidade de resistir à erosão provocada pela água, o cultivo de culturas de cobertura como grande produção de biomassa e elevada taxa de cobertura do solo, é essencial para reduzir as perdas de solo e nutrientes pela erosão superficial. Sobretudo, além da parte área de cultura de cobertura, deve-se avaliar sua capacidade em formar raízes. Espécies com vasto sistema radicular contribuem para a melhoria da estrutura do solo, teor de matéria orgânica e aumento da taxa de infiltração de água no solo, possibilitando não só a melhoria estrutural do solo, como também o aumento da infiltração de água e consequentemente disponibilidade hídrica.

A partir do mapa de erodibilidade dos solos, é possível identificar a capacidade do solo de resistir á erosão provocada pela água. O Mapa leva em consideração características como a composição granulométrica, estrutura, conteúdo de carbono orgânico na camada superficial, permeabilidade, profundidade efetiva do solo e a presença ou ausência de camada compactada e pedregosidade.

Figura 3. Mapa de erodibilidade dos solos do Brasil.

Fonte: Gregio (2020) – Embrapa

Conforme observado na figura 3, a capacidade dos solos em resistir a erosão hídrica varia em função das características de solo, sendo assim, não há meios de generalizar o manejo e conservação do solo, sendo necessário analisar caso a casos para determinar quais as melhores práticas de manejo a serem adotadas, contudo, é consenso que a cobertura do solo é indispensável para reduzir as perdas de solo, água e nutrientes nas lavouras brasileiras.


Veja mais: Solos Arenosos – Desafios e manejo



Referências:

DECHEN, S. C. F. et al. Perdas e custos associados à erosão hídrica em função de taxas de cobertura do solo. Bragantia, Campinas, v. 74, n. 2, p.224-233, 2015. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/brag/a/nCjy5nDxcp4tDGwhx6CbjHp/?format=pdf&lang=pt#:~:text=A%20partir%20desses%20valores%2C%20estimaram,1%2C3%20bilh%C3%A3o%20ao%20ano. >, acesso em: 28/06/2023.

GREGIO, F. PESQUISADORES GERAM MAPAS DE SUSCETIBILIDADE E VULNERABILIDADE DOS SOLOS BRASILEIROS À EROSÃO HÍDRICA. Embrapa, News, 2020. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/58207136/pesquisadores-geram-mapas-de-suscetibilidade-e-vulnerabilidade-dos-solos-brasileiros-a-erosao-hidrica >, acesso em: 28/06/2023.

OLIVEIRA, J. G. R. et al. EROSÃO NO PLANTIO DIRETO: PERDA DE SOLO, ÁGUA E NUTRIENTES. Bol. geogr., Maringá, v. 30, n. 3, p. 91-98, 2012. Disponível em: < https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/BolGeogr/article/download/17644/9666/#:~:text=O%20plantio%20direto%20%C3%A9%20uma,contribuam%20para%20diminui%C3%A7%C3%A3o%20da%20enxurrada. >, acesso em: 28/06/2023.

SENAR. Pesquisas quantificam prejuízos causados no solo pela erosão hídrica. SENAR Paraná, Notícias, 2021. Disponível em: < https://www.cnabrasil.org.br/noticias/pesquisas-quantificam-prejuizos-causados-no-solo-pela-erosao-hidrica >, acesso em: 28/06/2023.

TIECHER, T. MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM PEQUENAS PROPRIEDADE RURAIS NO SUL DO BRASIL: PRÁTICAS ALTERNATICAS DE MANEJO VISANDO A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA. UFRGS, 2016.

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